segunda-feira, 16 de junho de 2014

As mais lindas canções que ouvi (92)


O meu guri

Chico Buarque


Quando, seu moço,
Nasceu meu rebento,
Não era o momento
Dele rebentar.
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Pra lhe dar.
Como fui levando,
Não sei lhe explicar.
Fui assim levando,
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá...
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente,
Traz sempre um presente
Pra me encabular.
Tanta corrente de ouro,
Seu moço!
Que haja pescoço
Pra enfiar...
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro:
Chave, caderneta,
Terço e patuá,
Um lenço e uma penca
De documentos
Pra finalmente
Eu me identificar.
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento,
Pulseira, cimento,
Relógio, pneu, gravador,
Rezo até ele chegar
Cá no alto,
Essa onda de assaltos
Tá um horror.
Eu consolo ele,
Ele me consola,
Boto ele no colo
Pra ele me ninar,
De repente acordo,
Olho pro lado,
E o danado já foi trabalhar,
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado,
Manchete, retrato
Com venda nos olhos,
Legenda e as iniciais.
Eu não entendo essa gente,
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais.
O guri no mato,
Acho que tá rindo,
Acho que tá lindo
De papo pro ar.
Desde o começo eu não disse,
Seu moço!
Ele disse que chegava lá...
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri!... (3 vezes)


Você pode ouvir a canção acima, na voz de um dos intérpretes abaixo, clicando no link respectivo:


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