Depois de
ouvir uma interessante palestra em que tanto se falou na transição que se opera
em nosso mundo, é difícil compreender a confusão que se verifica na Terra, às
voltas com sérios problemas políticos, econômicos, sociais e ambientais.
Na Europa a
crise econômica e suas inevitáveis consequências, como as greves, abatem-se
sobre inúmeros países, como a Grécia, por exemplo. Na Espanha, a taxa de
desemprego vem atingindo níveis surpreendentes. Na Síria e no Egito, como de
resto em diversos lugares do mundo, os conflitos persistem, como a indicar que
a nossa amada Terra continua sendo, na feliz expressão usada por Emmanuel, uma
“casa em reforma”.
Casa em
reforma – cremos que ninguém ignora – lembra confusão, pessoas entrando e
saindo, coisas fora do lugar, uma espécie de caos que deixa em seus moradores a
impressão de que aquilo jamais terá fim.
Diante disso
surge, então, uma pergunta que volta e meia nos fazemos: – Onde foi que
erramos? Por que o mundo chegou a este lamentável estado?
A pergunta
não deveria, evidentemente, ser feita pelos adeptos do Espiritismo. Afinal, se
existe uma doutrina, uma religião, um movimento de ideias que nenhuma
responsabilidade tem por esse estado de coisas, essa doutrina é o Espiritismo.
A razão é
muito simples. Apesar de estarmos em pleno século 21, o Espiritismo não chegou
– como Kardec certamente imaginava – à fase em que teria influência sobre os
rumos da sociedade, fato que só se dá em alguns lugares, muito poucos, e em
nível individual. É o cidadão que saiu da depressão, é o alcoólatra que se
reabilitou, é o criminoso que mudou de vida, é o mau esposo que agora respeita
a mulher, é o homem desonesto que percebeu que desonestidade não vale a pena, é
a criatura infeliz que se reencontrou na vida e a encara agora com otimismo, e
inúmeros casos semelhantes.
Seria, com
efeito, pretensão exigir influência sobre a ação social e política de uma
doutrina codificada na França que nem aí, onde surgiu, é conhecida, porque na
França, como bem sabemos, Allan Kardec e sua obra continuam sendo ignorados
pela imensa maioria da população, enquanto conterrâneos seus que nos legaram
uma obra menor são reverenciados.
Preocupa-nos,
por causa disso, essa insistência de autores e conferencistas espíritas em
falar tanto sobre a proximidade do Mundo de Regeneração, pois os sinais que aí
estão mostram de forma muito clara que este planeta terá de cumprir, ainda, um
longo período de ajustes com seu passado de guerras, exploração, tortura,
escravidão e uma vasta coleção de diferentes crimes.
O Espiritismo
esclarece-nos como se dão tais ajustes, que implicam a necessidade absoluta da
expiação bem como da reparação dos malefícios causados aos povos, aos
indivíduos e às nações.
Faz pouco
mais de 70 anos que a França, a Inglaterra, a Itália, a Polônia e os soviéticos
viveram o drama causado pelo nazismo, que destruiu a Alemanha e quase extinguiu
os descendentes do povo israelita. E, depois disso, ainda tivemos as guerras da
Coreia, do Vietnã, do Afeganistão, do Iraque e dezenas de conflitos, uns
maiores, outros menores, cujos crimes terão de ser expiados e reparados.
Com relação
ao que nós espíritas fazemos hoje, pensamos que se repete agora o que foi feito
pelos cristãos primitivos, que se escondiam nas catacumbas para poderem ouvir
falar de Jesus e jamais imaginaram que um dia eles dominariam o mundo, embora
esse domínio nada tenha valido para o aprimoramento espiritual do planeta.
Poucos
séculos atrás, os reis da Europa – que dominava o mundo – eram todos cristãos e
o Cristianismo detinha na Terra todo o poder, o que não impediu que ocorressem
as guerras, a Inquisição, a exploração, a dizimação das minorias, fato que nos
leva a concluir que a edificação do novo mundo, do mundo regenerador, do mundo
da paz e da concórdia será o resultado de uma construção espiritual em que o
homem, quitando seu passado sombrio, se decida por uma nova vida, com novos
ideais e compromissos bem diferentes dos que caracterizam a sociedade atual.
Enquanto isso
não ocorrer, continuarão as guerras, as ações terroristas, as crises, as
greves, os flagelos, as doenças, o sofrimento.
Cabe, pois, a
nós espíritas, com as parcas possibilidades que detemos, divulgar a mensagem,
trabalhar, atuar no bem, mostrar o caminho que facilitará as coisas para as
gerações que virão, imbuídas certamente de novos sentimentos, indispensáveis
para que nosso planeta possa galgar o novo estágio evolutivo e transformar-se,
de fato, em um Mundo
de Regeneração, como Santo Agostinho (Espírito) nos apresenta no cap. III d´ O Evangelho segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec.
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