Revista Espírita de 1869
Allan Kardec
Parte 8 e final
Concluímos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1869, periódico editado e dirigido por Allan Kardec.
O estudo foi baseado na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1869 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que foi apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Com a desencarnação de Kardec, quem assumiu a
presidência da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas?
B. Que frase se destaca no dólmen erguido no túmulo de
Kardec?
C. Os desencarnados conservam no Espaço suas simpatias e
seus hábitos terrenos?
Texto para leitura
72. Em face da desencarnação de Kardec, a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas nomeou como membros de sua diretoria para o
período 1869–1870 os srs. Levent, Malet, Canaguier, Ravan, Desliens, Delanne e
Tailleur, incumbindo a presidência ao sr. Malet, que era, segundo o sr. Levent,
o candidato de preferência de Kardec. Se não houvesse ocorrido o seu
falecimento, Kardec aceitaria tão-somente a presidência honorária da Sociedade
– pelo menos é isto que foi dito aos confrades pelo sr. Levent. A posse do novo presidente, cujo discurso foi
transcrito no número de maio, ocorreu no dia 9-4-1869. (Págs. 146 a 152)
73. Desejando contribuir para a realização dos planos
elaborados por seu marido, a sra. Allan Kardec, única proprietária legal das
obras e da Revista, decidiu: I – Doar anualmente à Caixa Geral do Espiritismo o
excedente dos lucros provenientes da venda dos livros espíritas e das
assinaturas da Revista Espírita, isto é, das operações da Livraria Espírita. II
– Colocar a Revista à disposição da publicação dos artigos que a Comissão
Central julgar úteis à causa espírita, com a condição expressa de serem eles
previamente sancionados pela proprietária e a Comissão de Redação. A Sociedade
Espírita de Paris, em sua sessão de 16 de abril, aplaudiu por unanimidade as
decisões da viúva. (Págs. 152 e 153)
74. A Revista reproduz carta que o sr. Guilbert,
presidente da Sociedade Espírita de Rouen, enviou no dia 14-4-1869 à Sociedade
Espírita de Paris. Na missiva, os confrades de Rouen deram uma mostra do seu
apreço pelo trabalho realizado em Paris, contribuindo com mil francos para a
Caixa Geral do Espiritismo, que, segundo eles, necessitaria do concurso moral e
material de todos os espíritas. (Págs. 153 e 154)
75. O número de maio de 1869 se encerra com a transcrição
de uma comunicação recebida do Espírito de Allan Kardec em abril de 1869 na
Sociedade Espírita de Paris e três avisos. O primeiro diz respeito à Livraria
Espírita, cujo catálogo das obras ali expostas seria enviado a todas as pessoas
que o pedissem. O segundo comunica que foram inúmeros os testemunhos de
simpatia recebidos pela sra. Allan Kardec das várias partes da França e do
estrangeiro, em razão do passamento do Codificador do Espiritismo. A sra. Amélie
Boudet aproveitou a oportunidade para agradecer e expressar a todos seus
sentimentos de reconhecimento. O derradeiro aviso reitera a informação já
divulgada na edição de abril de que o escritório de assinaturas e expedição da Revista
Espírita fora transferido para a sede da Livraria Espírita, na rua de Lille, no
7, onde funcionava também a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. (Págs.
154 a 157)
76. Na edição de junho de 1869, além do artigo intitulado
“O caminho da vida”, escrito por Kardec, mais tarde incluído no livro Obras
Póstumas (11ª edição da editora da FEB, págs. 170 a 175), a Revista
transcreve outra comunicação recebida do Espírito de Allan Kardec e duas notas
relacionadas com o Codificador. (Págs. 159 a 176)
77. A primeira trata do dólmen que vários integrantes da
Sociedade Espírita de Paris e outros confrades decidiram erguer no túmulo de
Kardec, para que ficasse consagrado por um monumento imperecível o lugar onde
repousariam os seus restos mortais. O monumento, por alusão aos antigos druidas,
se comporia de duas pedras de granito bruto, erectas, encimadas por uma
terceira posta sobre as duas primeiras. Na face inferior da pedra superior
seria gravado o nome Allan Kardec, com esta epígrafe: “Todo efeito tem uma
causa; todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; a potência da causa
inteligente está na razão da grandeza do efeito”. (N.R.: O dólmen foi afinal
erguido e tem sido visitado por muita gente no cemitério Père-Lachaise, em
Paris; contudo, além da frase citada, posta na parte central do monumento,
figura na pedra superior uma frase bem conhecida: “Nascer, morrer, renascer
ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”, cuja autoria é atribuída por alguns
aos espíritas do interior da França.) (Págs. 173 e 174)
78. A segunda nota evoca a ideia de Kardec a respeito de
um museu onde fossem reunidos as primeiras obras de arte espírita, os trabalhos
mediúnicos mais notáveis e os retratos dos adeptos mais devotados, para
informar ao público que seis dos quadros citados pelo Codificador poderiam –
até que fosse adquirido um local apropriado – ser apreciados na residência da
sra. Allan Kardec, todas as quartas-feiras, das 14 às 16 horas. Seu autor, o
sr. Monvoisin, tinha ainda em suas mãos os dois outros quadros referidos por
Kardec e que ele havia generosamente doado para integrar o acervo do citado
Museu. (Págs. 174 a 176)
79. Embora nada tenha a ver com os trabalhos da lavra de
Kardec, é digna de registro a nota publicada pela Revista em outubro de 1869
sobre o surgimento do primeiro jornal espírita do Brasil, “O Echo d’Além
Túmulo”, fundado e dirigido por Luiz Olympio Telles de Menezes, em Salvador-BA.
