Esquife do sonho
Antônio Torres
Tive um Sonho de Amor
e de Inocência,
Cheio de luz das
coisas invulgares,
Do qual perdi a
luminosa essência
Na cristalização dos
meus pesares.
Tarde reconheci minha
falência,
Terminados os
múltiplos azares
De minha quase inútil
existência,
No silêncio das
cinzas tumulares.
E da Morte, no abismo
indefinido,
Tombei exausto,
amargurado e cego,
Abismo tenebroso que eu transponho.
Infeliz do meu ser
irredimido,
Pois triste e atordoado
inda carrego
O negro esquife do
meu próprio sonho.
Antônio Torres nasceu em Diamantina (MG) em 1885 e faleceu
em 1934 na cidade de Hamburgo, como cônsul adjunto do Brasil. Ordenou-se
sacerdote, mas abandonou mais tarde a profissão eclesiástica. Foi poeta e
escritor. O soneto acima integra o Parnaso
de Além-Túmulo, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier.
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