É bem conhecida a observação feita por Jesus
de que não devemos colocar a candeia debaixo do alqueire.
Certa vez, antes de uma palestra sobre esse
tema, presentes muitas pessoas de instrução mediana, o orador procedeu a uma
ligeira enquete e descobriu que a maioria das pessoas que ali se encontravam
não sabia o significado da palavra candeia(1) e menos ainda da
palavra alqueire(2). O desconhecimento é, no caso, perfeitamente
justificável, porque são palavras que as pessoas raramente utilizam e poucos
palestrantes têm o cuidado de explicá-las.
A frase dita por Jesus nós a encontramos no
seguinte trecho do Evangelho segundo
Mateus, que faz parte do conhecido Sermão da Montanha:
“Vós sois a luz do
mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende
a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que
estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam
as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus, 5:14-16.)
Comentando o tema, Allan Kardec inseriu em
sua obra duas informações que vale a pena destacar, dada a sua importância:
O poder de Deus se
manifesta nas mais pequeninas coisas, como nas maiores. Ele não põe a luz
debaixo do alqueire, por isso que a derrama em ondas por toda a parte, de tal
sorte que só cegos não a veem. (O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, item 9.)
Dá-se com os homens,
em geral, o que se dá em particular com os indivíduos. As gerações têm sua
infância, sua juventude e sua maturidade. Cada coisa tem de vir na época
própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina. Mas, o que a
prudência manda calar, momentaneamente, cedo ou tarde será descoberto, porque,
chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a
luz viva; pesa-lhes a obscuridade. Tendo-lhes Deus outorgado a inteligência para
compreenderem e se guiarem por entre as coisas da Terra e do céu, eles tratam
de raciocinar sobre sua fé. É então que não se deve pôr a candeia debaixo do
alqueire, visto que, sem a luz da razão, desfalece a fé. (Obra citada, cap. XXIV, item 4.)
O tema diz respeito, como é fácil
compreender, à necessidade de divulgação das verdades que, ensinadas por Jesus
ou pelo Espiritismo, podem concorrer para o aprimoramento moral das pessoas e,
por consequência, do mundo em que vivemos.
Num texto intitulado “Socorro oportuno”,
psicografado por Francisco Cândido Xavier e constante do livro Estude e Viva, Emmanuel referiu-se de
modo explícito ao assunto:
“Sensibiliza-te
diante do irmão positivamente obsidiado e esmera-te em ofertar-lhe o
esclarecimento salvador com que a Doutrina Espírita te favorece.
Bendito seja o
impulso que te leva a socorrer semelhante doente da alma; entretanto, reflete
nos outros, os que se encontram nas últimas trincheiras da resistência ao desequilíbrio
espiritual.
Por um alienado que
se candidata às terapias do manicômio, centenas de fronteiriços da obsessão
renteiam contigo na experiência cotidiana. Desambientados num mundo que ainda
não dispõe de recursos que lhes aliviem o íntimo atormentado, esperam por algo
que lhes pacifiquem as energias, à maneira de viajores tresmalhados nas trevas,
suspirando por um raio de luz... Marchavam resguardados na honestidade e
viram-se lesados a golpes de crueldade, mascarada de inteligência; abraçaram
tarefas edificantes e foram espancados pela injúria, acusados de faltas que
jamais seriam capazes de cometer; entregaram-se, tranquilos, a compromissos que
supuseram inconspurcáveis e acabaram espezinhados nos sonhos mais puros;
edificaram o lar, como sendo um caminho de elevação, e reconheceram-se, dentro
dele, à feição de prisioneiros sem esperança; criaram filhos, investindo em
casa toda a sua riqueza de ideal e ternura, na expectativa de encontrarem
companheiros abençoados para a velhice, e acharam-se relegados a extremo
abandono; saíram da juventude, plenos de aspirações renovadoras e toparam
enfermidades que lhes atenazam a vida... E, com eles, os que se acusam
desajustados, temos ainda os que vieram do berço em aflição e penúria, os que
se emaranharam em labirintos de tédio, por demasia de conforto, os que
esmorecem nas responsabilidades que esposaram e os que carregam no corpo
dolorosas inibições...
Lembra-te deles, os
quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes
estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da
mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na
palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de
caridade – a caridade da sua própria
divulgação.” (Estude e Viva, cap. 40,
obra publicada pela FEB no ano de 1965.) (Negritamos.)
Em face de todo o exposto e do que escreveu
Emmanuel, cremos que não seja preciso acrescentar mais nada acerca da
importância da divulgação do Evangelho e dos ensinamentos espíritas, a não ser
esta pequena proposição: – Se tais lições
nos fazem tão bem, por que não as dividir com o próximo?
(1)
Candeia (do latim candela, 'vela de sebo ou de cera') designa a vela de cera ou
um pequeno aparelho de iluminação, que se suspende por um prego, com recipiente
de folha-de-flandres, barro ou outro material, abastecido com óleo, no qual se
embebe uma torcida. O mesmo que candela, candil ou lamparina.
(2) Alqueire
(do árabe al-kayl, 'medida de cereais') designa o recipiente de grãos de
cereais, com capacidade de 36,27 litros. A palavra é utilizada também como
medida de superfície agrária que equivale a 4,84 hectares em Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Goiás e a 2,42 hectares em São Paulo.
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