Farinha do mesmo saco
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Joteli, vou contar-lhe uma história
interessante. Há algum tempo, uma grande família real estava com um problema
difícil de resolver. O rei, alegando problemas de saúde, abdicara em favor da
rainha.
Um dia, descobriu-se que o ex-monarca
possuía bens não declarados à Receita Federal, os quais sua imensa família
considerava ilegais e, então, contratou-se um juiz para julgá-lo e
encarcerá-lo.
— E qual foi o resultado da ação judicial
familiar, meu caro Bruxo?
— Sobrou para a rainha, que tentou nomear
seu companheiro como ministro da justiça e o caso foi parar no Supremo Tribunal
Federal (STF). Alegou-se que a monarca cometera uma farsa, a fim de que o
marido obtivesse foro judicial privilegiado. A decisão da Corte Maior foi a
seguinte: nem o ex-rei poderia ser ministro, nem a rainha deveria permanecer no
cargo, embora esta mantivesse seus direitos políticos e patrimônio público, em
virtude da interpretação do artigo constitucional ter sido confundida por uma
vírgula...
— Mas não havia vírgula no artigo, ó grande
guru!
— Se não havia, alguém a colocou lá, para
confundir o presidente do Supremo... Depois disso, novo rei assumiu o poder e,
como tinha um amigo muito influente ameaçado de ser preso, criou um ministério
e o nomeou ministro.
— Já sei o que aconteceu, Machado, ele
também foi impedido pelo STF de exercer o cargo, por estar sendo investigado
por lavagem de dinheiro etc.
— Negativo, Joteli, retiraram a vírgula do
texto constitucional, acrescentada ilegalmente, que possibilitou sua nomeação.
Mas vou aproveitar para contar-lhe o que levou esse político a tão elevado
conceito. O atual monarca, que diminuíra o número de ministérios do governo,
alegando desperdício do erário, viu exagero em sua própria conduta e, desse
modo, criou o “Ministério da Agricultura”, para o qual nomeou o amigo...
— Vá lá, chefe, termine logo a história e
acabe com minha ansiedade, uma vez que meu nutricionista me passou um regime à base de farináceos...
— Aconteceu que o amigo, agora ministro,
vendia farinha, proveniente de sua grande fazenda, aos súditos do rei. Esse
produto era comercializado em dois armazéns situados um à esquerda, outro à
direita do Paço Imperial. No início, a maioria dos compradores pensava que o
produto do armazém da direita fosse melhor que o da esquerda... Um dia, porém,
os clientes perceberam que estavam sendo logrados, pois a farinha de ambos os
armazéns era da mesma qualidade, embora tivesse preços diferentes. Por isso, o
agora “ministro” fora processado, mas, como diz o ditado: “Aos amigos do rei,
tudo...”, esse político virou ministro da Fazenda e continua fazendo das
suas...
— Sabendo disso, não compro mais farinha
provinda desse ministério, meu caro Bruxo, pois é tudo farinha do mesmo saco...
Vou propor ao meu nutricionista mudança de regime...
— Não sei não, Joteli... atualmente,
mudança de regime só será possível
com a troca dos políticos atuais desta república de bananas.
— Agora entendi, Machado, o que você quis
dizer em sua crônica de 5 de março de 1867: “[...] eu peço aos deuses (também
creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia
seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o Sol jamais
alumiou...”
— Pois é, há exatos 150 anos. Mude seu regime,
amigo; mude seu regime com urgência!
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