Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
27 e final
Concluímos
hoje o estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de
autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano
Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo tenha servido para o leitor como uma forma de iniciação aos
chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo foi publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Qual é, segundo Bozzano, a principal característica das comunicações mediúnicas
entre vivos, isto é, entre indivíduos reencarnados?
B.
Que dedução pode ser extraída dessa ordem de fenômenos?
C.
Podemos dizer, assim, que tais manifestações servem para fortalecer a convicção
de que é possível comunicar-nos mediunicamente com os chamados mortos?
Texto
para leitura
377. Dissemos que os fenômenos das “manifestações mediúnicas
entre vivos” se dividem em duas grandes categorias. Quanto à segunda das
categorias indicadas, observou-se que ela é composta de manifestações que se
diferenciam notavelmente entre si, de modo que pareceu indispensável dividi-las
em seis subgrupos, nos quais foram consideradas, sucessivamente, as
mensagens transmitidas inconscientemente ao médium por pessoas
imersas em sono e por pessoas em estado de vigília; depois as mensagens obtidas
por expressa vontade do médium; outras transmitidas ao médium por vontade
expressa de pessoas distantes; depois, os casos de transmissão em que o vivo
comunicante estava moribundo e finalmente as mensagens mediúnicas entre vivos
transmitidas com o auxílio de uma entidade espiritual. (Conclusões)
378. Já no primeiro subgrupo, em que
foram examinadas as mensagens inconscientemente transmitidas ao médium por
pessoas imersas no sono, tivemos oportunidade de salientar uma das maiores
aquisições teóricas trazidas à luz pela presente classificação, ou seja, que a
característica das comunicações mediúnicas entre vivos consiste no fato de que
o agente e o percipiente desenvolvem comumente longos diálogos, os quais
demonstram que já não se trata de fenômeno de transmissão telepática do
pensamento e sim de uma verdadeira e própria conversa entre duas personalidades
integrais, ou espirituais, com as consequências teóricas que daí
decorrem. (Conclusões)
379. Os casos pertencentes ao segundo subgrupo,
no qual foram consideradas as mensagens inconscientemente transmitidas ao médium
por pessoas em estado de vigília, oferecem-nos ocasião de demonstrar a
inexistência presumível de tal forma de comunicações, porquanto não se conhecem
exemplos precisos e definidos que sirvam para demonstrar que uma pessoa em
estado de vigília chegue, involuntariamente, a entrar em comunicação mediúnica
com um sensitivo a distância, sem pensar nele. Como resultado do
fato, dever-se-ia dizer, ao contrário, que para atingir tal fim é necessário
pelo menos que a pessoa em estado de vigília e afastada pense no mesmo instante
e mais ou menos intensamente no sensitivo. (Conclusões)
380. Os casos do terceiro subgrupo, nos
quais são consideradas as mensagens obtidas por vontade expressa do médium,
revestem grande valor teórico. O modo de interpretá-los reflete sua influência
sobre o modo de interpretar uma importante classe de casos de identificação
espírita: a identificação fundada sobre os informes fornecidos pelos mortos a
respeito de sua vida terrena. (Conclusões)
381. Seu valor teórico emerge da circunstância de
que as comunicações entre vivos, quando determinadas por expressa vontade do
médium, confirmam, na aparência, a hipótese pela qual os informes pessoais
verídicos fornecidos pelos supostos espíritos, de mortos comunicantes por meio
dos médiuns, são, ao contrário, retirados pelos médiuns nas subconsciências dos
vivos que conheceram o morto que se afirma presente (telemnesia). (Conclusões)
382. Contudo, ao contrário disso, surge a
confirmação incontestável de que as comunicações mediúnicas entre vivos não
consistem, absolutamente, em um processo telepático, de seleção inquiridora nas
subconsciências alheias por parte dos médiuns, mas consistem, sim, em uma
conversação entre duas personalidades integrais ou espirituais subconscientes,
o que muda completamente os termos da questão, tornando-se insustentável a
hipótese adversa. Abstenho-me de resumir as conclusões a que se chega a tal
propósito, pois que a sua importância exorbita dos limites de uma síntese
conclusiva e reclama ser desenvolvida à parte, o que faremos em breve. (Conclusões)
383. Os casos do quarto subgrupo, que
