Roteiro
Emmanuel
1
O
Homem ante a Vida
No
crepúsculo da civilização em que rumamos para a alvorada de novos milênios, o
homem que amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da inteligência comum e
acorda, dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe incendeiam o coração.
Donde viemos?
Onde a estação de nossos destinos?
À
margem da senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos ídolos
mentirosos que adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam à alma
enfermiça, o anseio da vida superior lhe agita os recessos do ser, qual
braseiro vivo do ideal, sob a espessa camada de cinzas do desencanto.
Recorre
à sabedoria e examina o microcosmo em que sonha.
Reconhece
a estreiteza do círculo em que respira.
Observa
as dimensões diminutas do Lar Cósmico em que se desenvolve.
Descobre
que o Sol, sustentáculo de sua apagada residência planetária, tem um volume de
1.300.000 vezes maior que o dela.
Aprende
que a Lua, insignificante satélite do seu domicílio, dista mais de 380.000
quilômetros do mundo que lhe serve de berço.
Os
Planetas vizinhos evolucionam muito longe, no espaço imenso.
Dentre
eles, destaca-se Marte, distante de nós cerca de 56.000.000 de quilômetros na
época de sua maior aproximação.
Alongando
as perquirições, além do nosso Sol, analisa outros centros de vida.
Sírius
ofusca-lhe a grandeza.
Pólux,
a imponente estrela dos Gêmeos, eclipsa-o em majestade.
Capela
é 5.800 vezes maior.
Antares
apresenta o volume de 113 milhões maior.
Canópus
tem um brilho oitenta mil vezes superior ao do Sol.
Deslumbrado,
apercebe-se de que não existe vácuo, de que a vida é patrimônio da gota d’água,
tanto quanto é a essência dos incomensuráveis sistemas siderais, e, assombrado
ante o esplendor do Universo, o homem que empreende a laboriosa tarefa do
descobrimento de si mesmo volta-se para o chão a que se imanta e pede ao amor
que responda à soberania cósmica, dentro da mesma nota de grandeza; todavia, o
amor no ambiente em que ele vive é ainda qual planta milagrosa em tenro
desabrochar.
Confinado
ao reduzido agrupamento consanguíneo a que se ajusta ou compondo a equipe de
interesses passageiros a que provisoriamente se enquadra, sofre a inquietação
do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor. Não sabe dar sem receber, não consegue
ajudar sem reclamar e, criando o choque da exigência para os outros, recolhe
dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com
raras possibilidades de auxiliar e auxiliar-se.
Viu
a Majestade Divina nos Céus e identifica em si mesmo a pobreza infinita da
Terra.
Tem
o cérebro inflamado de glória e o coração invadido de sombra.
Orgulha-se,
ante os espetáculos magnificentes do Alto e padece a miséria de baixo.
Deseja
comunicar aos outros quanto apreendeu e sentiu na contemplação da vida
ilimitada, mas não encontra ouvidos que o entendam.
Repara
que o Amor, na Terra, é ainda a alegria dos oásis fechados.
E,
partindo os elos que o prendem à estreita família do mundo, o homem que
desperta, para a grandeza da Criação, deambula na Terra, à maneira do viajante
incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a sentir-se grão
infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais.
Nesse
homem, porém, alarga-se a acústica da alma e, embora os sofrimentos que o
afligem, é sobre ele que as Inteligências Superiores estão edificando os
fundamentos espirituais da Nova Humanidade.
Nota:
O livro Roteiro, psicografado pelo médium Chico Xavier, foi publicado
inicialmente pela editora da FEB em 1952.
To
read in English, click here: ENGLISH |
Nenhum comentário:
Postar um comentário