JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Bom
dia, amigo leitor. Quero aproveitar este domingo seco e ensolarado de Brasília
para lhe dar uma auspiciosa notícia. Morreu há poucos dias, no dia 4 de
novembro, o filósofo francês René Girard, criador da mimese(1) na
representação da "origem da violência humana que desestrutura e
reestrutura as sociedades", e da teoria do "bode expiatório"
como justificativa da violência, presente no estudo literário do sagrado.
Ainda
não pude entrevistá-lo, pois ele ainda está naquela fase de "confusão
espiritual" que antecede o ingresso do lado de cá, e isso o deixa
temporariamente um tanto quanto perturbado... É o que sucede com 99% da
humanidade terrena, quando desencarna. De qualquer modo, essa confusão mental
ainda é bem mais amena do que a do retorno do espírito à vida física, a qual só
se completa aos sete anos, conforme dizem os psicólogos.
A
essa altura você deve estar se perguntando: Será que o Machado ficou louco? Um
filósofo morre e ele diz que isso é motivo de regozijo espiritual... louco...
somente um louco para escrever ou falar uma coisa assim...
E
eu me justifico com as palavras do Cristo: "Deixai aos mortos o cuidado de
enterrar os seus mortos". O que morre é somente o corpo físico, a alma
segue para o Além em seu corpo espiritual, como diz Paulo de Tarso: "Semeia-se
corpo material, ressuscita-se corpo espiritual". Para vocês, a morte do
corpo é algo triste e lamentável; para nós, porém, é uma forma de libertação,
pois a vida real é a que ocorre no mundo das ideias, como já entrevira Platão.
Então, por que lamentar os chamados mortos? Comemoremos sua libertação desse
presídio chamado matéria e o ingresso na vida do espírito.
Do
que foi dito, não se deve deduzir que você deve desprezar a vida física e
desejar a "morte", meu caro leitor. A vida física, ou encarnação, tem
uma finalidade nobre, que é nos tornar perfeitos, passo a passo. Por isso disse
Jesus: "Sede perfeitos". Quanto melhor a encarnação for aproveitada,
mais estaremos contribuindo na construção de um mundo mais feliz para todos.
Até mesmo devido a que voltaremos à carne num tempo que pode ser de imediato ou
de séculos (KARDEC, A. O livro dos espíritos, questão 223). Afinal, "Se
séculos de séculos são menos que um segundo relativamente à eternidade, que vem
a ser a duração da vida humana?!" (KARDEC, A. A gênese, cap. VI, item 2).
Enquanto a volta ao corpo físico não ocorre, os que estamos deste lado
interagimos com os que estão desse lado sem violentar o livre-arbítrio de
ninguém.
Para
nós, mais importante do que estar aqui ou aí é o espírito, que é imortal,
esforçar-se sempre em evoluir, pois é nisso que está a verdadeira felicidade.
Para concluir, leia o que diz o sábio de Lion:
O
homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na
Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de
todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas
vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A
morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo
todas as suas afeições e esperanças.
O
homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas
paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A
moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo
bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por
sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem. (Kardec, A.. O livro dos
espíritos, comentários à questão 941).
Então, amigo leitor, melhor do que viver como os animais, pelo instinto, "morrendo de medo de morrer", é viver plenamente consciente de que a vida é sempre bela, onde quer que estejamos, se buscarmos sempre seu objetivo maior, segundo Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” Mas não se esqueça, nossos maiores inimigos chamam-se egoísmo e orgulho; nossos melhores aliados são o amor e a humildade. É nisso que está a felicidade!
Estamos
preparando uma grande festa para recebermos René Girard... quem
"morrer" verá.
(1) Mimese, do grego
mímesis, 'imitação': figura que consiste no uso do discurso direto e
principalmente na imitação do gesto, voz e palavras de outrem. Em literatura: imitação
ou representação do real na arte literária, ou seja, a recriação da realidade.
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o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
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