sexta-feira, 4 de março de 2016

É fatal o instante da morte?


Um leitor escreveu-nos o seguinte: “Uma amiga de 35 anos desencarnou em um acidente de carro. O esposo e filha sobreviveram. Esse tipo de desencarne violento tem relação com merecimento? O que significa desencarnar em um acidente de carro?”
O momento em que se dá a morte corpórea de uma pessoa, ressalvados os casos de suicídio voluntário e involuntário, está geralmente ligado à chamada programação reencarnatória.
É isso que elucida o fato, aparentemente inexplicável, de pessoas regressarem muito cedo à pátria espiritual, enquanto outras, mais idosas e às vezes muito doentes, por aqui continuam.
No acidente mencionado pelo leitor deduzimos que havia três pessoas no carro: duas sobreviveram e apenas uma desencarnou, comprovando a informação transmitida pelos instrutores espirituais na questão 853 d´O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, adiante reproduzida:

853. Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele não podeis furtar-vos.”
a) Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos?
“Não; não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência.” (O Livro dos Espíritos, 853.)

As explicações dadas pelos instrutores espirituais permitem-nos compreender por que nem todas as pessoas, embora em situação idêntica, colhem igual resultado na eventualidade de um acidente.
Existem casos em que, enquanto alguns desencarnam e outros sofrem mutilações físicas diversas, outros nada apresentam, como se não estivessem presentes no mesmo acontecimento.
Dada a importância do assunto, Emmanuel também dele tratou no livro O Consolador, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier:

146 – É fatal o instante da morte?
“Com exceção do suicídio, todos os casos de desencarnação são determinados previamente pelas forças espirituais que orientam a atividade do homem sobre a Terra. Esclarecendo-vos quanto a essa exceção, devemos considerar que, se o homem é escravo das condições externas da sua vida no orbe, é livre no mundo íntimo, razão por que, trazendo no seu mapa de provas a tentação de desertar da vida expiatória e retificadora, contrai um débito penoso aquele que se arruína, desmantelando as próprias energias. A educação e a iluminação do íntimo constituem o amor ao santuário de Deus em nossa alma. Quem as realiza em si, na profundeza da liberdade interior, pode modificar o determinismo das condições materiais de sua existência, alçando-a para a luz e para o bem. Os que eliminam, contudo, as suas energias próprias, atentam contra a luz divina que palpita em si mesmos. Daí o complexo de suas dívidas dolorosas. E existem ainda os suicídios lentos e gradativos, provocados pela ambição ou pela inércia, pelo abuso ou pela inconsideração, tão perigoso para a vida da alma, quanto os que se observam, de modo espetacular, entre as lutas do mundo. Essa a razão pela qual tantas vezes se batem os instrutores dos encarnados, pela necessidade permanente de oração e de vigilância, a fim de que os seus amigos não fracassem nas tentações.” (O Consolador, questão 146.)

O leitor perguntou também, em sua carta, o que significa desencarnar em acidente de carro. Entendemos que as condições que levam à morte corpórea de uma pessoa podem ter, sim, relação com fatos ocorridos em existências anteriores, visto que é diferente a situação produzida pela morte violenta, em comparação com a morte suave, em que a vida se esvai como uma vela que se apagasse.
Na questão 152 do seu livro, acima citado, Emmanuel comenta também o assunto:

152 – A morte violenta proporciona aos desencarnados sensações diversas da chamada “morte natural?”
“A desencarnação por acidentes, os casos fulminantes de desprendimento proporcionam sensações muito dolorosas à alma desencarnada, em vista da situação de surpresa ante os acontecimentos supremos e irremediáveis. Quase sempre, em tais circunstâncias, a criatura não se encontra devidamente preparada e o imprevisto da situação lhe traz emoções amargas e terríveis. Entretanto, essas surpresas tristes não se verificam para as almas, no caso das enfermidades dolorosas e prolongadas, em que o coração e o raciocínio se tocam das luzes das meditações sadias, observando as ilusões e os prejuízos do excessivo apego à Terra, sendo justo considerarmos a utilidade e a necessidade das dores físicas, nesse particular, porquanto somente com o seu concurso precioso pode o homem alijar o fardo de suas impressões nocivas do mundo, para penetrar tranquilamente os umbrais da vida do Infinito.” (O Consolador, questão 152.)

Embora constitua um momento doloroso a partida para o Além de um ente querido, não podemos ignorar, à luz do Espiritismo, que não ocorre perda alguma, que ninguém morre, que os afetos permanecem e que o reencontro entre as pessoas que se amam é um fato palpável e confirmado por todos aqueles que voltaram para dizer que a vida continua e que sua desencarnação não foi fruto de mero acaso.




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