sábado, 30 de abril de 2016

Contos e crônicas



Miragens

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

O ser humano é ainda muito jovem, verdadeiro bebê espiritual. Apareceu na Terra há 6 milhões de anos, mas o que são seis milhões de anos para uma vida biológica surgida, no planeta, há 3,8 bilhões de anos? E, ainda mais, a Terra foi formada por Jeová há 4,5 bilhões de anos, mas somente de cinco mil anos para cá o homo sapiens começou a adorar as forças da natureza, criou os totens e iniciou aí a dança dos rituais, que continuou com o templo de Salomão e prosseguiu com as mesquitas e os atuais templos sagrados.
Estamos, porém, num eterno vai e vem espiritual. Inicialmente, adorávamos vários deuses. Então, os gregos e os romanos criaram o Olimpo e ali colocaram Vênus, Saturno, Júpiter e outros deuses, que se tornaram planetas modernamente.
Depois, surgiu Moisés e disse: “Há um só Deus, Jeová, o Deus dos hebreus”. Cristo, porém, esclareceu à samaritana: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito em verdade” (Jo: 4: 24). Aparece o Espiritismo e afirma: nada existe no universo que não esteja nas leis naturais. Deus, espírito e matéria são os três elementos do universo (KARDEC, A. O livro dos espíritos, questão nº 27).
Segundo a mitologia grega, um semideus foi Hércules, que foi incumbido de realizar doze trabalhos, que mortal algum conseguiria concluir com êxito. O primeiro deles foi matar o leão que assustava a cidade de Nemeia. Hércules matou-o com as próprias mãos. Nisso, Sansão, personagem bíblico, não lhe ficou atrás. Também matou um jovem leão, rasgando-o de alto a baixo e realizou tarefas sobre-humanas, tal como Hércules.
Não vou entrar em detalhes sobre os mil filisteus mortos por Sansão, usando como arma apenas a queixada de um jumento, e nem direi sobre a tribo de mulheres guerreiras, com arcos e flechas, exterminadas por Hércules. Também não vou relatar sobre as trezentas raposas que Sansão capturou, amarrou cauda a cauda, prendeu um tição ali e tocou fogo, lançando-as contra a seara dos filisteus para destruí-la. Tampouco direi sobre o trabalho realizado por Hércules com o desvio de dois rios para limparem os estábulos do rei Áugias, de três mil bois, que não eram limpos há trinta anos.
Tudo isso teria ocorrido de verdade! De uns cinco mil anos para cá, segundo relatos da mitologia grega e da bíblia sagrada. Talvez por isso mesmo é que o doutor em História Yuval Noah Harari (Sapiens: uma breve história de humanidade, L&PM) tenha chegado à conclusão de que o homo sapiens, atual ser humano, é movido pela imaginação e, desse modo, vem dominando todos os seres vivos ou não nos últimos 200.000 anos.
Mas somente há cerca de 70.000 anos para cá é que começamos a devastar a Terra. Primeiro, naquela época, criamos a linguagem ficcional; depois, há apenas 12.000 anos, fizemos a revolução agrícola, e, de caçadores-coletores, passamos a ser agricultores e pecuaristas, alimentando-nos com milhões de animais e adotando outros.
Apenas de cinco mil anos para cá, passamos a cultuar os deuses, observando os fenômenos da natureza, que acabaram por dar origem à mitologia. Em seguida, há cerca de 2,5 mil anos, inventamos a moeda, que tem sido a causa da ruína de milhões de outros homo sapiens. Conquistamos a América e os oceanos, há 500 anos e fizemos a revolução Industrial há apenas dois séculos. Com isso, temos extinguindo em massa as plantas e os animais.
A principal conquista, porém, o ser humano ainda não fez: a do autoconhecimento.
Desse modo, entre idas e vindas, entre o bem e o mal, o homem caminha, sofrendo os efeitos da lei de ação e reação, até que perceba que, somente vencendo a maldade, fruto da ignorância espiritual, poderá ambicionar voos mais altos do espírito.
Nosso destino divino, entretanto, é o de alcançarmos a felicidade plena, quando nos conscientizarmos de que a evolução é a nossa eterna meta. Portanto, trabalhando incessantemente no bem e superando a influência da matéria, é que venceremos o mal, razão de nossa infelicidade.
Ainda vivemos abraçados a miragens, e o homem, por não ver a própria alma, acredita que tudo o que idealiza e faz é mero produto de sua imaginação. Por isso dizia o Cristo: “São cegos a guiar cegos”. Eis por que proponho ao leitor amigo refletir sobre o poema de Joteli:

Miragens

(autor: Jorge Leite de Oliveira, vulgo, Joteli)

Eu tenho estranho ser dentro de mim
Que tenta me extinguir na tentação
E quer a minha queda, quer meu fim
E o meu refúgio é apenas a oração.

No entanto, às vezes sinto-me tão frágil,
Tão sem vigor e inseguro, tão
Desamparado e sem apanágio
Que me sinto tomado de aflição.

Ó Ser esdrúxulo, ó Titã soez
Por que não me deixas a sós de vez
Com minhas lutas seculares, santas
Em direção aos paramos da paz?

Mas o meu ser, que sem resposta jaz,
Vaga em viragens por miragens tantas.





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