quarta-feira, 5 de junho de 2013

Caminhos do Amor

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De Goiânia-GO

Deus é Amor, e se revela, anonimamente, em nossas vidas: ora numa circunstância aparentemente banal, ora em momentos graves. Aqui, num poema; ali, na página esmeradamente grafada; além, numa conversa entreouvida, num lugar qualquer.
Sempre à disposição, o Amor de Deus nos encontra e alevanta, quando a dor bate à porta; ou quando, a alma em festa, nos traz a alegria no convívio de corações amados, compartilhando momentos felizes.
E porque nos sabe crianças espirituais, socorre-nos ainda quando trazemos a rebeldia no coração, por fraqueza, ou por nele abrigar uma fé ainda minúscula; enfim, porque ainda não aprendemos a somar as bênçãos que nos chegam, a todo momento, pelos mais diversos caminhos.
E Ele, então, nesses instantes fundamentais, nos dá testemunhos de Sua amorável presença, abrindo-nos os olhos, a mente, o entendimento, para que aprendamos a senti-Lo, a amá-Lo e a buscá-Lo.

*

Há alguns anos, num leito de Hospital, com úlcera a atormentá-lo, aquele homem se desesperava. A dor era atroz, e maior ainda a sua impaciência. Sua cama era a mais próxima da janela. Pensou em se atirar por ela, acabando com tudo. Era uma altura considerável, de três ou quatro andares.
Naquele tempo, ainda materialista, não via outra solução. A vida não lhe ensinara ainda lições de fé. No seu desespero, a ideia de saltar para a morte, cometendo suicídio, era, segundo entendia, a melhor saída. Hoje sabe que essa é porta para mais intensos sofrimentos.
Hoje vê soluções na vida, na coragem de enfrentar dificuldades e superá-las, com paciência, fé e resignação. Mas, à época, naquela circunstância dolorosa, não via outro meio. Nem se lembrou de Deus, da família, dos deveres que o aguardavam pela vida afora...
Um rádio de pilha, mesmo ligado, não era ouvido, pois que lhe soava como um zumbido a zunir-lhe, monotonamente, nos ouvidos cansados. Contudo, numa voz pausada, serena e amiga, um padre iniciou seu programa diário, com mensagens de alento, de esperança e fé, pelas ondas da Rádio Difusora de Goiânia. Era o bom Padre Faria.
Naquele dia, falava de um seminarista de menos de vinte anos que se achava preso ao leito de dor, com câncer, não obstante em plena juventude. E lia a carta que o jovem escrevera à irmã. Nela, relembrava sua vida, sua constante alegria, suas esperanças, sua fé, e das coisas boas que realizara. E, mesmo sabendo que Deus o chamava, a Ele era grato por tudo que lhe concedera e lhe permitira fazer ou sonhar.
Dizia ainda de seu imenso amor à irmã. Registrava ali quanto a amava. Não queria partir, sem antes agradecer-lhe pelo carinho que dela recebera, sem lhe dizer de sua ternura e esperanças...
Que não sofresse com suas dores, pois que se sentia feliz, por se saber criatura muito amada de Deus. Não sabia por que sofria, mas confiava no Pai, que é Amor e Justiça. E a Ele se entregava confiantemente. Que a irmã fizesse o mesmo, ainda quando houvesse ele finado de vez, em lenta agonia. Pedia-lhe perdão por não lhe expressar tudo o mais que lhe ia n’alma. Faltavam-lhe forças às mãos trêmulas... Mas era feliz e a amava, que bem se lembrasse disso...

*

Nosso amigo, ouvindo a narração, esqueceu a própria dor e – avaliando sua imensa fraqueza – pensou na família, na filhinha ainda pequena, que tanto necessitava dele, de seu apoio, de seu carinho, de sua presença.
Reagindo, baniu da mente os pensamentos malsãos, renovado pela mensagem de paz e confiança daquele jovem que, em condições piores, não se deixava abater. A dor não o impedia de amar, nem de pensar em Deus. No leito de morte, revelou compreensão de Deus e do Amor, despertando nosso amigo para o valor da vida, encorajando-o para suportar o sofrimento passageiro.
Enchendo-se, também ele, de coragem e fé, superou a doença e, duas décadas após, ali estava, a relembrar, com gratidão, aquele fato e o bem recebido, pelas ondas anônimas do rádio, vindas pelo ar, falando de Deus, do Amor, da Esperança.
É assim o verdadeiro Amor.
Às vezes, segue por inesperados e insondáveis caminhos, mas nos encontra, sempre, quando a misericórdia do Pai se apieda de nossas fraquezas!
Inusitados, mas certeiros, Seus insondáveis desígnios, que sempre nos amparam com sua mensagem de Vida e de Paz!



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