Na edição de dezembro do mesmo ano, a Revista enaltece a iniciativa e a coragem
dos responsáveis pelo periódico, como se pode ver no trecho seguinte: “O Echo
d’Além Túmulo aparece seis vezes por ano, em cadernos de 56 páginas in-4o., sob
a direção do Sr. Luiz Olympio Telles de Menezes, ao qual nos apressamos
imediatamente a endereçar vivas felicitações, pela iniciativa corajosa de que
nos dá prova. É necessário, com efeito, uma grande coragem, a coragem da
opinião, para lançar num país refratário como o Brasil um órgão destinado a
popularizar os nossos ensinamentos". O autor dessa nota jamais imaginou
que o Brasil, tão refratário ao Espiritismo em 1869, se tornaria no século
seguinte o maior país espírita do mundo. (Págs. 199 e 200)
80. São sete as comunicações transmitidas por Allan
Kardec (Espírito) que figuram na Revista Espírita de 1869. A 1a. comunicação
ocorreu em abril de 1869 (págs. 154 a 156). A 2a. mensagem, psicografada a
30-4-1869, diz que o exemplo é o mais poderoso agente de propagação (págs. 179
e 180). A 3a. foi transmitida em 20-6-1869 e tem por título “A regeneração”
(págs. 191 e 192). A 4a., datada de 14-9-1869, intitula-se “O Espiritismo e a
literatura contemporânea” (págs. 192 a 194). A 5a., intitulada “O Espiritismo e
o espiritualismo”, foi recebida também em 14-9-1869, na casa de Anne Blackwell (págs. 194 e 195).
A 6a. comunicação, dada a 21-9-1869, tem por título “Os aniversários” (págs.
195 a 197). A 7a. e última, recebida em novembro de 1869, trata do tema “Os
desertores”, mesmo assunto que Kardec desenvolveu quando encarnado em um artigo
que integra o livro “Obras Póstumas” (págs. 197 a 199).
81. Das sete mensagens atribuídas ao Espírito de Allan
Kardec extraímos, de forma resumida, os conceitos e observações que se seguem:
I – Não basta querer hoje, amanhã, depois de amanhã: para ser digno da Doutrina
é preciso querer sempre. A vontade que age por impulsos não é mais vontade: é
capricho no bem; mas quando a vontade se exerce com a calma que nada perturba,
com a perseverança que nada detém, eis aí a verdadeira vontade, inquebrantável
em sua ação, frutuosa em seus resultados (pág. 155). II – Sede confiantes em
vossas forças: elas produzirão grandes efeitos se as empregardes com prudência;
sede confiantes na força da ideia que vos une, pois ela é indestrutível.
Pode-se ativar ou retardar o seu desenvolvimento, mas é impossível detê-la
(pág. 155). III – Nossos trabalhos como Espíritos são muito mais extensos do
que podeis supor e os instrumentos de nossos pensamentos nem sempre estão
disponíveis (pág. 179). IV – O que vos aconselho antes de mais nada é a
tolerância, a afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para os
incrédulos (pág. 180). V – As brochuras, os jornais, os livros, as publicações
de toda a espécie são meios poderosos de introduzir a luz por toda a parte, mas
o mais seguro, o mais íntimo e o mais acessível a todos é o exemplo da caridade,
a doçura e o amor (pág. 180). VI – As Humanidades são todas chamadas a se
unirem e a se identificarem na perfeição, pois todas partem da ignorância e da
inconsciência de si mesmas e avançam indefinidamente para um mesmo objetivo:
Deus, para atingirem a felicidade suprema pelo conhecimento do amor (pág. 191).
VII – Tal como a terra, que se modifica pela cultura e pelos tratos que recebe,
e ainda pelos cataclismos periódicos que sobre ela se abatem, as Humanidades se
transformam e progridem pelo estudo perseverante e pela permuta de pensamentos;
mas os cataclismos morais que regenerem o pensamento são necessários para
determinar a aceitação de certas verdades (pág. 191). VIII – É necessária uma
conjugação imensa de esforços para que novos princípios sejam aceitos. Assim
também, para avançar, o homem tem de quebrar as cadeias que o prendem ao
pelourinho do passado através do hábito, da rotina e dos preconceitos (págs.
