JORGE
LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
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De Brasília-DF
Eram da mesma família
felina. O primeiro chamava-se Abdul; a segunda, Aimee. Desencarnados, ambos conversavam
sobre a influência dos pensamentos em nossas vidas.
Dizia a gata Aimee
para o filho:
— Cria minha, o
pensamento é quase tudo em nossas vidas. Ele nos permite criações maravilhosas,
mas também tenebrosas. As mentes que se alimentam de ideias nefastas, ligadas
ao sexo deseducado, ao ódio, aos crimes hediondos e vícios torpes, ao
desencarnarem vão direto para as zonas trevosas. Lugar triste e ermo.
— O que é feito de
meu felino pai, mamãe? Ele faleceu há vinte anos e, como estou aqui há apenas
dez, nunca tive notícias dele.
— Amore mio... Como
você sabe, seu pai foi um engenheiro renomado, no mundo físico, que construiu
belos arranha-céus, na Terra, mas arranhou também duas gatas, ligadas às zonas
trevosas de nossa dimensão, embora aparentasse ser um pai de família exemplar e
frequentasse a missa aos domingos. Quando desencarnou, as gatas também já
libertas do corpo físico o esperavam para continuar enredando-o nas malhas da
paixão inconsequente. Atormentam-se
os três até hoje. Now they are lost in the threshold umbral.
— E como se chamam
essas gatas assanhadas, mamma?
— A loira chama-se
Zypp; a morena, Cher.
— Não tem como
livrá-lo de tais influências nocivas, mother?
— O problema é de
vibração, meu gatinho, eu o visito muitas vezes, mas ele não identifica minha
presença. Zypp e Cher sempre o retiram das minhas influências e o arrastam para
as zonas sombrias, onde se enroscam, há anos, num novelo de lã negra, do qual
não se conseguem soltar.
— Miau! E como
faremos para libertá-lo dessa escatológica fascinação, maman?
— Somente quando Juan
aderir mentalmente, pelo remorso e desejo sincero de se libertar dos fluidos
mentais funestos, poderei exercer influência sobre ele e libertá-lo das garras
dessas gatas sensuais.
— Então, mamãe, vamos
miar por ele, mas não nos esqueçamos também delas.
— É verdade, meu
filho, miaremos igualmente por nossas inimigas, a fim de que sejam iluminados,
pois, segundo Augusto dos Anjos,
Se devassássemos os labirintos
Dos eternos princípios
embrionários,
A cadeia de impulsos e de
instintos,
Rudimentos dos seres planetários;
[...]
No profundo silêncio dos inermes,
Inferiores e rudimentares,
Nos rochedos, nas plantas e nos
vermes,
A mesma luz dos corpos estelares!
É que, dos invisíveis
microcosmos,
Ao monólito enorme das idades,
Tudo é clarão da evolução do
cosmos,
Imensidade das imensidades!
Nós já fomos os germes doutras
eras,
Enjaulados no cárcere das lutas,
Viemos do princípio das moneras,
Buscando as perfeições absolutas.
(1)
— Mas então, Augusto,
você quer dizer que nós, os gatos, ainda seremos humanos?
— Exatamente, Abdul,
mas não como imagina. Precisarão, antes, passar por um processo depuratório, no
princípio inteligente universal, para, só então, com o acréscimo do pensamento
contínuo, virarem humanos.
— Se é assim, agradeço,
mas prefiro continuar felino.
— Assim dizem os
brutos, mas não se esqueça de que mesmo os ignorantes, ainda que involuntários,
terão de responder pelas marcas dos seus gatos. Continue, então, miando pelo
seu pai... Quem sabe um dia...
— E quem são os
brutos, nós, ou vocês, que fazem churrasquinho de gato, assistem às rinhas de
galos e de cães, aos gritos ferozes que mais parecem urros de feras que de
humanos, enquanto nos dilaceramos para seu gáudio?
— É verdade, sob esse
prisma, ainda somos mais animais do que vocês... Mie por nós, gatinho!
(1)
XAVIER, F. C. Parnaso de
além-túmulo. Pelo Espírito Augusto dos Anjos. Brasília: FEB.
Evolução.
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