sexta-feira, 22 de abril de 2016

Correio mediúnico



Notícias de Bezerra

Irmão X

Conta-se que Bezerra de Menezes, o denodado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente quanto à maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo.
Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material. Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção a documentários diversos, propriedades e promoções.
Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados, porém fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais.
Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis? Não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? Não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?
Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antonio, desencarnado em Pádua, no ano de 1231. O herói admirável da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo.
Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-lo. A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo. O santuário, dedicado ao popular taumaturgo, regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava, sustentando a imagem de Jesus Menino.
O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembleia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições. Suplicava-se a Antonio casa e comida, dinheiro fácil e saliência política, matrimônio e proteção. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguição e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos.
O amigo e benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem humorado, ao evangelizador brasileiro:
– Observaste atentamente? As petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé.
Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje, entretanto procuram-me através da oração, por meirinho comum ou por advogado casamenteiro...
E, por que Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu:
– Nosso problema, no entanto, é o de instruir sem desanimar. Jesus no monte sentiu extrema compaixão pela turba desvairada, alimentando-lhe o corpo e clareando-lhe a alma obscura...
Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra.
Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado. Antonio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:
– Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo.
Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lamentar a atitude dos companheiros invigilantes, mas auxiliá-los com todo amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.




Do livro Doutrina e Aplicação, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.



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