domingo, 28 de julho de 2013

A história que eu sei contar

ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG

(De que maneira o autor agradece o grande presente que a vida lhe deu.)

Dedicatória

À Elizabeth, estrela em forma de flor que Deus me deu para esposa.

Gratidão à família

Anita Borela de Oliveira
Astolfo Olegário de Oliveira
Marília de Dirceu de Oliveira Faria
Amaury de Oliveira
Edna de Oliveira
Marly de Oliveira
Ayres de Oliveira
Anita de Oliveira
Eunice de Oliveira
Icléa de Oiveira
Astolfo Olegário de Oliveira Filho
Ali de Oliveira

Carinho especialíssimo

Ao irmão Amaury de Oliveira e aos filhos Ricardo, Denise e Ronaldo

Abrindo a sessão

Estou fazendo hoje trinta e três anos de nascimento e sete anos de casado. É a primeira vez que  passo essas datas sozinho. Minha mulher e meus filhos estão em Guarani, onde, há quarenta dias, matam a saudade dos pais, parentes e amigos.Não puderam voltar antes, apesar de quererem e eu cá fiquei só.
Enquanto espero, resolvi  prestar uma homenagem a quem me tem feito tão feliz. Daí estas páginas. São todas para ela.  Páginas íntimas até. 
Conheço todas, ou, pelo menos, quase todas as minhas deficiências. Principalmente as do estilo. Minha pena não anda, arrasta-se. O cérebro não raciocina, confunde-se. A frase não agrada, cansa. Mas, para ela, eu sou “o” escritor. E vai adorar estas coisas. Ela e meu pai. Vejo-o como a vaca de Homero a lamber sua cria.
Além da história, tentei um gesto de gratidão aos irmãos. Fica clara, em especial, minha predileção pelo Amaury, nosso caro Dico, a melhor pessoa que conheci nesta vida.
Creio que ele também gostará destas páginas.
Provavelmente o Ayres as achará o máximo, para não fugir ao exagero. O Astolfinho vai sorrir desconfiado. Aquele rapaz adora sorrir. As manas, creio, não verão muita graça nisso. E o Zé (Zé Pretinho), invejoso como é,  vai censurar muita coisa. No fundo, no fundo, é  por não poder fazer o que eu fiz.
Os  amigos, se as lessem, provavelmente gostariam do que disse sobre eles. Os que não nos conhecem as achariam desconexas, sem gosto.
Não importa. Não foi para eles que eu disse essas coisas.
Basta-me o consolo de saber que atingi o que quis. Deliciar minha esposa e dar-lhe subsídios para as histórias que conta aos meus filhos. E cumprir um dever. O de mostrar que também sei ser grato.

Arthur Bernardes de Oliveira
Em Santa Rita de Caldas, 28/07/1964.

I – Vai-e-vem incessante

Em 1955, eu já era um moço cansado. Cansado e  insatisfeito. Sentia-me  um ser à procura de alguma coisa. É provável que eu não soubesse bem, então, a coisa que eu procurava.
Saído do colégio de Cataguases, no segundo ano do curso clássico em 1950, enfrentei o Rio de Janeiro, para concluir o curso e cumprir um contrato como jogador de futebol do América F. C.
Já pelo tropeços da carreira, já pelos apertos  na grande cidade, o ano de 1951 foi  de muito desgaste. Não tive outra alternativa senão voltar para Astolfo Dutra, em 1952, com uma aliança no dedo.
De Astolfo Dutra para Garça, no Estado de São Paulo, depois de um ano de  algumas decepções..
Em Garça tentaria, ainda como profissional de futebol, refazer meus planos e recuperar energias  para iniciar a reconstrução de minha  vida.
Amigado com uma prostituta, de quem guardo as melhores recordações, vi escoar mais um ano, 1953, sem se confirmarem as esperanças que eu tanto acalentara.
O ano seguinte me leva de volta a Astolfo Dutra. Estava fundado o Ginásio Municipal Astolfo Dutra e, como professor, talvez pudesse estabilizar-me afinal.
O ginásio fora um conto do vigário Ernane Rodrigues.
Os aborrecimentos que o nefasto estabelecimento nos trouxe, sabemos bem Deus, o Sr. Jarbas e eu.
Chegara o fim do ano de 1954 e apesar da colocação estadual, que fazia pressupor um princípio de estabilidade, eu, na verdade, continuava instável.
Minha  diversão eram os livros e confesso que em nenhuma outra fase da vida pude aprender tanto.
A entrada de 1955 se deu como tantas outras: melancolicamente. Mal poderia eu supor que aquele ano iria definir, realmente, o rumo de minha  vida.

II – A primeira visão

Em 13 de maio de 1955, acompanhei uma caravana de espíritas à cidade de Guarani.
Íamos abrir, com a palestra do Astolfo Olegário mais uma semana da mocidade espírita daquela terra.
Antes da reunião (nós chegáramos bem cedo, a fim de passar lá o dia todo)  Laerte me fala  de uma poesia apresentada no programa “Balança, mas não cai”, sobre as mães, e que fizera muito sucesso. Tratava-se de “Homenagem ao Dia das Mães”, de Ghiaroni, lida pelo radioator Paulo Gracindo, na sexta-feira última.
Pedi-lhe a cópia e ambos fomos aproveitar uma máquina de escrever de D. Elza Baesso, líder do movimento espírita de Guarani.
Ao entrarmos, fui apresentado ligeiramente a uma mocinha, filha da casa, na sala de visitas. Lembro-me como se fosse hoje. Estava vestida com uma roupa modesta, de listinhas suaves. Vestido caseiro.
Confesso que não a achei bonita, mas uma coisa a marcou lá dentro de mim, gostando daquela apresentação.
Fomos para o armazém, onde estaria a máquina, e lá voltei a ver aquela menina, rapidamente, já que ela nos fora levar o caderno em que estava copiada a poesia que queríamos.
Depois... não me lembro de mais nada. Sei que voltamos para casa, depois de um dia feliz, levando conosco a boa impressão produzida pela palestra do Sr. Astolfo e a satisfação das boas horas passadas com aquela gente amiga.
De nada mais me lembro daquele domingo distante. Lembro-me, no entanto,  muito bem, do que se passou, ainda em Guarani, quinze dias depois. (Continua.)

Nota:

O texto acima faz parte do livro ainda inédito intitulado “A história que eu sei contar”, escrito por Arthur Bernardes de Oliveira e concluído no dia 28 de julho de 1964, exatamente há 49 anos. O livro compõe-se de 20 capítulos e será aqui publicado ao longo de dez semanas, sempre aos sábados.



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