quinta-feira, 17 de março de 2016

Pérolas literárias (142)


Sempre

Ciridião Durval


Tressuem(1) nossas mãos em atos de bondade
Para quem sorve o fel da amargura suprema,
Por mais a injúria espanque, oprima, fira ou brade,
Tomada de loucura em horrível dilema.

Aplaquemos em paz a torva(2) tempestade
Na alma que clama e chora e se estorce e blasfema,
Sob o visco do mal que a tudo enleia e invade,
A crescer no apogeu da invigilância extrema.

Ante as trevas em luta acirrada e tigrina,
Quando grita a revolta e a paixão tumultua,
São cascatas de luz as preces generosas.

O gesto de humildade é láurea adamantina
Dos recessos do lar à ribalta da rua,
Da Terra escurecida às grandes nebulosas!




(1) Tressuem: do verbo tressuar – suar muito, verter, trescalar.
(2) Torva: que causa terror; pavorosa, sinistra.



Nascido em Alagoas em 3/3/1860 e desencarnado em Serrinha, Bahia, em 17/8/1895, o poeta, jornalista e orador Ciridião Durval foi promotor público em Ilhéus (BA) e professor na Faculdade de Direito da Bahia. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, psicografado pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.




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