quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Anotações sobre a prece


A prece ou a oração – o nome é indiferente – nada mais é que uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. As preces feitas a Deus – ensina o Espiritismo - são escutadas pelos Espíritos incumbidos da execução de suas vontades. As que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus.
Jesus definiu com precisão as qualidades da prece. “Quando orardes, disse ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades, e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau.”
Quando dirigimos o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som, porquanto o fluido, que inunda o espaço, é o veículo do pensamento. É em virtude desse fato que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida e é assim que se comunicam entre si e nos transmitem suas ideias e inspirações.
Por meio da prece, o homem obtém o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe ideias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária para vencer as dificuldades e volver ao caminho reto, se deste se afastou. E é também por essa via que ele pode desviar de si os males que atrairia por suas próprias faltas.
Fato curioso revelado pelo Espiritismo é que a prece produz resultados mesmo quando é dirigida a alguém que não tem condições de atendê-la. Em seu livro Entre a Terra e o Céu, André Luiz narra no cap. II, pp. 13 a 17, um interessante fato que ilustra o que dissemos.
Atendendo a um pedido que veio da Crosta, Clarêncio examinava um pequeno gráfico que uma auxiliar do Templo do Socorro lhe entregou e, exibindo o documento que trazia nas mãos, explicou: "Temos aqui uma oração comovedora que superou as linhas vibratórias comuns do plano de matéria mais densa. Parte de uma devotada servidora que se ausentou de nossa cidade espiritual, há precisamente quinze anos terrestres, para determinadas tarefas na reencarnação".
Evelina era o nome da jovem cuja reencarnação fora garantida pelos Instrutores de "Nosso Lar". Ela rogava à sua mãe desencarnada, Odila, ajuda para um caso de perturbação espiritual em seu lar, sem saber que a causadora da perturbação era a própria mãe.
Sua insistência na rogativa foi, porém, tanta, que as preces, quebrando a direção, chegaram até à Colônia. Como a mãe não poderia ajudá-la, a súplica da jovem, desferida em elevada frequência, varou os círculos inferiores e buscou o apoio que não lhe faltará jamais.
Clarêncio deu à prece de Evelina o curioso nome de oração refratada, ou seja, desviada do seu curso para que chegasse a alguém em condições de atendê-la, fato que demonstra a bondade do Criador, que tudo faz para que nós sejamos felizes, conquanto nem sempre tenhamos capacidade de entendê-lo.
De todas as preces conhecidas dos cristãos, a mais completa é, sem contestação, a Oração Dominical, conhecida também pelo nome de Pai Nosso. Allan Kardec a indicou expressamente, respondendo a um leitor, como devendo ser a prece de todos os dias, na hora em que nos levantamos da cama e na hora em que buscamos o leito para dormir.
A recomendação de Kardec pode ser encontrada na Revista Espírita de agosto de 1864, no mesmo artigo em que ele sugere a prática do que hoje conhecemos pelo nome de Evangelho no Lar.
Eis as palavras textuais do Codificador: “Uma vez por semana, por exemplo, no domingo, pode-se a isto (oração) consagrar um tempo mais longo, e dizer todas, quer em particular, quer em comum, se houver lugar; a isto acrescentar a leitura de algumas passagens do Evangelho segundo o Espiritismo e a de algumas boas instruções, ditadas pelos Espíritos”. (Revista Espírita de 1864, Edicel, p. 234.)





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