sexta-feira, 9 de agosto de 2019




O porquê da vida

Léon Denis

Parte 7

Damos sequência ao estudo do clássico O porquê da vida, de Léon Denis, com base na 14ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira. O estudo será aqui apresentado em 13 partes.
Nossa expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Quem foi Lavater e em que época ele se correspondeu com a Imperatriz Maria Feodorawna?
B. Que é que Lavater escreveu sobre o estado da alma depois da morte?
C. Lavater admitia claramente as comunicações com o mundo invisível?

Texto para leitura

79. No castelo grão-ducal de Pawlowsk, situado a vinte e quatro milhas de Petersburgo, onde o Imperador Paulo, da Rússia, passou os anos mais felizes de sua vida e que se tornou depois a residência favorita da Imperatriz Maria, sua viúva, acha-se uma seleta biblioteca na qual se encontra um maço de cartas de Lavater, que passaram ignoradas dos biógrafos do célebre filósofo suíço. [N.R.: Johann Kaspar Lavater (1741-1801), teólogo e filósofo suíço nascido em Zurique, foi pastor em sua cidade natal e é considerado o fundador da fisiognomonia – a arte de conhecer o caráter das pessoas pelos traços fisionômicos.) (P. 55)
80. Essas cartas – seis, ao todo – foram escritas no período de 1796 a 1798 e enviadas de Zurique. Dezesseis anos antes, em Zurique e em Schaffhouse, Lavater teve ocasião de ser apresentado ao Conde e à Condessa do Norte, títulos usados então pelo Grão-Duque da Rússia e sua esposa. (PP. 55 e 56)
81. Lavater estabelece nessas cartas que a alma, depois de deixar o corpo, pode inspirar ideias a qualquer pessoa que esteja apta a receber-lhe a luz, e assim fazer-se comunicar por escrito a algum amigo deixado na Terra. (P. 56)
82. Reunidas num único volume, as cartas foram publicadas em Petersburgo, em 1858, sob o título “Cartas de João Gaspar Lavater à Imperatriz Maria Feodorawna, esposa do Imperador Paulo I da Rússia”. Editada à custa da biblioteca imperial, a obra foi oferecida em homenagem à Universidade de Iena. (P. 56)
83. A correspondência oferece duplo interesse por causa da alta posição das personagens envolvidas e da especialidade do assunto. As ideias expressas por Lavater sobre o estado da alma após a morte aproximam-se muito das que foram emitidas pelos teósofos do seu tempo e sua concordância com a Doutrina Espírita é um fato digno de nota. Além disso, as cartas provam que a crença nas relações entre o mundo material e o mundo espiritual germinava na Europa desde o fim do século XVIII. (P. 57)
84. Na primeira carta, datada de 1º de agosto de 1796, Lavater  fala sobre o estado da alma depois da morte. (P. 58)
85. Em resumo, nesta carta Lavater diz que: I, o mundo invisível deve ser penetrável para a alma separada do corpo, assim como ele o é durante o sono; II, a alma aperfeiçoa em sua existência material as qualidades do corpo espiritual, veículo com que continuará a existir depois da morte e pelo qual conceberá e obrará em sua nova existência; III, o estado da alma depois da morte será fundado sempre neste princípio geral: o homem colhe o que houver plantado; IV, cada alma, separada do seu corpo, se apresenta a si própria, depois da morte, tal como ela é na realidade; V, seu peso intrínseco, como que obedecendo à lei de gravitação, atraí-la-á aos abismos insondáveis ou às regiões luminosas, fluídicas e etéreas; VI, o bom Espírito elevar-se-á para os bons e o perverso será empurrado para os maus, atendendo à lei das afinidades. (PP. 58 a 63)
86. Na segunda carta, datada de 18/8/1798, Lavater assevera que: I, as necessidades experimentadas pelo Espírito durante o seu desterro no corpo material ele continua a senti-las depois de o abandonar; II, a necessidade mais natural que pode nascer numa alma imortal é a de aproximar-se cada vez mais de Deus e de assemelhar-se ao Pai; III, quando essa necessidade predominar em nós, nenhum receio deveremos nutrir a respeito do nosso futuro após a morte; IV, os bons são atraídos para os bons e somente as almas elevadas sabem gozar da presença de outras almas delicadas; V, nenhuma alma vil e hipócrita pode sentir-se bem ao contato de uma alma nobre e enérgica que lhe penetrou os sentimentos; VI, o egoísmo é que produz a impureza da alma e acarreta o seu sofrimento; VII, o egoísmo é combatido por alguma coisa de puro e divino que existe em toda alma: o sentimento moral; VIII, da concordância e da harmonia que se estabelece no homem entre ele mesmo e sua lei íntima, dependem sua pureza, sua aptidão para receber a luz, sua ventura, seu céu e seu Deus; IX, estando rotos os laços da matéria, o amor purificado deve dar ao Espírito uma existência feliz, um gozo contínuo de Deus e um poder ilimitado para fazer ditosos todos os que são aptos para a felicidade. (PP. 64 a 71)
87. Na terceira carta, firmada em 1º de setembro de 1798, Lavater diz que: I, despojado do corpo, cada Espírito será afetado pelo mundo exterior de um modo correspondente ao seu estado de adiantamento, isto é, tudo lhe aparecerá tal qual ele é em si mesmo; II, os bons Espíritos se acercarão das almas bondosas, os maus atrairão a si as naturezas ruins; III, tudo segue marcha incessante que, impelindo todas as coisas para diante, faz que nos aproximemos de um objetivo que, aliás, não é o final; IV, o Cristo é o herói, é o centro, a principal personagem nesse drama imenso de Deus, admiravelmente simples e complicado ao mesmo tempo; V, à medida que nossa alma melhorar-se, nós veremos o Cristo sempre mais formoso, porém nunca pela última vez. (PP. 71 a 75)
88. Na quarta carta, de 14/9/1798, Lavater afirma que: I, apesar da existência de uma lei geral, eterna e imutável de castigo e felicidade, cada Espírito, segundo seu caráter, terá de sofrer penas depois da morte do corpo, ou gozará de felicidades apropriadas às suas qualidades; II, embora todos os Espíritos estejam submetidos à ação da lei das afinidades, é presumível que o seu caráter substancial, pessoal ou individual lhes dê um gozo ou sofrimento essencialmente diversos de um para outro Espírito; III, Deus se colocou e igualmente dispôs o Universo no coração de cada ser humano; IV, todo homem é um espelho particular do Universo e do seu Criador;  devemos empregar  todo o nosso esforço em conservar esse espelho tão puro quanto possível, para que Deus possa ver-se refletido na sua bela criação. (PP. 75 a 77)
89. Anexa à carta precedente, Lavater enviou à Imperatriz Maria uma mensagem enviada por um Espírito a um amigo da Terra, na qual fala sobre o estado dos Espíritos desencarnados. A mensagem diz, em resumo, que: I, seu estado atual em relação ao que tinha na Terra é como o da borboleta que, depois de abandonar o casulo da lagarta, fica voejando nos ares; II, uma luz invisível aos mortais, conquanto visível a alguns, brilha e irradia-se docemente do cérebro de todo homem bom, amante e religioso; III, a auréola imaginada para os santos é essencialmente verdadeira e racional; essa luz torna feliz todo ser humano que a possui; IV, nenhum Espírito impuro pode ou ousa aproximar-se dessa luz santa; por meio dela pode-se perscrutar facilmente as almas, a fim de serem lidas ou vistas em toda a sua realidade; V, cada pensamento que parte dos seres humanos é para os Espíritos uma palavra e às vezes um completo discurso; VI, os Espíritos respondem aos pensamentos dos encarnados, mas estes ignoram que são eles – Espíritos – que lhes falam ou lhes inspiram ideias; VII, sem a mediação de uma pessoa acessível à luz, é impossível ao Espírito estender-se conosco verbalmente ou por escrito; VIII, o Espírito pousa sobre a fronte desse mediador – médium, na terminologia espírita –e suscita ideias que este descreve sob sua inspiração, por efeito da irradiação do pensamento. (PP. 78 a 81)
90. Na quinta carta, datada de 13/11/1798, Lavater  diz que, para o futuro, se Deus o permitir, as comunicações com o mundo invisível serão mais frequentes e, reportando-se à hora da morte, recomenda à Imperatriz Maria: “Apressemo-nos em atravessar a noite das trevas para chegarmos à luz – passemos por esses desertos para entrarmos na terra prometida – e suportemos as dores desta existência para aparecermos na verdadeira vida”.  (PP. 81 e 82)
91. Anexa à carta, Lavater enviou-lhe outra comunicação mediúnica, em que o comunicante esclarece que para enviar a mensagem foi-lhe preciso obter licença especial, pois os Espíritos nada podem fazer sem permissão. (PP. 82 e 83)
92. A mensagem descreve as sensações que o comunicante teve no momento de sua passagem à vida espiritual, finda a vida corpórea, e assim se encerra: “Aproveita essas minhas comunicações e bem depressa outras te serão dadas. Ama e serás amado, pois só o amor pode fazer a felicidade. Oh! Querido amigo, é pelo amor somente que me posso aproximar de ti, comunicar contigo e mais depressa conduzir-te ao manancial da vida”. (P. 88)
93. Na sexta e última carta,  escrita  em 16  de dezembro de 1798 e acompanhada de nova mensagem de origem mediúnica,  Lavater assevera que nossa felicidade futura está em nossas mãos, que só o amor nos pode dar a suprema ventura e que só a fé no amor divino faz nascer em nossos corações o sentimento que nos torna felizes eternamente – fé que desenvolve, purifica e completa a nossa aptidão para amar. (P. 89)
94. A mensagem espiritual, obtida na mesma data, dá-nos diversos ensinamentos sobre as relações que existem entre os Espíritos e os seres que eles amaram na Terra, e nos diz, em resumo, que: I, a felicidade dos Espíritos depende, algumas vezes, do estado daqueles que eles deixaram na Terra e com os quais eles entram em relações diretas; II, cada espécie de amor tem um raio de luz que lhe é peculiar. Esse raio forma a auréola dos santos e os torna mais resplandecentes e agradáveis à vista; III, quem se torna estranho ao amor degrada-se no sentido mais positivo e literal da palavra; torna-se mais material e, por conseguinte, mais inferior, mais terrestre, e as trevas da noite o cobrem com seu véu; IV, por efeito de um movimento imperceptível, dando certa direção à sua luz, os Espíritos podem fazer nascer ideias mais humanas nas naturezas que lhes são simpáticas e suscitar ações e sentimentos mais nobres e elevados; V, não podem, porém, forçar e dominar alguém, ou mesmo fazer imposições aos homens, cuja vontade é em tudo independente; VI, para os Espíritos, o livre-arbítrio dos homens é sagrado; VII, as naturezas degradadas, egoístas, atraem Espíritos grosseiros, privados de luz e malévolos, que mais e mais as envenenam; VIII, as almas bondosas se fazem, por sua vez, cada vez mais puras e mais amantes pelo contato dos bons Espíritos; IX, os Espíritos do bem abundam onde se acham almas amorosas e os Espíritos das trevas pululam onde há grupos de almas impuras; X, existem relações imperecíveis entre os mundos visível e invisível, uma comunhão constante entre os habitantes da Terra e os habitantes do céu, uma ação recíproca e benéfica de cada um desses mundos sobre o outro. (PP. 89 a 95)
95. Prossegue a mensagem espiritual ensinando que: I, nós, os chamados mortais, podemos pelo amor fazer o céu descer à Terra e entrar em comunhão com os seres bem-aventurados; II, quando nos enfadamos e, dominados de tal sentimento, pensamos nos outros, a luz que se irradia de nós se obscurece e, então, os bons Espíritos são forçados a afastar-se; III, nenhum Espírito bom pode suportar as trevas da cólera; IV, a oração atrai para junto de nós os Espíritos imbuídos do bem, porque o Senhor vê os justos e ouve as suas súplicas; V, o amor puro e nobre encontra em si mesmo a sua recompensa; o melhor prazer e mais santo é o gozo de Deus, é o produto do sentimento depurado. Nada tem mérito sem o amor; VI, todos os que amam, na Terra e no céu, se fundem num só pelo sentimento. Do grau do amor em cada um depende a nossa felicidade interna e externa. Nosso amor é, pois, o que regula as nossas relações com os Espíritos, nossa comunhão com eles, a influência que eles podem exercer sobre nós e a sua ligação íntima com o nosso Espírito. (PP. 96 a 100)

