Uma criatura
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Quer conhecer alguém? Dê-lhe o poder...
Como disse, em minha última crônica,
antes de falarmos algo, devemos sopesar se o que será dito passa pelos três
crivos socráticos: verdade, utilidade e bondade. Entretanto, expliquei também
que, segundo Aristóteles, “o homem é um animal político”. Como cidadãos, em
especial, os formadores de opinião, não podemos calar-nos ante algo de que
discordamos, ainda que estejamos equivocados, quando então devemos ter a
humildade de admiti-lo.
Não conhecia uma pessoa, estigmatizada
no meio político pelo seu suposto destempero verbal. Após assistir a algumas de
suas falas ao vivo, simpatizei com ela. Percebi que é uma pessoa
bem-intencionada. Alguém atentou contra sua vida, mas, obstinada e contra todas
as previsões, essa criatura alcançou seu objetivo.
Isso faz-me lembrar um poema do meu
amigo Machado de Assis:
Uma criatura
Sei de uma criatura antiga e
formidável,
Que a si mesma devora os membros e as
entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as
montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de
abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões
estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro
despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e
mavioso,
Parece uma expansão de amor e de
egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o
gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o
monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola,
inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro
gomo
Vem a folha, que lento e lento se
desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois esta criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o
fruto;
E é nesse destruir que as forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o
impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é
a Vida.
Nosso país passa por uma fase de
transição. Isso ninguém contesta, ainda que muitos considerem ser este um
período de retrocesso. Os que, como nós, votaram para mudar o que estava
havendo na política, costumes e economia, como o próprio mandatário da nação
admite, fazem parte de uma população conservadora.
Mas conservadora de quê? Das bases
morais da Boa-Nova de Jesus, principalmente, que estão analisadas de modo
extraordinário no livro editado por Allan Kardec: O Evangelho Segundo o Espiritismo. No capítulo VI dessa obra,
constam quatro profundas mensagens de Jesus, retransmitidas a nós pelo Espírito
da Verdade(1).
Na última delas, lemos duas palavrinhas
que resumem todo o sentimento de caridade e amor ao próximo, que nos devemos
esforçar para pôr em prática, diariamente. Se o conseguirmos, teremos o Céu
onde estivermos, pois resumem toda a doutrina e atos do Cristo: devotamento e
abnegação.
Segundo o Espírito da Verdade, essas
palavras “resumem todos os deveres que a caridade e a humildade nos impõem”.
Pelo devotamento, estamos sempre prontos a trabalhar e servir em benefício
alheio. Consequentemente, sentimos o prazer de uma consciência tranquila, coerente
entre o que falamos e o que fazemos. Esse é o amor real, sentimento sublime e
divino, que não se confunde com a paixão humana. Pela abnegação, renunciamos a
todas as vantagens que a vaidade nos proporciona entre os humanos, mas atraímos
para nós a companhia dos bons, seja no plano físico, seja no espiritual.
Em sua sabedoria, enquanto esteve entre
nós, Jesus Cristo recomendou-nos olhar, vigiar e orar (Marcos, 13:33). Sábio é
quem segue sua recomendação.
Há milênios, os grandes imperadores,
reis, rainhas são objeto de inveja e perseguição. Diversos deles tiveram morte
cruel por parte de seus inimigos.
O objetivo sempre foi o de conquistar o
poder a qualquer custo. Veja o caso de Caio Júlio César, que, antes de morrer
apunhalado pelo próprio filho, expressou-lhe seu espanto com estas palavras: “—
Até tu, Brutus?”
Como faço parte da maioria da população
que votou, sobretudo, pela mudança de um governo que, no conceito de várias
pessoas, elevou à quinta potência os abusos da corrupção em nosso país, aqui deixo
meu humilde recado ao nosso mandatário-mor: “— Fale pouco, trabalhe mais”.
Sobretudo, cuidado com quem o bajula e diz ser seu amigo. Não se esqueça de
Júlio César...
__________________________
[1] Optei por Espírito
da Verdade, como está nas bíblias de Jerusalém e de João Ferreira de Almeida,
além de Obras Póstumas, de Allan Kardec, seg. parte, Meu guia
espiritual, p. 245- 246, da 2. ed. FEB, de 2016, traduzida por Evandro
Noleto Bezerra. Entretanto, nas edições francesas d’O livro dos Espíritos,
Prolegômenos, e d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 6, Instruções
dos Espíritos, consta Espírito de Verdade.
Como consultar as matérias deste
blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/h85Vsc e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele
nos propicia.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário