Medo e preocupação numa
perspectiva espírita
Medo e preocupação são termos que podem ser aplicados a um número
grande de situações e, em muitos casos, se confundem, sendo então possível –
conforme pensamos – enquadrá-los em uma mesma ordem de ideias.
Depois dos graves atos terroristas que ocorreram nos Estados Unidos por
ocasião da derrubada das torres de Nova York, os norte-americanos passaram a
ficar cada vez mais enclausurados em casa e com os hábitos bastante alterados,
em resposta à ansiedade advinda da violência, da situação social e do próprio
meio em que vivem, numa situação que não é peculiar apenas à sociedade
norte-americana. No Brasil, o sentimento de medo nas grandes cidades, como Rio
e São Paulo, tem sido mostrado com insistência nos meios de comunicação do
país, onde muitas pessoas perderam até mesmo a vontade de sair à noite, pelo
receio do que lhes pode acontecer, um fato que está a merecer um exame mais
aprofundado de nossa sociedade.
Os efeitos decorrentes do medo foram mencionados por Allan Kardec quando,
aludindo às histórias que amedrontam as crianças, um recurso largamente usado
na catequese em épocas passadas, disse que o medo pode matar e, se a tanto não
chega, é capaz de desequilibrar as mentes frágeis que se impressionam
facilmente com a morbidez de determinados relatos.
Segundo informações do plano espiritual, esse efeito não se verifica
apenas aqui, entre os encarnados, mas ocorre também no mundo espiritual, como
André Luiz mostrou no livro Nosso Lar,
psicografado por Chico Xavier.
A história central dessa obra se passa na época dos conflitos da 2ª
Guerra Mundial. Segundo André Luiz, as notícias dos combates travados na Europa
produziram na colônia espiritual “Nosso Lar” situações de grande medo e, por
vezes, de pânico, a ponto de exigir, em dado momento, a intervenção do próprio
Governador da colônia.
Num certo domingo, pela manhã, grande multidão reuniu-se para ouvir a
palavra do dirigente. Ele abriu um livro, folheou-o atentamente e depois leu em
voz pausada: “E ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras; olhai, não
vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim”.
Em seguida, depois de dizer ao público palavras de encorajamento, apelou para
que 30 mil servidores se alistassem no trabalho de defesa da cidade, em face da
guerra europeia. “Irmãos de Nosso Lar, não vos entregueis a distúrbios do
pensamento ou da palavra”, rogou-lhes o dirigente. “A aflição não constrói, a ansiedade não
edifica. Saibamos ser dignos do clarim do Senhor, atendendo-lhe a Vontade
Divina no trabalho silencioso, em nossos postos.”
Aos olhos de André Luiz, aquela preocupação parecia excessiva, mas
Narcisa prontamente informou: “É elevada a porcentagem de existências humanas
estranguladas simplesmente pelas vibrações destrutivas do terror, que é tão
contagioso como qualquer moléstia de perigosa propagação. O medo é um dos
piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as
forças mais profundas”. (Cf. Nosso Lar,
cap. 42, pág. 231.)
A seguir, completando a sucessão de surpresas registradas pelo autor da
obra, Narcisa acrescentou: “A Governadoria coloca o treinamento contra o medo
muito acima das próprias lições de enfermagem”. “A calma é a garantia do
êxito.” (Obra citada, pág. 232.)
No livro Temas da Vida e da Morte,
psicografado por Divaldo Franco, no capítulo “Medo e responsabilidade”, Manoel
Philomeno de Miranda diz-nos que, tendo origem no Espírito enfermo, o medo
decorreria de três causas fundamentais:
• Conflitos herdados da
existência passada, quando os atos reprováveis e criminosos desencadearam
sentimentos de culpa e arrependimento que não se consubstanciaram em ações
reparadoras.
• Sofrimentos vigorosos que foram
vivenciados no além-túmulo, quando as vítimas que ressurgiram da morte açodaram
as consciências culpadas, levando-as a martírios inomináveis, ou quando se
arrojaram contra quem as infelicitou, em cobranças implacáveis.
• Desequilíbrio da educação na
infância atual, com o desrespeito dos genitores e familiares pela personalidade
em formação, criando fantasmas e fomentando o temor, em virtude da indiferença
pessoal no trato doméstico ou da agressividade adotada. (Temas da Vida e da Morte, Medo e responsabilidade, pp. 57 e 58.)
Segundo o citado autor, o medo está presente na raiz de muitos males e
pode ser tão cruel que, diante de enfermidades irreversíveis e problemas graves
de alto porte, é capaz de induzir sua vítima à morte pelo suicídio, numa forma
extravagante de expressar o medo de morrer sob sofrimento demorado, gerando desse
modo mais rudes aflições a se estenderem por tempo indeterminado.
É possível combater o medo?
Sim, é possível. De acordo com Manoel Philomeno de Miranda, o medo se
combate orando e agindo. O hábito de desincumbir-se das tarefas nobres cria
condicionamentos positivos que se vão incorporando ao modus operandi até
fazer-se automatismo na área das realizações. O medo recua, na razão direta em
que a disposição de atuar se faz mais forte, da mesma maneira que o inverso é
verdadeiro. A consciência da responsabilidade é o antídoto para o medo, do que
se deduz que o desejo de agir, para recuperar-se, comanda a vontade e
desarticula as engrenagens maléficas que o desequilíbrio fomentou. O medo deve,
pois, ser combatido com todos os valiosos recursos ao nosso alcance, desde a
oração à ação feliz. (Cf. Temas da Vida e
da Morte, Medo e responsabilidade, pp. 59 e 60.)
*
O tema medo foi examinado por autores diversos em diferentes edições da
revista “O Consolador”.
Eis alguns desse textos, que sugerimos sejam consultados por quem se
interesse pelo tema:
Entrevista com Kennedy Gomes Martins, psicólogo clínico radicado em
Sertãozinho (SP):
“O medo e um solilóquio emocional”, artigo de Eugênia Pickina:
“Vencendo nossos medos” – parte 1, artigo de Eurípedes Kühl:
“Vencendo nossos medos” – parte 2 e final, artigo de Eurípedes Kühl:
“O medo e seus disfarces”, artigo de Eugênia Pickina:
“Vacina espiritual contra o
medo”, artigo de Gerson Simões Monteiro:
“O medo”, mensagem de Joanna de
Ângelis:
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Muito bom o texto, esclarecedor! Não podemos deixar o medo nos engessar! Parabéns Astolfo
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