Respostas às questões preliminares

A. Quem foi Lavater e em que época ele se correspondeu com a Imperatriz Maria Feodorawna?
João Gaspar Lavater foi teólogo, filósofo e pastor nascido em Zurique, Suíça. Suas cartas dirigidas à Imperatriz Maria foram escritas no período de 1796 a 1798. Reunidas num único volume, as cartas foram publicadas em Petersburgo, em 1858, sob o título “Cartas de João Gaspar Lavater à Imperatriz Maria Feodorawna, esposa do Imperador Paulo I da Rússia”. (O porquê da vida, pp. 55 e 56.)
B. Que é que Lavater escreveu sobre o estado da alma depois da morte?
De forma resumida, eis o que ele escreveu sobre o assunto: I - o mundo invisível deve ser penetrável para a alma separada do corpo, assim como ele o é durante o sono; II - a alma aperfeiçoa em sua existência material as qualidades do corpo espiritual, veículo com que continuará a existir depois da morte e pelo qual conceberá e obrará em sua nova existência; III - o estado da alma depois da morte será fundado sempre neste princípio geral: o homem colhe o que houver plantado; IV - cada alma, separada do seu corpo, se apresenta a si própria, depois da morte, tal como ela é na realidade; V - seu peso intrínseco, como que obedecendo à lei de gravitação, atraí-la-á aos abismos insondáveis ou às regiões luminosas, fluídicas e etéreas; VI - o bom Espírito elevar-se-á para os bons e o perverso será empurrado para os maus, atendendo à lei das afinidades. (Obra citada, pp. 58 a 63.) 
C. Lavater admitia claramente as comunicações com o mundo invisível?
Sim. E previu, também, que no futuro, se Deus o permitisse, as comunicações com o mundo invisível seriam mais frequentes. Anexa à carta em que fez essa previsão, Lavater enviou à Imperatriz uma outra comunicação mediúnica na qual o comunicante diz que para enviar a mensagem foi-lhe preciso obter licença especial, pois os Espíritos nada podem fazer sem permissão.  (Obra citada, pp. 81 a 83.)

Observação:
Eis os links que remetem aos textos anteriores:





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