ARTHUR BERNARDES DE
OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG
Meu pai ficou
viúvo aos quarenta e dois anos de idade. Isso, no dia 8 de maio de 1950. Minha
mãe, ao partir, levava no ventre aquela que seria sua sétima filha, e deixava
onze filhos para meu pai, sozinho, acabar de criar.
Não foi
difícil, no entanto. A primogênita, Lila, vinte e dois anos, já estava
casada. O primeiro filho homem, Amauri,
vinte e um anos, profissional, cruzava, de caminhão, as estradas desse imenso país. Eu, dezenove,
tentava concluir o curso clássico, internado no Colégio de Cataguases. Edna,
17, e Marli, 15, assumiam as tarefas da casa, ajudadas pelas irmãs menores (Anita,
Eunice e Icléa) que começavam a aprender como arrumar uma casa. Ayres, 12 anos,
estava começando seus estudos em Cataguases. Astolfo Filho ,
5 anos, e Ali, 3 anos, só queriam saber de brincar.
Minhas irmãs,
por isso mesmo, não conseguiram fazer nenhum curso. Somente mais tarde, mas
muito mais tarde mesmo, é que algumas conseguiram diploma universitário. Os
homens também. Muito tempo depois é que alguns deles conseguiram, como as irmãs,
passar por alguma universidade e concluir algum curso.
Minhas irmãs
não aprenderam na escola. Mas aprenderam na vida. Desde cedo assimilaram a arte
da tesoura, da agulha e do fogão. A mãe, em sua curta passagem por aqui,
ensinou às mais velhas e essas repassaram o que aprenderam às mais novas. E
como tem valido a todas a experiência que colheram!
Apenas um
exemplo: Anita, a irmã do meio, casou-se muito bem com um rapaz muito sério e
muito trabalhador. Ele, comerciante respeitado e dinâmico, acumulava sucessos
na carreira que escolhera. Tiveram filhos. Cinco: três homens e duas mulheres.
Mas o comércio costuma preparar surpresas. E o marido da Anita foi colhido por
uma dessas surpresas. Quebrou. Perdeu tudo: a casa, o nome, a iniciativa, a
vontade de viver. Eis que Anita assume o
seu papel. E vai ao fogão. E faz
salgados pra fora. E assume compromissos nessa área. Responde por bufês em
festas de casamento, batizados, formaturas. A freguesia se multiplica. E Anita
recupera a casa, o crédito, a disposição do marido. E patrocina o estudo dos
filhos. E todos se formam. E todos a ajudam nas tarefas da cozinha. E o marido
se incorpora à tarefa. E a vida se renova!
Claro! Eu
espero que nenhuma de vocês tenha que passar pelos problemas que a minha irmã
enfrentou. Peço todos os dias a Deus que lhes dê um futuro sempre risonho.
Saúde, bem-estar, boa situação financeira e muita disposição para o amor. Mas
peço também que, mesmo que vocês dele nunca venham a precisar, Deus lhes
conceda o dom do conhecimento, sobretudo o conhecimento das coisas simples da
vida, para que vocês, em qualquer tempo, sejam quais forem as condições que a
vida lhes apresentar, estejam preparadas para vencer. São os votos de quem ama,
com paixão, todas vocês.
Este texto
foi escrito pelo autor – meu irmão – quando suas netas eram ainda crianças, mas
seu conteúdo é atemporal e constitui um belo registro de coisas importantes na
vida de todos nós que nele figuramos. (Astolfo O. de Oliveira Filho)
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