As viagens de Machado
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Acabei de ler um artigo para o jornal A Tarde, escrito pelo grande tribuno e
médium Divaldo Pereira Franco. O título do texto é Viagens. Em vida, fiz muitas dessas incursões pelos labirintos da
mente, que relatei. Dali, extraí diversas excursões pelos mais remotos recantos
da Terra. Estive na França, na Índia, visitei os EUA, passei pela Itália,
Grécia, Roma; desci até a Venezuela, Paraguai, Uruguai, Argentina e
confraternizei com nossos irmãos de além-mar lusitanos...
Tantas foram minhas viagens mentais, sem
sair do lugar, que um dos teóricos de minha obra escreveu o livro intitulado O viajante imóvel (Luciano Trigo); outro
descreveu O mundo de Machado de Assis
(Miécio Táti); um grande teórico, também renomado advogado, meu admirador,
relatou minhas acrobacias políticas em A
pirâmide e o trapézio (Raymundo Faoro) e ainda foram proporcionadas viagens
a este viajor mental com base nos Transportes
pelo olhar de Machado de Assis (Ana Luzia Andrade). A relação é grande, mas
o espaço é pequeno...
Em todas essas e outras obras, a bondade e
a gentileza de seus autores estiveram presentes, relatando meus devaneios
literários, ainda que, fisicamente, poucas vezes me afastei do Rio de Janeiro;
quando isso ocorreu, meus limites ficaram circunscritos aos estados do Rio e
Minas.
Agora, desta dimensão em que podemos nos
transportar com mais liberdade ao interior das elucubrações mentais dos seres
humanos como eu, percebo que há muitas teorias sobre o surgimento dos seres
vivos e, em especial, do homem, na Terra. O grande problema é que se considera
ciência, no mundo, apenas os estudos e as descobertas da Biologia, da Física e
da Química. Fora do laboratório não há vida, para tais pesquisadores. Daí, tudo
ser atribuído à matéria é outra viagem.
Entretanto, não há antropologista,
filósofo, historiador, psicólogo ou sociólogo, entre outros pesquisadores
bem-informados, os quais desconheçam que, em suas origens, o ser humano sempre
acreditou na metafísica. No início, observando-se a si mesmo, bem como a
natureza, com suas coisas e seres, este constatou que possuía uma alma e, como
não conseguia entender as maravilhas e perigos da natureza, passou a cultuar
suas coisas, fenômenos e seres.
Era o animismo, pai de todas as religiões.
De dez a doze mil anos para cá, o homem
teria evoluído tanto que passou a dominar muitos desses fenômenos, graças à sua
inteligência e capacidade criativa únicas. É quando alguns, julgando-se mais
espertos que os demais, começaram suas perquirições, criaram suas hipóteses e,
com base nelas construíram teorias que, após algum tempo, são substituídas
pelas de outros humanos, agora denominados cientistas, na presunção de explicar
o inexplicável...
A mais aberrante teoria, que, ainda assim,
é adotada por grande número de pesquisadores das citadas disciplinas, é a de
que o pensamento se origina em nosso cérebro. Vinculada a ela, mas já em
descrédito por muitos estudiosos sensatos, é a de que o cérebro humano, por sua
complexidade neurológica, torna-nos mais inteligentes do que os outros animais.
Entretanto, as comparações feitas entre o tamanho e a complexidade do cérebro
humano com o dos demais animais não nos garantem ser essa a causa da
superioridade propalada que, se nos permite projetar viagens a outros corpos
astrais, também nos faz viajar a imensuráveis espaços metafísicos.
Então, volto a dizer a todos os
pseudocientistas: suas especulações, com base na matéria, são incompletas, pois
os elementos da natureza são Deus, espírito e matéria. Le première, Dieu est l’intelligence suprême, cause première de toutes
choses; o segundo, o Espírito é o ser inteligente da criação; e o terceiro
elemento, a matéria, nada mais é do que o “instrumento” utilizado pelo Espírito
para exercer sua ação ou, na definição de outro espírito, “energia coagulada”.
— Meu caro Bruxo, que viagem!...
— É, meu amigo, mas esta vale a pena fazer.
Comece pela leitura de O livro dos
espíritos, de Allan Kardec, e você fará a mais extraordinária viagem, sem
sair do lugar, ao menos fisicamente.
— Merci
beaucoup!
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