JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo, vou contar-lhe uma
história emocionante, que presenciei tão logo retornei à morada dos pés juntos.
Recebido com certa cerimônia,
encontrei aqui inumeráveis amigos que me reverenciaram pelos imerecidos méritos
supostamente conquistados por minha atividade literária nas terras do Cruzeiro
do Sul. Terminados os abraços de congratulação, revi Carolina, aureolada de luz
e, confesso-lhe, amiga leitora, fiquei constrangido diante dela, pois meu
lusco-fusco era treva ante o brilho espiritual de minha amada.
Foi quando a ouvi dizer:
— Obrigada, amor, pelo belo e
imortal soneto que dedicaste a mim.
E beijou-me, carinhosamente, a
mão envergonhada que tentava em vão ocultar-se-lhe dela. (Não ligue para o
pleonasmo, sou assim mesmo, pleno de trocadilhos.)
Após longas horas de
tête-à-tête inefável, que a mim me pareceram minutos, Carola brindou-me com uma
metáfrase do meu soneto À Carolina, agora intitulada Ao Machadinho:
Querido,
aqui no mundo verdadeiro
Em
que o descanso é pura fantasia,
Aqui
estamos, libertos da ironia
Que
plantaste na Terra do Cruzeiro.
Pulsa-nos
este afeto alvissareiro
Que,
a respeito de toda a humana vida,
Fez
a nossa existência engrandecida
E
nos meus braços pôs meu companheiro.
Trago-te
luzes, — focos conquistados
Na
Terra que nos viu passar unidos
E
ora vivos nos deixa e aproximados.
Que
eu, se tenho nos olhos bem tecidos
Pensamentos
de vida realizados,
São
pensamentos lindos, renascidos.
Agradeci-lhe o imenso carinho,
guardei no bolso o belo soneto-resposta e, convidado a visitar um nosso amigo
recém-liberto, acompanhei-a embevecido.
Era um ex-ateu (Por incrível
que pareça, aqui também ainda há ateus e pessoas de bom-senso). Seu nome, que
importa? Suas obras, sim, foram de grande repercussão no mundo físico.
Era uma pessoa de bom-senso...
Fora casado com uma dama
espírita altamente abnegada e profunda conhecedora das obras de Kardec, que exercia
a profissão de professora e líder espírita num Estado brasileiro.
Médico clínico e cirurgião,
nosso amigo nunca deixou de atender, gratuitamente, aos pacientes pobres que
lhe eram encaminhados pela esposa, às instituições beneficentes, ou mesmo aos
que ele percebia não terem condições financeiras de lhe pagar a consulta.
Um belo dia, observou um
estranho caroço nas costas, mas não deu muita atenção. Quando a esposa soube,
tempos após, não deixou de comentar:
— Bem diz o ditado: “Casa de
ferreiro, espeto de pau”. Há quanto tempo você notou esse caroço nas costas?
— Para ser-lhe sincero, há seis
meses, mas agora ele parece estar crescendo muito rápido. Procure imediatamente
um dermatologista e peça-lhe que faça uma biópsia do caroço.
Ele brincou:
— É assim mesmo. Basta estarmos
casados com um profissional de qualquer área para já nos tornarmos entendidos
em tudo de sua profissão... Lá vem você com biópsia. Daqui a pouco vai
descrever, anatomicamente, todos os meus sinais corporais.
Ela sorriu e respondeu-lhe:
— Só esse caroço de seu corpo,
talvez o mais importante, não fora notado por mim...
— É porque ele estava
escondidinho atrás de minha escápula.
— Então, crápula — brincou a
esposa – trate de mandar examinar sua escápula, se não você não me escapa.
E riram-se bastante...
Ao final daquele dia, porém, o
Dr. Elisário Bonfim chegou a casa menos alegre que de costume. Ao lhe ser
perguntado pela esposa o que estava acontecendo com ele, respondeu-lhe, grave:
— Estou com um câncer em estado
avançado de aparecimento. O prognóstico de sobrevivência é de cem por cento...
Se a sua crença for verdadeira...
Ela então percebeu que, mesmo
diante da morte física certa, o marido não perdia o bom humor. Convidou-o a
orar e participar dos grupos de cura das instituições espíritas que presidia,
mas ele foi irredutível:
— Se nunca orei antes e nunca
recorri ao tratamento espiritual, não será agora que o farei.
Ela se conformou. Reuniu todas
as forças possíveis e todos os irmãos conhecidos do movimento espírita local e
passaram a fazer, diariamente, preces em benefício do Dr. Bonfim, considerado
um benfeitor por inúmeras pessoas.
De nada adiantou... Seis meses
após a constatação do câncer, utilizando-se de todos os recursos que a medicina
proporciona, realizando inumeráveis sessões de radioterapia, o câncer
metastaseou-se até mesmo para o cérebro e o agora ex-médico ateu veio a ter-se
conosco. (Trocadilhinho infame, Machado.)
— Onde ele está? Perguntei à
Carola.
Nesse exato momento,
aproximou-se um senhor de aparência jovial e irradiando intensa luz, que me foi
apresentado por minha meiga Carolina:
— Eis aqui o Dr. Elisário.
— Em que posso ajudá-lo? —
perguntou-me ele.
Visite o blog Jorge, o
sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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