Desilusão
Antero de Quental
Quem sou eu? Quem sou
eu? No abismo escuro
Do meu atribulado
pensamento
Sinto ainda as áscuas(1)
do pavor violento
Em que andei como nau
sem palinuro!(2)
E... ouço uma voz: “Tu
és verme obscuro
Vitimado no grande
desalento,
Que procurou a mágoa
e o sofrimento
Sem caridade, o amor
sagrado e puro”.
Ó promessas do “nada”
inexistente!...
A morte abriu-me as
portas do presente
Amargo e interminável
pela dor;
Infeliz do meu ser fraco
e abatido,
Pois o anseio de
nada, paz e olvido
Foi apenas um sonho
enganador!
(1) Áscua – brasa;
chispa que se desprende do ferro em brasa ao ser malhado.
(2) Palinuro – piloto,
guia.
Do livro Lira Imortal, obra ditada por Espíritos Diversos, psicografada pelo médium Francisco Candido Xavier.
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