CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Já se contavam muitas folhas
amassadas e jogadas no lixo. E a impaciência de ainda não conseguir escrever
uma carta para o seu grande amor começava a ser bastante evidente no olhar de
Gabrielle.
Fazia um tempo considerado que
não conviviam de corpo e alma, no entanto, as inúmeras lembranças eram vivas,
retomadas, reais, até o toque das mãos, Gabrielle podia sentir, o cheiro do
nobre ausente, o sorriso, o olhar, as palavras ditas com calma, característica
nata de Leone, a calma.
Finalmente a mão ainda delicada
da mulher segurando a caneta começou a formar as letras... palavras...
frases... orações... períodos... sempre com a essência do mais profundo
sentimento: o amor. E quanto se amaram e se amavam.
E a página começou a ser
preenchida por uma felicidade plena direcionando-se à eternidade.
Assim, esta carta começou a ser
formada:
“Amor
dos meus dias.
Quanta
emoção poder escrever-te estas palavras, embora tão selecionadas, ainda muito
incapazes de iniciar sequer a abordagem do tão eterno e imensurável amor por
ti.
Todo
este tempo, distantes, só serviu para emancipar meu sentimento e te amar com o
mais pleno amor que meu coração já pôde vivenciar.
Lembro-me
da doçura do pôr do sol a teu lado; da brisa suave refrescando nosso olhar...
olhar do amor pleno e restaurado a cada amanhecer pela convivência, dias tão
intensos de felicidade.
Como
te amo, amor meu.
Como
te aguardo no nosso tempo.
Sei
que por ti, descobri amor intenso e verdadeiro.
Ah...
dias inconsoláveis... derradeiros dias.
Mas
o amparo me chega e peço por ti também, que me é parte minha por tanto amor por
ti sentir.
Face
com olhos tão familiarizados e bons, olha-me nestes meus olhos que tanta
saudade têm de te olhar.
Meu
amor, dá-me tuas mãos para que eu possa me segurar e tê-las entre as minhas
carinhosamente.
Ah,
quanta saudade... quanta saudade!
Quero
mais uma vez repousar em teu peito e tão segura e amada me sentir.
Oh...
amor dos meus dias!”
Com as lágrimas escorrendo no
rosto já vivido por uns aproximados setenta anos, a senhora Gabrielle adormeceu
em sua cadeira de leitura de tantos anos atrás. Como se estivesse junto de seu
Leone, deixou a mão estendida querendo sentir a mão dada de seu amor.
Recebeu as energias benfazejas
de amigos sutis e, adormecida, continuou. Quanta emoção sentira.
E Leone, ainda mais emocionado,
aproximou-se. Tocou o cabelo gris da companheira de tantas jornadas e o amor o
tomou por inteiro.
Tanto a acariciou na face, nas
mãos... sentiu o calor de seu corpo que há muito não sentia.
E bem baixinho, falou à
companheira:
– “Oh, minha vida! Quanta
saudade de ti. Quantas estações vividas com essa ausência, no entanto, agora
estamos aqui de mãos entrelaçadas. Oh, amor dos meus dias.”
Assim ficaram, Leone, desperto,
consciente, e Gabrielle, em sono profundo, corpo descansado na poltrona, na
qual tantos livros, ela já havia lido.
Tudo a seu tempo.
Embora estivessem em mundos
distintos, o sentimento amoroso os unia. O pensamento, energia instantânea,
alcança o destino imediatamente. E o amor os ligava como um feixe luminoso.
Leone já tinha completado há
alguns anos mais um cumprimento de seu dever no campo terreno e estava agora na
eternidade dos dias. Entretanto, Gabrielle havia de continuar no plano ainda
onde se encontrava até o momento necessário do acordo firmado na última estada
na erraticidade.
Reencontrar-se-iam, o que é tão
natural, mas enquanto isso, mesmo com a separação efêmera, continuariam ligados
pelo mais nobre sentimento: o amor de puro coração; amor que alcança o mais
recôndito ser em tempo e espaço, liberta as algemas da consciência e traz o
renascimento para os campos floridos de luz, paz e felicidade.
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