ARTHUR BERNARDES DE
OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG
(De que
maneira o autor agradece o grande presente que a vida lhe deu.)
Dedicatória
À Elizabeth, estrela
em forma de flor que Deus me deu para esposa.
Gratidão
à família
Anita Borela de
Oliveira
Astolfo Olegário de
Oliveira
Marília de Dirceu de
Oliveira Faria
Amaury de Oliveira
Edna de Oliveira
Marly de Oliveira
Ayres de Oliveira
Anita de Oliveira
Eunice de Oliveira
Icléa de Oiveira
Astolfo Olegário de
Oliveira Filho
Ali de Oliveira
Carinho
especialíssimo
Ao irmão Amaury de
Oliveira e aos filhos Ricardo, Denise e Ronaldo
Abrindo
a sessão
Estou fazendo hoje
trinta e três anos de nascimento e sete anos de casado. É a primeira vez
que passo essas datas sozinho. Minha
mulher e meus filhos estão em Guarani, onde, há quarenta dias, matam a saudade
dos pais, parentes e amigos.Não puderam voltar antes, apesar de quererem e eu
cá fiquei só.
Enquanto espero,
resolvi prestar uma homenagem a quem me
tem feito tão feliz. Daí estas páginas. São todas para ela. Páginas íntimas até.
Conheço todas, ou,
pelo menos, quase todas as minhas deficiências. Principalmente as do estilo.
Minha pena não anda, arrasta-se. O cérebro não raciocina, confunde-se. A frase
não agrada, cansa. Mas, para ela, eu sou “o” escritor. E vai adorar estas
coisas. Ela e meu pai. Vejo-o como a vaca de Homero a lamber sua cria.
Além da história,
tentei um gesto de gratidão aos irmãos. Fica clara, em especial, minha
predileção pelo Amaury, nosso caro Dico, a melhor pessoa que conheci nesta
vida.
Creio que ele também
gostará destas páginas.
Provavelmente o Ayres
as achará o máximo, para não fugir ao exagero. O Astolfinho vai sorrir
desconfiado. Aquele rapaz adora sorrir. As manas, creio, não verão muita graça
nisso. E o Zé (Zé Pretinho), invejoso como é,
vai censurar muita coisa. No fundo, no fundo, é por não poder fazer o que eu fiz.
Os amigos, se as lessem, provavelmente gostariam
do que disse sobre eles. Os que não nos conhecem as achariam desconexas, sem
gosto.
Não importa. Não foi
para eles que eu disse essas coisas.
Basta-me o consolo de
saber que atingi o que quis. Deliciar minha esposa e dar-lhe subsídios para as
histórias que conta aos meus filhos. E cumprir um dever. O de mostrar que
também sei ser grato.
Arthur Bernardes de
Oliveira
I – Vai-e-vem incessante
Em 1955, eu já era um
moço cansado. Cansado e insatisfeito.
Sentia-me um ser à procura de alguma
coisa. É provável que eu não soubesse bem, então, a coisa que eu procurava.
Saído do colégio de
Cataguases, no segundo ano do curso clássico em 1950, enfrentei o Rio de
Janeiro, para concluir o curso e cumprir um contrato como jogador de futebol do
América F. C.
Já pelo tropeços da
carreira, já pelos apertos na grande
cidade, o ano de 1951 foi de muito
desgaste. Não tive outra alternativa senão voltar para Astolfo Dutra, em 1952,
com uma aliança no dedo.
De Astolfo Dutra para
Garça, no Estado de São Paulo, depois de um ano de algumas decepções..
Em Garça tentaria,
ainda como profissional de futebol, refazer meus planos e recuperar
energias para iniciar a reconstrução de
minha vida.
Amigado com uma
prostituta, de quem guardo as melhores recordações, vi escoar mais um ano,
1953, sem se confirmarem as esperanças que eu tanto acalentara.
O ano seguinte me
leva de volta a Astolfo Dutra. Estava fundado o Ginásio Municipal Astolfo Dutra
e, como professor, talvez pudesse estabilizar-me afinal.
O ginásio fora um
conto do vigário Ernane Rodrigues.
Os aborrecimentos que
o nefasto estabelecimento nos trouxe, sabemos bem Deus, o Sr. Jarbas e eu.
Chegara o fim do ano
de 1954 e apesar da colocação estadual, que fazia pressupor um princípio de
estabilidade, eu, na verdade, continuava instável.
Minha diversão eram os livros e confesso que em
nenhuma outra fase da vida pude aprender tanto.
A entrada de 1955 se
deu como tantas outras: melancolicamente. Mal poderia eu supor que aquele ano
iria definir, realmente, o rumo de minha
vida.
II – A primeira visão
Em 13 de maio de
1955, acompanhei uma caravana de espíritas à cidade de Guarani.
Íamos abrir, com a
palestra do Astolfo Olegário mais uma semana da mocidade espírita daquela
terra.
Antes da reunião (nós
chegáramos bem cedo, a fim de passar lá o dia todo) Laerte me fala de uma poesia apresentada no programa
“Balança, mas não cai”, sobre as mães, e que fizera muito sucesso. Tratava-se
de “Homenagem ao Dia das Mães”, de Ghiaroni, lida pelo radioator Paulo
Gracindo, na sexta-feira última.
Pedi-lhe a cópia e
ambos fomos aproveitar uma máquina de escrever de D. Elza Baesso, líder do
movimento espírita de Guarani.
Ao entrarmos, fui
apresentado ligeiramente a uma mocinha, filha da casa, na sala de visitas. Lembro-me
como se fosse hoje. Estava vestida com uma roupa modesta, de listinhas suaves.
Vestido caseiro.
Confesso que não a
achei bonita, mas uma coisa a marcou lá dentro de mim, gostando daquela
apresentação.
Fomos para o armazém,
onde estaria a máquina, e lá voltei a ver aquela menina, rapidamente, já que
ela nos fora levar o caderno em que estava copiada a poesia que queríamos.
Depois... não me
lembro de mais nada. Sei que voltamos para casa, depois de um dia feliz,
levando conosco a boa impressão produzida pela palestra do Sr. Astolfo e a
satisfação das boas horas passadas com aquela gente amiga.
De nada mais me
lembro daquele domingo distante. Lembro-me, no entanto, muito bem, do que se passou, ainda em
Guarani, quinze dias depois. (Continua.)
Nota:
O texto acima
faz parte do livro ainda inédito intitulado “A história que eu sei contar”,
escrito por Arthur Bernardes de Oliveira e concluído no dia 28 de julho de
1964, exatamente há 49 anos. O livro compõe-se de 20 capítulos e será aqui
publicado ao longo de dez semanas, sempre aos sábados.
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