sábado, 19 de agosto de 2017

Contos e crônicas



As rosas de santa Isabel


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Uma das mulheres mais extraordinárias que já houve na Terra é santa Isabel. Ela viveu nos séculos XIII e XIV d.C. e sua história é narrada em Isabel de Aragão, a rainha médium, publicada pela editora O Clarim, de São Paulo. Essa obra foi psicografada por Valter Turini e ditada pelo espírito Monsenhor Eusébio Sintra. Recomendo aos teóricos literatos esse romance mediúnico com fulcro em fatos históricos registrados nos arquivos da Igreja Católica.
Vou comentar um pouco sobre a vida dessa rainha, que sempre afirmava ter recebido de Deus um trono para fazer caridade, mas o bom mesmo é ler o livro que citei acima.
Não relatarei todos os fatos extraordinários manifestados por Isabel, pois os céticos rir-se-ão disso, como ocorre com tudo aquilo que não presenciaram nem compreendem. Mas o fenômeno Isabel de Aragão está registrado nos arquivos da Santa Sé. Isabel era católica e passava grande parte de seu dia orando no oratório do castelo de São Jorge, em Portugal, onde a família real residia. Para a Igreja, seus dons mediúnicos eram milagres de uma santa.
A rainha era riquíssima e doava verdadeiras fortunas à Igreja e conventos no seu reinado. Casou-se com Dom Dinis, o rei poeta cujas composições literárias fazem parte do cancioneiro trovadoresco medieval.
No capítulo 23 do citado livro, Isabel diz a sua dama de honra, Ximena, que certas “situações [...] esbarram no sentido lógico das coisas”. Ao que esta lhe pergunta: “— O quê, por exemplo, senhora?”
A resposta foi a seguinte: “— As gritantes diferenças a ocorrerem entre as condições das criaturas neste mundo [...]. Por que uns poucos tão ricos, a deterem todas as facilidades deste mundo, enquanto outros nascem para penar, a chafurdarem na mais negra miséria?... Ou ainda, a inteligência brilhante, perante a idiotia mais consistente?”.
A rainha faz ainda algumas considerações, concluindo que um “pai justo e bom”, como Deus, não discrimina seus filhos, favorecendo mais a um do que a outro. Tal modo de pensar é perfeitamente coerente com a lucidez racional de Isabel, que conhecia e praticava os ensinamentos de Jesus como ninguém, em sua época.
No capítulo anterior aos nossos comentários acima, aconselhando Dom Dinis, que se encontrava em disputa pelo poder com seu filho Afonso, a rainha diz-lhe, com profunda sabedoria: “A prática do mal exaure-nos, mina-nos as forças!... A vivência do amor, entretanto, fortalece-nos!... Pena a humanidade ainda desconhecer tal procedimento!...”
Tendo o poder mediúnico da materialização, Isabel de Aragão estava sendo vigiada por Dom Dinis, que sempre fora condescendente com sua prática da caridade, mas, então idoso, proibira-a de sair pelas ruas do reino distribuindo pães e dinheiro, o que Isabel sempre fizera, mesmo porque ela era herdeira de grande fortuna. Desse modo, toda a caridade feita pela rainha tinha por base seus próprios recursos.
Certo dia, pela manhã, quando não era tempo de rosas, Isabel, ao sair em socorro dos pobres, foi surpreendida pelo esposo, que lhe perguntou o que ela levava sobre o manto. Sua resposta foi de que se tratava de rosas, embora todas as suas damas de companhia soubessem que ela levava pães, às ocultas do rei, para distribuição aos pobres do local.
Dom Dinis então pede-lhe: “— Deixe-me vê-las”.
Para espanto do rei e de todos que a acompanhavam, Isabel abre seu manto e dali sai grande quantidade de rosas. Apenas rosas.
Pena que nossa sociedade, em especial, políticos, gestores públicos e privados só tardiamente percebam a atuação inexorável da lei de causa e efeito. E esta materializará, sob o manto da consciência culpada, em vez de rosas, apenas espinhos.






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