Roteiro
Emmanuel
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Quase todos os que se abeiram das atividades espíritas estimariam o desenvolvimento rápido das faculdades psíquicas de que são portadores e, por vezes, quando não atendidos, padecem nocivo arrefecimento de ideal.
Esmaece o fervor dos primeiros contatos com a fé, porque
o propósito fixo de surpreenderem o milagre transforma-se neles em aflitiva
obsessão.
Contudo, há singularidades no
assunto, que não podemos menosprezar.
Que
seria da ordem e do equilíbrio dos serviços terrestres, se a totalidade das
criaturas, instruídas ou não, se pusessem a investigar quanto à vida nos outros
mundos?
Toda
colheita exige preparação e sementeira. Imaginemos um avião moderno,
perfeitamente equipado, sobrevoando pacífico vilarejo do século XIV, sem aviso
prévio. Que lucraria a ciência náutica, de imediato, senão espalhar o terror?
Que recompensa adviria, em nosso favor, se constrangêssemos uma taba indígena a
ouvir um concerto de Paganini, sem oferecer-lhe os rudimentos da educação musical?
O
progresso, como a luz, precisa graduar-se para não ferir ou cegar as pupilas
que o contemplam.
Compreendamos,
acima de tudo, que a existência não é fenômeno que se articule à revelia dos
Grandes Responsáveis da Evolução.
A
liberdade do homem ainda está longe de atingir os princípios cósmicos que nos
presidem os destinos.
A
inteligência humana interferirá nos domínios da matéria densa, alterando o que
pode ver; todavia, jaz extremamente distante das regiões do Espírito puro, onde
se guarda o controle das leis universais.
Desdobrando
novos painéis da vida, diante da mente sequiosa de conhecimento e renovação,
não é o mundo espiritual que deve descer para o homem e sim o homem que precisa
elevar-se ao encontro dele. E semelhante ascensão não será simples serviço da
mediunidade espetacular. É obra de sublimação interior, gradativa e constante,
sobre os alicerces do bem, ao alcance de todos.
As
portas do tesouro psíquico estão vigiadas com segurança. A direção de uma
central elétrica não pode ser confiada às frágeis mãos de um menino.
Como
conferir, de improviso, ao primeiro candidato à prosperidade mediúnica a chave
dos interesses fundamentais e particulares de milhões de almas, colocadas nos
mais variados Planos da escada evolutiva?
Naturalmente
que as grandes responsabilidades não são inacessíveis, mas a criança precisa
crescer para integrar-se em serviços complexos; e o colaborador iniciante, em
qualquer realização, necessita do tempo e do esforço a fim de converter-se em
auxiliar prestimoso.
Nos
problemas de intercâmbio com a Esfera Superior, desse modo, antes do progresso
medianímico, há que considerar o aprimoramento da personalidade para melhor
ajustar-se à obra de perfeição geral.
O
grande rio, sem leito adequado, ao invés de correr, beneficiando a paisagem,
encharca o solo, transformando-o em pântano letal. A ponte quebradiça não
suporta a passagem das máquinas de grande porte.
A
mediunidade, como recurso de influenciar para o bem, não se manifesta sem
instrumento próprio.
Só
o grande amor pode compreender as necessidades de todos. Só a grande boa
vontade pode trabalhar e aprender incessantemente para servir sem distinção.
Antes
de nos mediunizarmos, amemos e eduquemo-nos. Somente assim receberemos das
ordenações de Mais Alto o verdadeiro poder de ajudar.
[1]
O Livro dos Médiuns, 200-218.
Nota:
O livro Roteiro, psicografado pelo médium Chico Xavier, foi publicado
inicialmente pela editora da FEB em 1952.
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