se referem às mensagens transmitidas ao médium por expressa vontade de uma
pessoa afastada, realizam-se muito raramente, enquanto que tal espécie de
mensagens, com caráter espontâneo, é, ao contrário, bem frequente nos casos de
sono notório ou disfarçado do agente e estes últimos são muito mais importantes
do que o primeiro. (Conclusões)
384. No caso de mensagem transmitida ao médium por
vontade expressa de uma pessoa que se acha a distância, trata-se,
limitadamente, de um fenômeno de transmissão telepático-mediúnica e, portanto,
de mensagem pura e simples, que não assume nunca o desenvolvimento de um
diálogo. (Conclusões)
385. No caso de uma pessoa em sono notório ou
disfarçado, as manifestações tomam muitas vezes proporções de diálogos e,
quando assumem tal caráter, isto significa que já não se trata de um fenômeno
de transmissão telepático-mediúnica do pensamento, mas sim de uma conversação
verdadeira e própria entre duas personalidades espirituais subconscientes, a
menos que se trate de mensagem de vivo transmitida com o auxílio de uma
entidade espiritual. (Conclusões)
386. De qualquer modo, o significado dos casos
pertencentes ao subgrupo em apreço não deixa, por sua vez, de
confirmar a hipótese espírita, porque, se a vontade consciente de um espírito
de vivo pode agir a distância sobre a mão de um médium psicógrafo de modo a
ditar o seu próprio pensamento, nada impede que a vontade consciente de um
espírito de morto consiga agir de maneira semelhante. (Conclusões)
387. Do mesmo modo, se, com base nas comunicações
mediúnicas entre vivos, em que é possível certificar-se da autenticidade do
fenômeno, interrogando as pessoas colocadas nos dois extremos do fio,
fica positivamente demonstrado que a mensagem mediúnica provinha de um espírito
de vivo afastado, que se dizia presente no momento, então quando no
outro extremo do fio se encontre uma entidade mediúnica que afirme ser
um espírito de morto e o prove fornecendo dados ignorados dos presentes,
torna-se teoricamente legítimo inferir daí que, no outro extremo do fio,
deve achar-se efetivamente a entidade do morto que se afirma presente. (Conclusões)
388. Em outras palavras, para ambas as categorias
indicadas deve-se excluir a hipótese das “personificações subconscientes” da
qual tanto se tem abusado atualmente. Nada, portanto, de personificações
efêmeras de ordem onírico-sonambúlica em relação com as comunicações entre
vivos e, em consequência disto, nada de semelhança com respeito às comunicações
com a entidade do morto, que fornecem a prova precisa de identificação
pessoal. (Conclusões)
389. No quinto subgrupo foram
considerados os casos, por sua vez muito raros, em que a pessoa que se comunica
mediunicamente morreu naquele momento ou se encontra moribunda. Esses casos
representam a via de transição entre os fenômenos anímicos e espíritas, e isto
porque, tratando-se de vivos no leito de morte, fica claro que a telepatia
entre vivos por manifestação mediúnica aparece em semelhante circunstância como
o último grau de uma longa escala de manifestações anímicas pela qual se chega
ao limiar da grande fronteira, além da qual não pode haver senão manifestações
telepáticas de mortos, demonstrando-se mais uma vez que não há solução de
continuidade entre as modalidades pelas quais se dão as comunicações mediúnicas
entre vivos e as dos mortos. Em outras palavras, mais uma vez somos levados a
reconhecer que o Animismo prova o Espiritismo. (Conclusões)
390. Finalmente, no sexto subgrupo, no
qual são examinadas as mensagens mediúnicas entre vivos, transmitidas com o
auxílio de uma entidade espiritual, entra-se de velas soltas no grande oceano
das manifestações transcendentais e pode-se demonstrar, a propósito, que a
existência de semelhantes formas de comunicações mediúnicas entre vivos não
pode ser contestada, porque se conhece uma longa série de experiências que não
podem ser explicadas, absolutamente, nem pela telepatia nem pela clarividência
telepática. (Conclusões)
391. Baseados no complexo inteiro das manifestações
analisadas, observo que as comunicações mediúnicas entre vivos constitui uma
das questões mais interessantes e sugestivas que surgem no campo das pesquisas
metapsíquicas, porque por ele é possível chegar-se à certeza científica sobre o
fato muito importante da possibilidade do eu integral subconsciente ou,
em outros termos, para o espírito humano, de entrar em relação com outros
espíritos de vivos, seja mediúnica, seja telepaticamente, ora separando-se
