A sociedade terrena encontra-se mergulhada numa
situação muito difícil.
A um só tempo os órgãos de comunicação nos mostram
pessoas que morrem à míngua em diversos países do planeta, multidões vitimadas
por flagelos naturais inúmeros, crianças sem abrigo, jovens que partem deste
mundo após um aborto malsucedido, políticos flagrados com o dinheiro da
corrupção, oculto até nas meias, e, por fim, a busca da legalização da
eutanásia em países diversos, como já ocorreu, anos atrás, na Holanda.
Se acrescentarmos a isso as tribulações pessoais,
veremos mais: o drama dos que se encontram desempregados, os jovens que buscam
nas drogas ou no suicídio a solução para os seus dilemas e a falência moral dos
tempos modernos, que engendra o crime, a violência, a corrupção e o desespero,
até mesmo em um país como o nosso, rico por natureza e onde o povo se intitula
garbosamente adepto do Cristianismo.
Afinal, quem somos e que queremos?
Como Allan Kardec escreveu certa vez, se a Humanidade
fosse considerada somente pelo ângulo da vida no planeta Terra, poder-se-ia
concluir que a espécie humana triste coisa é. Seria como se analisássemos a
população de uma grande cidade levando-se em conta somente os enfermos de um hospital
ou os detentos de uma penitenciária. Ora, uma cidade não se resume aos que
vivem nos referidos locais, mas é a reunião de todos os elementos que a
compõem: os enfermos, os criminosos, as pessoas sadias, os pobres, os ricos, os
velhos, os jovens e as crianças.
Desse modo, assim como em uma penitenciária não se
encontra toda a população da cidade, a Humanidade não se acha inteiramente na
Terra. Os Espíritos não pertencem exclusivamente ao nosso orbe. Existem muitas
moradas na casa do Senhor, conforme Jesus fez questão de nos revelar, e todas
elas são necessárias para o nosso progresso.
No planeta em que vivemos ocorre o que muitos chamam
de estranho paradoxo. O avanço científico extraordinário dos últimos cem anos
coincidiu com a eclosão de duas guerras mundiais e com o estado de alerta
permanente dos povos que temeram por muito tempo, com razão, o advento de uma
terceira grande guerra, que certamente seria a última.
A contradição apontada por alguns é, porém, falsa,
porque o planeta sempre esteve envolto em guerras. Estas têm
marcado a história da Humanidade terrena. Como o progresso científico
verificado no globo não foi acompanhado de um equivalente progresso moral,
tem-se a impressão de que se verifica na Terra um processo de involução ou
retrocesso, quando o que ocorre é, efetivamente, uma revolução, derivada dos
séculos de tortura, perseguições, exploração e morte, cuja finalidade é limpar
o terreno para as futuras gerações comprometidas com a paz e a justiça social.
Nesse sentido, devemos ter sempre em mente estas
palavras de Jesus: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. (Cf.
Mateus 5:5.)
Nunca será demais repetir que a morte e a reencarnação
estabelecem um sistema de trocas entre o plano material e o plano espiritual. A
morte leva daqui, todos os dias, as gerações acumpliciadas com a velha ordem. A
reencarnação traz de novo à cena os seres que, havendo por aqui passado
inúmeras vezes, retornam com novas ideias e ânimo redobrado no sentido de
estabelecer o reino de Deus na Terra.
É necessário, porém, que as ideias materialistas,
fortalecidas pelo materialismo dos que se intitulam cristãos, não concorram
para o efeito contrário, que seria a destruição em vez da preservação desta
morada acolhedora que dá o alimento e o amparo a todos os que a buscam com
espírito de tolerância, trabalho e solidariedade.
O estado de fome e penúria em que vivem muitos povos é
um fenômeno antes moral que econômico, visto que ninguém ignora que os recursos
aplicados na arte da guerra são mais que suficientes para erradicar a miséria e
implantar as escolas de que o mundo carece.
Não devemos chegar, obviamente, ao ponto de somente
mirar as coisas do céu. Em tudo, o meio termo é sinônimo de bom senso. Mas não
deixemos que a visão estreita da vida, esse materialismo desenfreado que nos
consome, aniquile as possibilidades imensas que se encontram à nossa disposição
para o nosso crescimento no rumo do infinito, o qual nos aguarda a todos,
queiramos ou não, seja qual for a concepção que tenhamos da vida.
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