191 e 192). IX – Na Terra, o passado e o futuro são os dois braços de uma
alavanca que tem no presente o seu ponto de apoio. Enquanto a rotina e os
preconceitos dominam, o passado está no apogeu. Quando a luz se faz, a alavanca
se move e o passado que já escurecia desaparece, para dar lugar ao futuro que
alvorece (pág. 192). X – O Espiritismo é, de sua própria natureza, modesto e
pouco rumoroso. Existe pelo poder da verdade e não pelo barulho feito em seu
redor por adversários e partidários (págs. 192 e 193). XI – Utopia ou sonho de
uma imaginação desordenada, após um breve sucesso ele teria desaparecido sob a
conspiração do silêncio, ou do ridículo, que, segundo se pretende, tudo
aniquila em França. Mas o silêncio só destrói as obras sem consistência e o
ridículo só mata o que é mortal (pág. 193). XII – Alguém é materialista,
católico ou livre-pensador por sua vontade ou sua convicção, mas basta existir
para ser espírita ou estar sujeito ao Espiritismo. Pensar, refletir, viver são
realmente atos espíritas, e isto prontamente se justifica após alguns minutos
de exame por aqueles que admitem uma alma, um corpo e um intermediário entre
essa alma e esse corpo (pág. 193). XIII – Admitir esses três princípios
constitutivos do ser humano é admitir uma das bases fundamentais da Doutrina, é
ser espírita ou pelo menos ter um ponto de contato com o Espiritismo, uma
crença comum com os espíritas (pág. 193). XIV – Os Espíritos conservam no
Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos. Os Espíritos dos americanos
mortos são ainda americanos, como os desencarnados que viveram na França são
ainda franceses do Espaço. Daí as diferenças dos ensinos em alguns centros
(pág. 195). XV – (Dirigindo-se a Anne Blackwell) Traduzi as minhas obras! Só se
conhecem na América os argumentos contra a reencarnação. Quando as
demonstrações em favor desse princípio ali se tornarem populares, o Espiritismo
e o Espiritualismo não tardarão a se confundir e se tornarão, por sua fusão, na
Filosofia natural adotada por todos (pág. 195). XVI – A glória dos
conquistadores se extingue com a fumaça do sangue que eles derramaram, com o
esquecimento das lágrimas que fizeram correr. A dos regeneradores aumenta sem
cessar, porque o espírito humano, engrandecendo-se, recolhe as folhas esparsas
em que estão inscritos os atos gloriosos desses homens de bem (pág. 197). XVII
– Se é justo censurar os que tentaram explorar o Espiritismo ou desnaturá-lo,
quanto mais culpáveis são os que, não contentes de abandoná-lo, se puserem a
combatê-lo! É sobretudo para os desertores dessa categoria que precisamos
apelar à misericórdia divina (pág. 198).
Respostas às
questões propostas
A. Com a desencarnação de Kardec, quem assumiu a
presidência da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas?
Foram nomeados pela Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas como membros de sua diretoria para o período 1869–1870 os srs.
Levent, Malet, Canaguier, Ravan, Desliens, Delanne e Tailleur, incumbindo a
presidência ao Sr. Malet, que era, segundo o Sr. Levent, o candidato de
preferência de Kardec. A posse do novo presidente, cujo discurso foi transcrito
no número de maio, ocorreu no dia 9-4-1869. (Revista Espírita de 1869,
pp. 146 a 152.)
B. Que frase se destaca no dólmen erguido no túmulo de
Kardec?
O dólmen, por alusão aos antigos druidas, compõe-se de
duas pedras de granito bruto, erectas, encimadas por uma terceira posta sobre
as duas primeiras. Na face inferior da pedra superior foi gravado o nome Allan
Kardec, com esta epígrafe: “Todo efeito tem uma causa; todo efeito inteligente
tem uma causa inteligente; a potência da causa inteligente está na razão da
grandeza do efeito”. Mas foi posta ali uma frase bem conhecida: “Nascer,
morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”, cuja autoria é
atribuída por alguns aos espíritas do interior da França. (Obra citada, pp. 173
e 174.)
C. Os desencarnados conservam no
Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos?
Sim. Os Espíritos
os conservam, de modo que os Espíritos dos americanos mortos são ainda
americanos, como os desencarnados que viveram na França são ainda franceses do
Espaço. Daí as diferenças dos ensinos obtidos em alguns centros conforme o país
em que se situam. (Obra citada, pág. 195.)
Observação:
Para acessar a parte 7 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/07/revista-espirita-de-1869-allan-kardec_0472250902.html
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