VUB & MIC
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Conta-se que, certa vez, um amigo
procurou Sócrates e lhe perguntou:
— Quer que lhe conte a última notícia
que ouvi hoje?
— Só depois de você me garantir que a
submeteu aos três crivos.
— Três crivos? Que é isso?
— Para que você me conte o caso, este
tem que passar por três critérios.
— E quais são eles?
— Primeiro, o da veracidade: é verdade
o que você ouviu?
— Bem, isso eu não posso garantir, mas
quem me contou foi um amigo...
— Certo, vamos ao segundo crivo, o da
utilidade: é útil o que ele lhe disse?
— Pensando bem, não me parece ter
utilidade...
— Vamos, então, ao último crivo, o da
bondade: é bom, o que você quer dizer?
— De jeito nenhum...
— Bem, meu caro, se você não pode garantir
que o caso contado por seu amigo não é verdadeiro, não é útil e não é bom,
prefiro ignorá-lo.
Em nossos dias, no Brasil, tantos são
os fakes, políticos ou não, venham da
esquerda, do centro, da direita, de baixo ou de cima, que proponho aos meus quarenta
honestos seguidores observarmos com rigor os três crivos socráticos, cuja sigla
é VUB. Certamente viveremos bem melhor assim.
Isso não significa alienação nossa aos
eventos políticos que interessam ao futuro do Brasil. Precisamos, sim, estar
bem informados, pois, como dizia Aristóteles, “o homem é um animal político”.
No entanto, como dizem os mineiros, “prudência e caldo de galinha não fazem mal
a ninguém”.
Há muita gente por aí que faz parte da
MIC. Quer saber o que é, amiga leitora? No final desta crônica, lhe digo...
Ontem, conversei com minha esposa sobre
um político considerado corrupto, que está preso. Não foi uma ideia feliz de
minha parte, mas a intenção foi boa. Disse-lhe que não creio nesses vídeos
acusatórios que são divulgados no Facebook
ou no WhatsApp. Como também não
acredito na inocência dele. Principalmente, não repasso esses vídeos cujos
autores recomendam compartilhar com o maior número possível de pessoas... Aí
tem...
Ainda assim, nunca é demais lembrar a
recomendação feita a Allan Kardec, em resposta à sua questão 903 d’O Livro dos Espíritos, quando o
Codificador do Espiritismo perguntou se é lícito estudar os defeitos
alheios.
Foi-lhe respondido que criticar e
divulgar os atos negativos de alguém é falta de caridade, e quem faz isso
incorre em grande falta; a não ser que o
estudo seja feito por quem deseje evitar os erros observados. Tudo está, pois,
na intenção...
Por desconhecimento da Lei de Liberdade, entretanto, há ainda
muita gente que faz parte da turma da MIC. Não se trata aqui da sigla homônima
do Ministério da Indústria e Comércio. Falamos dos adeptos inconsequentes da
mentira, da ignorância e da crueldade.
Na questão 828-a, d’O Livro dos Espíritos, Kardec é
informado de que
Quanto mais inteligência tem o homem
para compreender um princípio, tanto menos desculpável será de não o aplicar a
si mesmo. Em verdade vos digo que o homem simples, porém sincero, está mais
adiantado no caminho de Deus do que outro que pretenda parecer o que não é (op.
cit.).
Quem ainda transita pelo reino das
trevas se atola na MIC: mentira, ignorância e crueldade. Morrerá na mentira e entrará nas dores do choro e do
ranger de dentes.
Quem prossegue no rumo do Reino de
Deus, da alegria e da luz aprende e pratica a máxima cristã de jamais fazer a
outrem o que não deseja que este lhe faça. Atenta, então, para a recomendação
de Sócrates e observa a VUB: verdade,
utilidade e bondade, antes de julgar os atos alheios.
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