Roteiro
Emmanuel
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Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.
Tais enunciados, porém, não encontram
guarida nos fundamentos da verdade.
O
Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.
A
visão mais segura do Universo e a mais alta concepção da justiça dilatam na
mente a sede de libertação, para mais altos voos do espírito, e a compreensão
mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade, estabelece
sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de interesse para o
campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas que transcendem a
experiência vulgar.
Realmente,
para quem estima os padrões convencionalistas, com plena adaptação ao menor
esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos domínios da fé, porque
os desvairamentos da personalidade invariavelmente nos espreitam, tentando-nos
a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de ser.
Dentro
da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo de
cristalização dogmática ou de tirania intelectual.
A
imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro espiritual do
aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera comum.
As
inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em torno de
núcleos de força, que as influenciam e sustentam.
O
panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nosso ideal, atrai o cérebro e
o coração para outros poderes, e a criatura encarnada, imperceptivelmente
induzida a operar em serviços diferentes, parece desajustada e sedenta, à
procura de valores efetivamente importantes para os seus destinos na vida
eterna.
As
escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos de
estabilidade econômica, habitualmente gravitam em derredor da riqueza perecível
ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela ideia de domínio e
influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união, de vez que a maioria
dos Espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz, reúnem-se e obedecem
alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre os mais fracos.
Mas
no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o estandarte
nivelador da convenção. Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam
a escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina
Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.
Aceita
as facilidades humanas — para dar com largueza e desprendimento da posse.
Disputa
o contentamento de trabalhar — para servir.
Busca
a liberdade — para submeter-se às obrigações que lhe cabem.
Adquire
luz — para ajudar na extinção das trevas.
“Está
no mundo sem ser do mundo.”
É
alguém que, em negando a si mesmo, busca o Mestre da Verdade, recebendo, de boa
vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de ressurreição.
E
demorando-se cada discípulo em esfera variada de trabalho, observamos que eles
todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima — cada qual
contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra, — oferecem o
espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas entre si, porquanto
os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos mesmos quadros de cada
dia, com a repetição das mesmas nuances de claridade solar, não conseguem
esquecer, de improviso, as velhas atitudes de muito tempo e nem podem entender
o roteiro dos que se desinteressam da ilusão, caminhando, em sentido contrário
ao deles, ao encontro de outra luz.
Nota:
O livro Roteiro, psicografado pelo médium Chico Xavier, foi publicado
inicialmente pela editora da FEB em 1952.
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