Já escrevi
oportunamente que minha mãe – Anita Borela de Oliveira – desencarnou numa
segunda-feira, seis dias antes do Dia das Mães de maio de 1950, o primeiro dia
consagrado às Mães que passamos sem tê-la fisicamente ao nosso lado.
Como hoje é
Dia das Mães, veio-me à mente, em homenagem a ela, relembrar dois episódios de
sua vida que mostram muito bem como Anita Borela, no exercício de suas
faculdades mediúnicas, atuava em favor dos necessitados.
Eis o
primeiro:
Numa certa
tarde, na entrega de roupas a famílias carentes, alguém chegou com uma linda
jovem perturbada e agressiva que parecia faiscar ódio pelos olhos.
D. Menina,
uma companheira dileta que estava junto de Anita, imediatamente lhe disse:
– Vá, Anita.
Converse com o Espírito que perturba essa jovem e verá que tem o poder,
concedido pelo Pai, de encaminhá-lo. É chegada a hora do seu testemunho.
Ela, com uma
força que não possuía normalmente e com sua candura habitual, pegou a mão da
jovem e lhe disse:
– Oh! Meu
filho. Que buscas? Tens sede de amor e fome do perdão? Ah! Meu filhinho, Jesus
te quer muito a seu lado. Liberta essa menina-moça de tua subjugação. O que
ganhas com isso? Sabe, meu querido, só o amor nos liberta a alma. Queres a liberdade?
Pois entrega-te a ela retirando-te já daí.
O Espírito,
comovido por forte emanação magnética, se libertou, deixando a jovem em estado
normal e livre da constrição que a perturbava. D. Menina e Anita
ministraram-lhe passes e, medicada e alimentada, coisa que não fazia há dias,
pôde voltar ao lar, liberta da influência negativa do Espírito.
Aqui está o
segundo episódio:
Certo dia, quando
lidava com os afazeres domésticos, bateu-lhe à porta um empregado de uma
fazenda próxima, a mando do patrão. Anita ouviu atentamente o fato narrado e,
em seguida, saiu em desabalada carreira junto com o rapaz, que viera em uma
charrete até a sua casa. Pelo caminho ela foi meditando e, na virada da Reta –
uma das ruas da cidade de Astolfo Dutra –, avistou Diogo, um companheiro de
lides espíritas que seguia em sua direção, para ajudá-la.
Logo que
chegaram ao destino, depararam um quadro triste de possessão. Mulher fina, de
tratos nobres, Emília, esposa do fazendeiro, arrastava-se pelo chão como um
animal selvagem. Já havia destruído tudo à sua volta e por pouco não
assassinara o próprio filho.
Diogo e
Anita, sem perda de tempo, oraram fervorosamente a Jesus e, com força e amor,
envolvida pelo Espírito de Abel Gomes, Anita iniciou a doutrinação
reparadora:
– Levanta-te
daí, meu irmão infeliz. Liberta essa criatura de tuas garras e envergonha-te de
tal papel.
Embora
tentasse avançar sobre ela, o Espírito não conseguiu tal intento, pois se
prostrou ao chão pela força do magnetismo de Abel. O esclarecimento prosseguiu:
– Vamos, meu
irmão! Fala como ser humano que és, tu não és bicho.
Um choro de
dor ecoou pela sala e, afogado pela revolta, o Espírito relatou o ódio que
sentia pelo fato de ter sido abortado na juventude por Emília:
– Por que eu?
Por que eu, se agora ela traz no colo um filhinho amado? Eu a amava, queria
estar em seus braços maternais.
Anita
aproximou-se dele e falou-lhe com amor de mãe:
– Ah! meu
filhinho. Não chores assim, um erro não justifica o outro. Tu és vítima, não
queiras tornar-te o algoz. Quanto tempo de abandono, de sofrimento e jamais te
lembraste de pedir alívio a Maria de Nazaré. Ela com certeza te abrigaria nos
braços e te daria o amor que te hão negado. Precisas de ajuda, mas não para
sofrer e sim para ser feliz. Se fosse permitido pelo Pai Celestial, eu te
receberia como meu filhinho querido, mas só posso te oferecer o meu amor
espiritual e te confortar com preces, mas olha em volta e verás quantas
mãezinhas que deixaram seus filhinhos na Terra te querem adotar. Esquece a
Emília. Deus com ela acertará as penas do seu gesto. Quanto a ti, busca a paz
em mãos amigas. Deixa a Emília cuidar do filhinho que Deus lhe deu, pois ela o
faz pensando em ti.
Envolvido por
Espíritos de aspecto feminino, o Espírito abandonou então a mulher e seguiu em
paz.
Anos depois,
Diogo pressentiu, em uma de suas peregrinações costumeiras, a reencarnação
daquele Espírito na fazenda de Emília e viu que ela, sem que ninguém soubesse
explicar o fato, tomou-se de amores pelo menino fazendo dele um filho do coração e
adotando-o mais tarde, em face da desencarnação precoce da mãe.
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