Batuíra, o apóstolo do Espiritismo na capital paulista, instalara
o seu grupo de estudo e caridade na Rua do Lavapés, quando numa reunião social
foi abordado pelo Dr. Cesário Motta, grande médico e higienista, então Deputado Federal, com residência no Rio.
Conversa vai, conversa vem, disse-lhe o Dr. Cesário ao pé do
ouvido:
– Você, meu amigo, precisa precaver-se. Não sou espírita, mas
admiro-lhe a sinceridade. E tenho ouvido lamentáveis opiniões a seu respeito.
Dizem por aí que você adota o nome de médium para explorar a bolsa pública; que
você está rico de tanto enganar incautos e dizem também que você se isola com
mulheres, em gabinetes, para seduzi-las, em nome da prece. Tudo calúnias, bem
sei...
– E que sugere o senhor? – perguntou o amigo, sereno.
– É importante que você se abstenha do Espiritismo...
– Mas, doutor – falou Batuíra, com humildade –, o senhor é médico
e tem sido o nosso protetor na extinção da febre amarela e da varíola em São
Paulo... Já vi o senhor tocar as feridas de muita gente... Enfermos para quem
pedi seu amparo, receberam a sua melhor atenção, embora vomitassem lama em
forma de sangue... Nunca vi o senhor desanimar... Pelo fato de o senhor
encontrar tanta podridão nos corpos, poderia desistir da medicina?
O Dr. Cesário sorriu, satisfeito, e falou:
– Sim, sim... Não seria possível... Você tem razão... Esquecia-me
de que há podridão também nas almas...
E, batendo nos ombros do velho amigo, encerrou a questão,
afirmando, alegre:
– Vamos continuar...
Do livro Almas em desfile, obra psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.
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