A primeira pedra
Francisca
Clotilde Barbosa Lima
A
multidão tumultua
Em
cada canto da praça.
Algemado,
em plena rua,
É
um homem triste que passa...
Há
gritos no Sol a pino...
São
vozes a descompor:
–
“Donde vieste, assassino?
Celerado!
Matador!... ”
–
“Fera solta! Condenado!
Gatuno!
Monstro! Quem és?”
E
o infeliz disse, cansado,
Mal
se aguentando nos pés :
–
“Por Deus, poupai-me a lembrança!
Basta
a aflição que me corta...
Eu
fui aquela criança
A
quem cerrastes a porta."
“Fui
o pequeno mendigo
Que
todos vistes passar!
Vede
a miséria em que sigo,
Sem
a esperança de um lar!...”
“Faminto,
descalço e roto,
A
minha vida era assim...
Cresci
na lama do esgoto,
Nunca
tive alguém por mim...”
Bebendo
o pranto que rola,
Suspirou,
em conclusão :
–
“Debalde pedia escola,
Debalde
pedia pão.”
Toda
a praça silencia.
Somente
vibram no ar
Os
soluços da agonia
De
pobre mãe a chorar...
Francisca
Clotilde Barbosa Lima nasceu em
S. João de Inhamuns, hoje Tauá, Ceará, em 19 de outubro de
1862 e faleceu em Aracati, Ceará, em 8 de dezembro de 1935. Poetisa, contista e
romancista, exerceu o magistério até os últimos dias de sua existência terrena,
tendo sido a primeira mulher a lecionar na primeira Escola Normal do Estado do
Ceará. O poema acima integra o livro Antologia
dos Imortais, obra mediúnica psicografada pelos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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