Miragens
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
O ser humano é ainda muito jovem, verdadeiro
bebê espiritual. Apareceu na Terra há 6 milhões de anos, mas o que são seis
milhões de anos para uma vida biológica surgida, no planeta, há 3,8 bilhões de
anos? E, ainda mais, a Terra foi formada por Jeová há 4,5 bilhões de anos, mas
somente de cinco mil anos para cá o homo
sapiens começou a adorar as forças da natureza, criou os totens e iniciou
aí a dança dos rituais, que continuou com o templo de Salomão e prosseguiu com
as mesquitas e os atuais templos sagrados.
Estamos, porém, num eterno vai e vem
espiritual. Inicialmente, adorávamos vários deuses. Então, os gregos e os
romanos criaram o Olimpo e ali colocaram Vênus, Saturno, Júpiter e outros
deuses, que se tornaram planetas modernamente.
Depois, surgiu Moisés e disse: “Há um só
Deus, Jeová, o Deus dos hebreus”. Cristo, porém, esclareceu à samaritana: “Deus
é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito em verdade” (Jo:
4: 24). Aparece o Espiritismo e afirma: nada existe no universo que não esteja
nas leis naturais. Deus, espírito e matéria são os três elementos do universo
(KARDEC, A. O livro dos espíritos,
questão nº 27).
Segundo a mitologia grega, um semideus foi
Hércules, que foi incumbido de realizar doze trabalhos, que mortal algum conseguiria
concluir com êxito. O primeiro deles foi matar o leão que assustava a cidade de
Nemeia. Hércules matou-o com as próprias mãos. Nisso, Sansão, personagem
bíblico, não lhe ficou atrás. Também matou um jovem leão, rasgando-o de alto a
baixo e realizou tarefas sobre-humanas, tal como Hércules.
Não vou entrar em detalhes sobre os mil
filisteus mortos por Sansão, usando como arma apenas a queixada de um jumento,
e nem direi sobre a tribo de mulheres guerreiras, com arcos e flechas,
exterminadas por Hércules. Também não vou relatar sobre as trezentas raposas
que Sansão capturou, amarrou cauda a cauda, prendeu um tição ali e tocou fogo,
lançando-as contra a seara dos filisteus para destruí-la. Tampouco direi sobre
o trabalho realizado por Hércules com o desvio de dois rios para limparem os
estábulos do rei Áugias, de três mil bois, que não eram limpos há trinta anos.
Tudo isso teria ocorrido de verdade! De uns
cinco mil anos para cá, segundo relatos da mitologia grega e da bíblia sagrada.
Talvez por isso mesmo é que o doutor em História Yuval Noah Harari (Sapiens: uma breve história de humanidade,
L&PM) tenha chegado à conclusão de que o homo sapiens, atual ser humano, é movido pela imaginação e, desse
modo, vem dominando todos os seres vivos ou não nos últimos 200.000 anos.
Mas somente há cerca de 70.000 anos para cá
é que começamos a devastar a Terra. Primeiro, naquela época, criamos a
linguagem ficcional; depois, há apenas 12.000 anos, fizemos a revolução
agrícola, e, de caçadores-coletores, passamos a ser agricultores e pecuaristas,
alimentando-nos com milhões de animais e adotando outros.
Apenas de cinco mil anos para cá, passamos a
cultuar os deuses, observando os fenômenos da natureza, que acabaram por dar
origem à mitologia. Em seguida, há cerca de 2,5 mil anos, inventamos a moeda,
que tem sido a causa da ruína de milhões de outros homo sapiens. Conquistamos a América e os oceanos, há 500 anos e
fizemos a revolução Industrial há apenas dois séculos. Com isso, temos
extinguindo em massa as plantas e os animais.
A principal conquista, porém, o ser humano
ainda não fez: a do autoconhecimento.
Desse modo, entre idas e vindas, entre o bem
e o mal, o homem caminha, sofrendo os efeitos da lei de ação e reação, até que
perceba que, somente vencendo a maldade, fruto da ignorância espiritual, poderá
ambicionar voos mais altos do espírito.
Nosso destino divino, entretanto, é o de
alcançarmos a felicidade plena, quando nos conscientizarmos de que a evolução é
a nossa eterna meta. Portanto, trabalhando incessantemente no bem e superando a
influência da matéria, é que venceremos o mal, razão de nossa infelicidade.
Ainda vivemos abraçados a miragens, e o
homem, por não ver a própria alma, acredita que tudo o que idealiza e faz é
mero produto de sua imaginação. Por isso dizia o Cristo: “São cegos a guiar
cegos”. Eis por que proponho ao leitor amigo refletir sobre o poema de Joteli:
Miragens
(autor: Jorge Leite
de Oliveira, vulgo, Joteli)
Eu tenho estranho
ser dentro de mim
Que tenta me
extinguir na tentação
E quer a minha
queda, quer meu fim
E o meu refúgio é
apenas a oração.
No entanto, às vezes
sinto-me tão frágil,
Tão sem vigor e
inseguro, tão
Desamparado e sem
apanágio
Que me sinto tomado
de aflição.
Ó Ser esdrúxulo, ó
Titã soez
Por que não me
deixas a sós de vez
Com minhas lutas
seculares, santas
Em direção aos
paramos da paz?
Mas o meu ser, que
sem resposta jaz,
Vaga em viragens por
miragens tantas.
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