O Espiritismo e a Arte
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Já vão distantes os dias de carnaval.
Não no Nordeste. Nessa região, os festejos momescos perduram um mês... no
mínimo. Algumas pessoas querem que a vida seja uma eterna festa e não se
conformam com o término da folia, por vezes dantesca. Entretanto, a
quarta-feira é de cinzas; talvez porque a festa seja predominantemente de
“confusão, trapalhada e desordem”, na linguagem popular, como registra Aurélio.
Depois do “fogo”, as “cinzas”, pois
nada mais resta do que já foi, qual ocorre em incêndio voraz. E isso ocorre nos
dois mundos: no da matéria e no do espírito. O detalhe é que, excetuado quem é
vidente, os que estão na matéria não veem o que ocorre fora dela, mas os que
estão fora dela veem e influenciam os que nela estão.
A festa é pagã. Desse modo, seus deuses
não são verdadeiros. Talvez por isso mesmo predomine a mentira de quem se
esfalfa na farra desses dias. As próprias fantasias imitam o que não se pode
ser: princesas, príncipes, rainhas, rei... Momo.
Pedras falsas, colares de contas vis. Jovens e idosos querem ser felizes, o que
é natural e, mesmo, desejável. Entretanto, nunca é demais lembrar: a festa é de
falsos deuses e reais entidades... não as mitológicas, mas as cruéis e
vingativas.
Diz o Espírito Manoel Philomeno de
Miranda, em obra psicografada por Divaldo Pereira Franco, que esses são dias
nos quais todos, sem exceção, que participam dessa festa estão “nas fronteiras
da loucura”, como indica o título do livro. Entretanto, o sábio Espírito Bezerra
de Meneses esclarece-nos, nessa mesma obra, que o carnaval “[...] é o vestígio
da barbárie e do primitivismo ainda reinantes, e que um dia desaparecerão da
Terra, quando a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real
substituírem as paixões do prazer violento e o homem houver despertado para a
beleza, a arte, sem agressão nem promiscuidade” (op. cit., 15. ed., LEAL, 2014,
p. 69).
— Não esta “arte” contemporânea, amigo
Jó. “A arte — como diz Léon Denis — é a busca, o estudo, a manifestação dessa
beleza eterna — a Divina — da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um
reflexo” (DENIS, L. O Espiritismo na arte.
2. ed. RJ: LD, 2008, p. 21). Em minha crônica de 17 jul. 1895, afirmei: “Os
mortos não vão tão depressa, como quer o adágio; mas que eles governam os
vivos, é cousa dita, sabida e certa” (A
Semana). Nas festas de Momo isso fica claro como água mineral.
Quando anunciei, em 4 fev. 1894, que
não haveria carnaval naquele ano, de início expressei minha tristeza, haja
vista que o riso faz parte da natureza humana. Após tecer considerações sobre a
suspensão do carnaval, naquele ano, concluí: “A razão de não o termos, este
ano, é justa; seria melhor que a proibição não fosse precisa, e viesse do
próprio ânimo dos foliões. Mas não se pode pensar em tudo”.
— Amigo Machado, voltando a Miranda, na
citada obra, muitas pessoas que inadvertidamente participam desse tipo de
recreação, quando o fazem sem se darem conta do perigo que correm, costumam ser
salvas pelos amigos espirituais. Outras, entretanto, perdem os valores
materiais e morais, além da própria vida.
— O ideal, Jó, seria buscarmos
atividades artísticas diversas que expressassem o belo, a espiritualidade, pois
a vida é curta, quando se está na carne. Quando a humanidade estiver plenamente
consciente de que a verdadeira alegria, tal como a vida plena, não se realiza
na Terra e, sim, no mundo espiritual, certamente, o renascimento da arte
far-se-á em todo o seu esplendor. Au
revoir.— Despeçamo-nos, então, amigos leitores, com a esperança de que este
tempo já esteja em curso, de acordo com as seguintes palavras:
O Espiritismo vem abrir para a arte
novas perspectivas, horizontes sem limites. A comunicação que ele estabelece
entre os mundos visível e invisível, as indicações fornecidas sobre as condições
da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza
que regem o Universo vêm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas,
motivos inesgotáveis de inspiração (DENIS, L. Op. cit., p. 22).
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