temporariamente de seu próprio corpo somático (bilocação), ora comunicando-se
ou conversando telepaticamente a distância, depois de ser estabelecida a
“relação psíquica”. (Conclusões)
392. Todas essas circunstâncias concorrem para
fornecer as provas da independência que existe entre o espírito humano e o
organismo corpóreo. E, em consequência disto, a demonstração de que o espírito
humano pode passar sem o organismo corpóreo nas suas relações espirituais com
outras pessoas desencarnadas, depois da crise da morte. (Conclusões)
393. Além disto, pela lei da analogia, servem para
desembaraçar o caminho de qualquer obstáculo teórico em relação à possibilidade
de comunicar-se mediunicamente com espíritos de mortos, pois que, uma vez
conseguida a certeza científica da realidade das comunicações mediúnicas entre
vivos, então as comunicações análogas com entidade de mortos tornam-se o
complemento natural das primeiras, salvo sempre a cláusula de que o morto
comunicante demonstre a sua identidade pessoal, fornecendo a seu próprio
respeito informes suficientes, do mesmo modo que os espíritos dos vivos os
fornecem. (Conclusões)
394. Seja dito tudo isto em tese geral, mas, para
conferir toda eficácia às conclusões expostas, é necessário investigar
posteriormente a questão dos limites em que se pode desenvolver a ação telepaticomediúnica
entre pessoas vivas, a fim de determiná-los, eliminando qualquer perplexidade
que porventura se possa suscitar a propósito da autenticidade espírita das
comunicações análogas com as entidades de mortos. (Conclusões)
395. Em nota, a Editora que publicou esta obra no
idioma português lembra que as comunicações mediúnicas de pessoas vivas foram
objeto de longa e minuciosa pesquisa de Allan Kardec na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, em Paris. As comunicações obtidas foram publicadas na
íntegra, pois sempre eram psicografadas, na seção Palestras Familiares
de Além-túmulo, da Revue Spirite. Foram essas as primeiras
pesquisas e as primeiras demonstrações históricas da independência do espírito
em relação ao corpo. Toda a coleção da Revista Espírita, referente
à fase dirigida por Kardec, num total da doze volumes, foi publicada pela
Edicel na coleção das Obras Completas de Allan Kardec. Essas
pesquisas, cuja natureza científica se evidencia nas publicações referidas,
feitas pela Revista, receberam a sanção posterior de outros
investigadores, como Bozzano, que foi um dos que mais compreenderam a
importância científica e procuraram aprofundar a sua significação no campo do
conhecimento. (Nota da Editora)
(Fim)
Respostas
às questões preliminares
A. Qual é, segundo Bozzano, a principal
característica das comunicações mediúnicas entre vivos, isto é, entre
indivíduos reencarnados?
A principal característica desse fenômeno consiste
no fato de que o agente e o percipiente desenvolvem comumente longos diálogos,
que demonstram que já não se trata de fenômeno de transmissão telepática do
pensamento e sim de uma verdadeira e própria conversa entre duas personalidades
integrais, ou espirituais, com as consequências teóricas que daí
decorrem. (Conclusões)
B. Que dedução pode ser extraída dessa ordem de
fenômenos?
As circunstâncias em que tais manifestações se dão
concorrem para fornecer as provas da independência que existe entre o espírito
humano e o organismo corpóreo. E, como consequência disso, a demonstração de
que o espírito humano pode agir sem se valer do organismo corpóreo em suas
relações espirituais com outras pessoas desencarnadas. (Conclusões)
C. Podemos dizer, assim, que tais manifestações servem para fortalecer a convicção de que é
possível comunicar-nos mediunicamente com os chamados mortos?
Sim. Pela
lei da analogia, elas servem para
desembaraçar o caminho de qualquer obstáculo teórico em relação à possibilidade
de comunicar-se mediunicamente com espíritos de mortos, pois que, uma vez conseguida
a certeza científica da realidade das comunicações mediúnicas entre vivos,
então as comunicações análogas com entidade de mortos tornam-se o complemento
natural das primeiras, salvo sempre a cláusula de que o morto comunicante
demonstre a sua identidade pessoal, fornecendo a seu próprio respeito informes
suficientes, do mesmo modo que os espíritos dos vivos os fornecem. (Conclusões)
Observação:
Para acessar a Parte 26 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/08/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html
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