sábado, 29 de julho de 2017

Contos e crônicas


Fé e conveniência

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amigos, relendo a obra As mesas girantes e o espiritismo, encontrei riquíssima informação a respeito dos pareceres de eminentes filósofos, cientistas e padres sobre a “invasão organizada dos espíritos” na América e na Europa. Um desses reverendos, o padre Raulica, ao investigar os fenômenos, concluiu que aquele era “o mais importante acontecimento do século”. Sim, dizia ele, os fenômenos são autênticos. Sim, reafirmava, os acontecimentos são reais. Sim, ratificava, não há fraudes, não há mistificações, não existem burlas nas manifestações dos espíritos. Deus permitiu que tal ocorresse para nos provar a realidade da vida espiritual. Louvado seja Deus! Estávamos no século XIX...
Entretanto, Raulica falava também aos quatro cantos que as manifestações eram do diabo. Tudo verdade, mas tudo proveniente das forças satânicas, para iludir os homens e conduzi-los ao inferno, onde haveria “prantos e ranger de dentes”. Desaconselhava, pois, aos leigos que se envolvessem com tais artimanhas de Lúcifer.
Também a Academia Francesa indicou diversos pesquisadores para verificarem o que havia de verdade nas manifestações mediúnicas, verdadeira infestação de supostas almas dos mortos a revelarem-nos que a vida continua além do Véu de Ísis. Reis, rainhas, duques, marqueses, delegados, juízes, cientistas, teólogos, ex-ateus do meio acadêmico e outras autoridades presenciavam os chamados “fenômenos das mesas girantes” e outros, decorrentes desses. Todos os que investigavam seriamente e sem ideias preconcebidas as manifestações dos chamados mortos convertiam-se ao espiritualismo.
Mas, embora os cientistas indicados pela Academia Francesa houvessem confirmado a realidade das manifestações espíritas, seu relatório jamais foi divulgado. Ficou arquivado em alguma gaveta acadêmica que, quando consultada, dizia ao curioso: — Não se aproxime! Aqui jaz o maior enigma do universo. Caso você se converta, será ridicularizado. Caso você creia e perceba um sentido para a vida, todas as pessoas o chamarão de louco.
Ao que o curioso responderá à gaveta: — Mas, afinal, as manifestações são ou não são verdadeiras? E ela ficará muda, como sói acontecer a todo objeto inanimado, pois gaveta e mesa só falam quando impulsionadas por vozes do Além, e o Aquém não quer intromissão em sua vida profana. — Fiquemos aquém da morte... Não vamos além! Isso é para os loucos ou santos.
Então, a curiosa pessoa dirá: — Bem, deixemos que os padres, os pastores e os visionários se ocupem dos problemas da alma e gozemos a vida, pois ela é curta e apenas uma certeza queremos ter: estamos vivos! Que os mortos enterrem seus mortos, como dizia o Sublime Galileu, que acabou crucificado por nos ter garantido o Céu, após morrer por nós. Aceitemo-lo, portanto, como Salvador, e curtamos a vida o melhor possível.
Quando Allan Kardec desencarnou, deixou-nos uma obra extraordinária: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo e A Gênese, além da Revista espírita. Você pensa que a Igreja não conhece essa obra? Claro que conhece. E por que não a incorporou à sua doutrina como fonte de esclarecimentos complementares à Boa Nova do Cristo? Porque a conveniência em manter sua ascendência sobre as mentes humanas predominou. Até hoje, a “fé” é artigo de aceitação cega e inquestionável, imposto pelos padres e pastores cristãos. O mesmo se diz das academias...
É conveniente que a sociedade viva o presente, case-se ou não, constitua ou não família, coma, beba, divirta-se, durma e, cousa dura, trabalhe. Assim, quem resolver rebelar-se contra isso acabará nas “profundas do inferno”, senão do lado de lá, também do lado de cá.
E mais não digo por ora.






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Um comentário:

  1. Fantástico, amigo, "em resposta" à minha crítica de que a Academia não se interessa pelos fenômenos espíritas, em especial sua literatura, a UnB acaba de aprovar edital com oferecimento de duas vagas para o curso de mestrado em Literatura Espírita. Quem sabe eu não acabe realizando o sonho de ser orientador de futuro mestre nessa linha de pesquisa? Vale a pena sonhar! Abraços.

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