Último instante
Manuel da Silva
Lobato
Tudo parece agora o
termo do caminho...
O velho carrilhão
bate as horas na sala:
É a palavra do tempo
ao coração que estala,
Afirmando, cruel, que
partirei sozinho.
Lá fora, ruge o vento
ululante e escarninho.
Fito, além da janela.
O céu de cinza e opala...
“Adeus! Adeus!
Adeus!...” – geme o peito sem fala,
Algemado à aflição de
estranho pelourinho.
Desce, torva, no
olhar, a noite em que me espanto,
Resume-se a
existência às gotas de meu pranto.
Silêncio, sombra,
nada... A morte, a despedida...
Mas súbito clarão
rasga as trevas do quarto.
Ai! o corpo é grilhão
de que enfim, me descarto,
Para exaltar,
cantando, o esplendor de outra vida!
Manuel da Silva Lobato nasceu no Recife-PE
em 10/9/1886 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 4 de junho de 1931. Foi poeta e
jornalista e, como tal, desempenhou as funções de redator do Diário de
Notícias, no Rio de Janeiro. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra
psicografada pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira.
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