Zeca e o homem do
banco
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Em dois desses dias,
encontrara um senhor mal vestido e sentado no banco de pedra que fica ao lado
do bloco em que Zeca mora. No primeiro dia, ao passar por esse homem, meu amigo
o cumprimentara e ele respondera com um olhar vazio, parecendo contemplar o céu
azul de Brasília.
— Bom dia, senhor!
Dissera Zeca animadamente.
— Bom dia, meu jovem.
Respondera o maltrapilho, que parecia embriagado.
Zeca costuma ler,
refletir e divulgar as mensagens do Evangelho. Não, ele não é evangélico, nem
católico. É espírita.
Então, também lê, reflete
e divulga a mensagem espírita à luz do Evangelho de Jesus. Acrescenta a isso o
estudo das obras de Allan Kardec e do maior brasileiro de todos os tempos: o
médium e espírita cristão Chico Xavier, além das obras de outro grande médium
que ainda se encontra entre nós: Divaldo Franco, entre outras obras.
Zeca disse-me que se
tem esforçado para pôr em prática os ensinamentos sublimes dessas obras.
Simples assim. Não pretende aureolar-se com a luminosidade dos santos, pois
sabe que cometeu e ainda comete muitos erros no relacionamento familiar e
social, mas atento à frase de Allan Kardec de que o verdadeiro espírita é
também verdadeiro cristão, esforça-se em praticar o que aprende nos estudos que
realiza.
Pois bem, no segundo
dia em que passou pelo homem do banco, percebeu que ele parecia estar carente
de auxílio, pelo seu olhar tímido ao lhe responder ao cumprimento.
— Bom dia, senhor!
voltou a cumprimentá-lo Zeca.
— Bom dia, meu jovem.
Respondeu-lhe o homem do banco.
Zeca penalizou-se
dele, mas estava com uniforme de corrida e, além de não possuir nenhum trocado
consigo, nada lhe fora pedido, como da vez anterior.
Foi então que Zeca,
ao se afastar, ouviu do homem do banco um tímido pedido:
— Não me leve a mal,
mas o senhor teria umas roupas usadas e um par de calçado para me dar?
Surpreso com o
pedido, mas sem poder atendê-lo de imediato, Zeca prometeu que na volta da
corrida o atenderia.
Ao retornar do
exercício, nosso amigo não mais viu o pedinte. Dizem que caridade tardia não é
caridade, mas, atento à promessa que fizera, Zeca subiu para seu apartamento,
tomou banho, vestiu uma roupa limpa, perfumou-se, buscou algumas roupas em bom
estado, um par de tênis, pôs tudo isso num saco, e voltou a procurar o homem do
banco, que ali não estava.
Então perguntou a Eurípedes,
o porteiro do seu prédio, se este vira Jesus, que era o nome do homem do banco.
— Eu vi Jesus ainda
há pouco. Talvez o senhor o encontre nas redondezas, seu Zeca. Respondeu-lhe
Eurípedes.
Zeca saiu com a
sacola na mão, deu uma volta pela quadra e — oh! surpresa — eis que se deparou
com Jesus, bastante sujo e com uma garrafa de cachaça na mão.
Ao receber de Zeca o
saco com as roupas e calçado, além de uns trocados, Jesus perguntou-lhe, emocionado:
— Posso dar-lhe um
abraço?
— Pois não, respondeu
Zeca. E este mesmo o abraçou.
Em seguida,
afastou-se e... nunca mais viu Jesus.
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