JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Então você ainda não entendeu, ignaro,
que minha filosofia é muito superior a todas as outras? Pois fique sabendo,
Rubião, que sou a reencarnação de Santo Agostinho e retornei à Terra com o
exclusivo intento de lhe trazer a mais perfeita e, consequentemente, melhor
filosofia de vida que a humanidade pode almejar: o Humanitismo.
Assim falava Quincas Borba a Rubião,
quando lhe escreveu sua derradeira carta, antes de lhe transmitir toda a sua
fortuna e lhe impor uma única condição: cuidar de seu cachorro, também chamado
Quincas Borba. Imaginava o dono que, tão logo morresse, poderia continuar
vivendo caninamente. “[...] Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no
nome do meu bom cachorro. Ris-te, não?”(cap. V).
O que eu, Machado, consegui ocultar com
perfeição, até ser “desmascarado” por Joteli, é que o Humanitismo é um
neologismo criado por mim como paródia ao Espiritismo, que ainda não conseguira
entender, plenamente, em 1881 e 1991, anos das publicações, respectivas, dos
meus romances intitulados Memórias
póstumas de Brás Cubas e Quincas
Borba. Quer exemplos?
Leia, amigo leitor e bela leitora, o que
disse o personagem Quincas: “Quem sou eu, Rubião? Sou Santo Agostinho. Sei que
há de sorrir, porque você é um ignaro, Rubião; a nossa intimidade permitia-me
dizer palavra mais crua, mas faço-lhe esta concessão, que é a última. Ignaro!”
(cap. X).
Já em conversa com Brás Cubas (cap.
XLVII de Memórias póstumas...), eu
repetia: “O Humanitismo há de ser também uma religião, a do futuro, a única
verdadeira”.
Em 1878, eu já criticava o Espiritismo,
que confundia com sonambulismo, juntando, assim, efeito com causa, pois nem
todo sonâmbulo é espírita e, consequentemente... (Notas semanais, V, de 16 jun.
1978).
Mas foi em 5 de outubro de 1885 que, ao
adentrar pela fechadura, no salão de conferências da FEB, ouvi o orador dizer
que o Espiritismo substituiria todas as religiões do passado (Balas de estalo). Daí, em 1891 ter dito
Quincas Borba que o Humanitismo é que era a religião verdadeira.
Agora leia o que mais escrevi com ironia
numa de minhas crônicas, sobre o Espiritismo: “Essa doutrina, eu, que algumas
vezes me ri dela, venho proclamá-la bem alto como a última e verdadeira.” (A Semana, 23 set. 1894).
Como errar é prerrogativa da juventude,
Allan Kardec também, aos 30 anos, defendendo, num de seus artigos, as aulas de
ciências para as crianças, disse o seguinte: “Aquele que houver estudado as
ciências rirá, então, da credulidade supersticiosa dos ignorantes. Não mais
crerá em espectros e fantasmas. Não mais aceitará fogos fátuos por espíritos”.
Entretanto, em 1855, após assistir aos
fenômenos mediúnicos, manifestados por duas adolescentes, na casa da Sr.ª Plainemaison,
admitiu que a realidade visível é complementada pela do invisível aos nossos
sentidos normais, que somente os médiuns podem captar, embora, de um modo
geral, todos sejamos médiuns, seja por meio dos sonhos, da intuição ou dos
fenômenos chamados metapsíquicos, que ele cunhou de mediúnicos.
Como as obras codificadas por Kardec só
começaram a ser publicadas, no Rio de Janeiro, em 1875, traduzidas por
Fortúnio, pseudônimo de Joaquim Carlos Travassos, somente gradativamente fui
tomando conhecimento da nova filosofia. Meus conhecimentos, a partir da década
de 1860, tinham por base as informações provindas da França, que Casimir Lieutaud,
poeta e educador francês, compartilhava comigo e que eu, conhecedor das ideias
iluministas francesas, além de leitor há décadas das Escrituras Sagradas,
buscava ironizar, mesmo quando meu amigo publicou a obra com princípios
espíritas intitulada Les temps sont arrivés.
Para mim, os tempos não tinham passado, presente ou futuro, como procurei
simbolizar no delírio de Brás Cubas,
cap. 7, então, como poderiam ser chegados?
Daí o meu lento progresso na absorção da
teoria espírita que, durante muito tempo, foi confundida com curandeiria e
cartomancia, práticas tidas como diabólicas ou de comércio do sagrado e fraudes
que tanto Moisés quanto Jesus condenavam.
Para finalizar, compartilho com a amiga
e amigo leitores uma síntese do método kardequiano, muito bem elaborada pelo
site: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/allan-kardec-espiritismo-religiao-bem-brasileira-806044.shtml:
MÉTODO
CIENTÍFICO
As principais explicações de Kardec para os fenômenos psíquicos e mediúnicos |
Fraude: O pesquisador
acreditava que os casos de truques deveriam ser sempre denunciados: “O
espiritismo só terá a ganhar com o desmascaramento dos impostores”,escreveu.
Kardec dizia que médiuns que realizam espetáculos públicos pagos deveriam ser
observados com suspeita redobrada.
|
Alucinação: O pedagogo
estabelecia critérios para diferenciar alucinações e problemas mentais em
geral de contatos legítimos com espíritos. Por exemplo: se uma pessoa escreve
mensagens em línguas que não conhece, ou se o fenômeno físico (por exemplo,
uma mesa se mexendo) foi visto por várias pessoas.
|
Influência externa: Kardec reconhecia a
possibilidade da existência de dois fenômenos psíquicos: a telepatia, que ele
chamava de “reflexo do pensamento”, e a clarividência, a percepção
extrassensorial de objetos a distância. Para ele, nenhuma das duas era
resultado de contatos com o mundo espiritual.
|
Comunicação: O contato com
almas desencarnadas só pode ser considerado quando as hipóteses de fraude,
alucinação e influência de outras pessoas tiverem sido descartadas. As
mensagens do além só poderiam ser consideradas confiáveis se fossem
espontâneas e confirmadas por médiuns que não se conhecessem entre si.
|
E assim, gradativamente, vamos saindo da
ignorância e do preconceito para a razão e o conhecimento da verdade, que o
Espiritismo esclarece residir não nessa ou naquela religião, ciência ou
filosofia, mas em Deus.
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
Como consultar as
matérias deste blog?
Se você não conhece
ainda a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele
nos propicia.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário