JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Começo com uma frase de Noam Chomsky,
linguista: “Se não acreditamos em liberdade de expressão para gente que
desprezamos, não acreditamos nela de forma nenhuma”. (Seleções Reader’s Digest, jan. 2016, p.35). Para muitas pessoas,
nada é mais irritante do que ser contrariada em suas ideias, especialmente no
que se refere à política ou à religião.
Hoje, falar-lhe-ei, caro leitor, sobre o
primeiro tema. Tenho um amigo que foi militar do Exército durante mais de duas
décadas. Exatamente 22 anos. Em plena “ditadura”.
Está falando de cátedra, portanto, quando se
refere à instituição de uma das três Forças Armadas. Segundo Joteli (ou você
pensou que era outro o amigo, meu prezado leitor?), a instituição militar é um
verdadeiro modelo no que tange à disciplina e à hierarquia. Em sua época, o
Estatuto dos militares – E1 era o seu terror, tal o rigor das normas
disciplinares desse regulamento.
Joteli serviu, no Rio de Janeiro, na 5ª Brigada
de Cavalaria Motorizada, na época comandado pelo Gen. Walter Pires de Carvalho
e Albuquerque, cujo rigor militar era deveras conhecido. Certa vez em que meu
secretário estava de plantão, o comandante, ao passar pelo sentinela do quartel
e observar que este estava um pouco relaxado em sua posição de sentido, mandou
dobrar a guarda.
Ah, você não sabe o que é “dobrar a guarda”?
É ficar mais 24 horas de plantão no quartel depois de um período igual, já
bastante cansativo e mal dormido.
Hoje em dia, apenas para citar um exemplo,
um cidadão com três passagens pela polícia joga o carro em cima de uma família,
que passeava com um carrinho de bebê na calçada, simplesmente por ter o
carrinho encostado, acidentalmente, em seu carro e o delegado diz que vai ouvir
o criminoso, pois ele poderá alegar (e já diz o que este pode dizer como
justificativa) que fez isso só para assustar a família, mas não tinha intenção
de machucar ninguém. A mãe da criança ficou com a perna ralada e ainda se
encontra ralada de raiva, só para usar uma figura de linguagem chamada
aliteração.
Sabe no que vai dar o caso, cidadão? Deixo a
resposta a você.
A honestidade dos militares e seu amor à
Pátria, entretanto, são outras características que os credenciam como cidadãos
altamente confiáveis, caso seja necessária sua convocação para manter a
segurança ordeira e disciplinada de nosso povo, quando esses mandriões da
pátria forem daqui defenestrados. Por isso, é de entristecer o fato de
atualmente ouvirmos o brado de altas patentes militares indignados com o rumo
tomado por nosso país, ante os desmandos de um governo sem ética e corrupto.
O último manifesto proveniente do Clube
Militar é o de um general carioca que intitula seu comunicado como “E o crime
venceu uma vez mais”.
Entre outras constatações, arrola Sua
Excelência as seguintes:
a) o fracasso da segurança pública no Rio de
Janeiro, com a vitória do crime organizado, o que obriga as unidades de
polícias pacificadoras – UPPs a fazerem acordos informais com criminosos;
b) queixas de policiais sobre a falta de
apoio, de munição, alimentação adequada e atraso de salários;
c) receio do general de que se não forem
definitivamente “extinguidos” os marginais “nos destroem”.
Por fim, constata que o Rio não está em
condições de sediar um evento global como são as Olimpíadas.
Data
vênia,
discordo, general, de sua constatação final (rimou sem querer, Excelência). O
Rio de Janeiro tem, sim, plenas condições de sediar esse e outros eventos
internacionais. Com o dinheiro da
Petrobras que está sendo “repatriado” por nossa presidenta, com o aumento dos
impostos e da gasolina, com a convocação das três Forças Armadas, do Ministério
Público, das polícias militares, civis, federais, paraquedistas e corpo de
bombeiros para darem cobertura aos atletas dos quatro cantos do mundo, com
certeza, esse será o período de maior calmaria nos ventos, mares e terras
cariocas.
O problema é que depois das Olimpíadas, como
diria V. Exª, “tudo ficará como dantes, no quartel de Abrantes”. Então,
general, acalme-se, pois, como dizem os americanos:
“o crime não compensa”.
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
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