sábado, 14 de janeiro de 2017

Contos e crônicas


Dez conclusões “machadianas”

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, hoje vou filosofar um pouco, pois "os tempos são chegados". De acordo com Yuval Noah Harari, em Uma breve história da humanidade, nada mais somos do que a ramificação dos primatas que, de cerca de doze mil anos para cá, vêm dominando o mundo e exterminando outros animais, muitos dos quais reproduzidos para nos alimentar.
Diz ele, no final do primeiro capítulo de sua obra: "Se a culpa é dos sapiens ou não, o fato é que, tão logo eles chegavam a um novo local, a população nativa era extinta".
Na conclusão desse capítulo, Harari deduz que, provavelmente, o Homo sapiens, que somos nós, "conquistou o mundo, acima de tudo, graças à sua linguagem única".
Isso me faz pensar nas teorias de renomados filósofos do século XIX que, baseados nessa "linguagem única", realizaram verdadeiras proezas intelectuais para provar que nada mais somos do que matéria.
A base para tal constatação é a Ciência Positivista, que foi elevada à condição de verdade absoluta, contra todas as ideias espiritualistas do passado e do presente. Um dos seus teóricos foi Hegel (1770-1831), que "matou a religião" e elegeu a adoração ao homem como fundamento de nossas vidas, ao considerar a História como a "realidade absoluta" e "eliminar a dicotomia matéria e espírito".
O fundador do Positivismo foi Auguste Comte (1798-1857), que substituiu a Filosofia pela Ciência. Seu culto é o da Humanidade, o "Grande Ser", composto pelos cidadãos do passado, do presente e do futuro que foram, são ou possam ser úteis à própria Humanidade.
Outro "humanista absoluto" foi Nietzsche (1844- 1900), com sua teoria sobre o "super-homem" cujo objetivo na vida seria o de idolatrar o próprio corpo e buscar, antes de mais nada, os próprios interesses, uma vez que, para ele, nada mais somos do que matéria e, como tal, fadados à extinção após a morte. Para Nietzsche, Deus não existe; e a concepção de uma divindade é um pretexto para dominar as mentes e os povos fracos. Esse filósofo foi enlouquecendo aos poucos e morreu louco, mas ainda é seguido por muitos...
Mas quem estrutura, definitivamente, o Materialismo, cuja teoria já existia no mundo desde a época dos filósofos gregos pré-socráticos (cerca de 500 anos a.C.), foi Karl Marx (1818-1883), com a contribuição de Engels, que finalizou sua obra máxima após a morte de Marx: O Capital.
Alguns políticos e cidadãos brasileiros levaram a sério tais devaneios e procuraram aplicá-los com rigor à vida prática, principalmente, com base na já tão conhecida "lei de Gérson", que, embora nos proponha levar "vantagem em tudo", também nos conduz ao suicídio lento pelo tabagismo, pois essa “lei” surgiu de uma propaganda de cigarros em que o ex-craque de futebol, Gérson, cigarro à boca, dizia a célebre frase: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”
Então, amiga, vou enumerar-lhe agora as dez conclusões a que cheguei em relação ao abismo ao qual foi atirado nosso país pelos maus políticos, empresários e economistas inescrupulosos:
1ª) É preciso conquistar e manter o poder a todo o custo. Então, nomeemos para os diversos cargos públicos e políticos as pessoas que trabalhem para a grande coligação partidária formada pelos partidos da situação.
2ª) No Judiciário, indiquemos para cargos-chave, em especial na direção de presídios, filiados aos nossos coligados, pois estes saberão tratar humanamente os pobres traficantes e matadores de ou sem aluguel. Para as cadeias, encaminhemos, também, os incautos que não pagam pensão, o imposto de renda, etc. e os deixemos junto com aqueles, que saberão cuidar destes.
3ª) Indiquemos os "melhores políticos" para a gestão e negócios de grandes empresas e bancos públicos; eles saberão onde depositar os lucros desviados para nossos "fundos partidários" e "bolsos sem fundos".
4ª) Criemos o maior número de programas sociais, pois o povo não gosta de estudar e fundar escolas é desperdício de dinheiro público. Isso fica para a iniciativa privada.
5ª) Universidades públicas, como a do Rio de Janeiro, são desperdício de dinheiro. Nada de subsídios a essas fontes de alienação mental. O que o povo quer é circo e brioche.
6ª) Nossas escolas públicas devem ser instruídas a orientarem seus alunos com base nas seguras teorias materialistas de Marx e seus companheiros de ideal econômico. "Proletários, (des)uni-vos, nós sabemos o que é melhor para vocês."
7ª) Vamos criar um cadastro de maus pagadores e convidá-los a saldar suas contas, anualmente, com descontos de até 80%. Deixemos aos otários o pagamento integral de seus impostos e endividamentos.
8ª) Governar é fazer dívidas e construir "elefantes brancos" que fiquem inacabados e sem possibilidade de sua construção. Que se danem os escrúpulos. Afinal, o nosso é apenas um dentre milhares de municípios, e ninguém vai nos fiscalizar pois já tomamos nossas providências para corromper os fiscais que têm o DNA semelhante ao nosso. (Não, amigo leitor, não se trata de Data de Nascimento Antigo, mas você pode sugerir outro significado. Que tal Depravado Nível Animal?)
9ª) Vamos manter as indicações políticas para os altos cargos governamentais, em especial nos tribunais de justiça. Se nossos representantes estiverem no comando das leis, estas nunca serão contra nós. E se forem, nossos companheiros dos diversos sindicatos políticos e movimentos paramilitares não permitirão que nos façam qualquer mal.
10ª) E última conclusão: Mantenhamos a obrigatoriedade do voto e a urna eletrônica. Do resto, cuidamos nós. Afinal, só nós, os animais fortes e poderosos, sobreviveremos.
Após nós, que venha o dilúvio.
Qualquer semelhança de muitos políticos atuais com o Homo sapiens é isso mesmo: completa.
E eu, amigo leitor, não falo mais de política.







Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.





Nenhum comentário:

Postar um comentário