Ensaio vespertino de um dia de inverno
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Observo
o caminhar da tarde. A imagem deste momento é a do mar. Não está bravo, tão
tranquilo também não. Esta região é sempre muito fria, norte da Europa.
A cama
me recebe o corpo para o descanso vespertino. No frio, não se fica com tanta
disposição quanto no verão. Do meu quarto, posso apreciar o mar, como mencionei
há pouco, mas também o céu azulado, as muitas aves, a espuma da onda quebrada.
Através
do vidro, em quadrados, também vejo um pouco do meu reflexo, suave reflexo. E
meu pensamento escapa por aquela janela com vidros fechados. Mas agora meu
corpo permanece sentado, coberto e imóvel na cama confortável.
Liberdade
maravilhosa que nos é concedida. “Tudo posso por meio das criações”, isso eu me
dizia. Nem sempre concretizei em matéria, mas energeticamente, fantásticas
realizações tornaram-se vivas por meio do pensamento, razão do ser humano.
Em tão
poucos minutos fui a tantos lugares, revi várias pessoas: as que amo e também
as que ainda devo amar. Senti tristeza pelas palavras não muito coerentes que
proferi em certas vezes; porém, alegria nos inúmeros abraços que distribuí ao
longo de sete décadas e meia.
Quantas
ocasiões se vivenciam e quantas e quantas já vivenciei! Tantos atos melhores
poderiam ter sido reais, no entanto, no tempo em questão, junto da razão está a
emoção.
E agora
o sol começa a desaparecer. Ainda estou aqui e se não me engano, já aprecio
esta imagem há quase uma hora e meia. Agora continuarei, pois em alguns minutos
será o horário do meu chá, aguardarei.
Sem
perceber, soltei o livro que estava lendo. Deitou-se no meu colo. Perante a
vida, qualquer concorrente leva prejuízo na comparação. Certa vez escrevi a
seguinte frase: “Várias são as formas para dizer sobre a vida”. E de fato é
isso. Mais uns minutos chegaram e se foram. É hora de fazer a refeição da
tarde. Com calma, levantei-me da cama, calcei os chinelos confortáveis de
inverno e fui no compasso tranquilo que a idade me permite.
Senti a
casa grande naquele dia, talvez fosse pela ausência dos meus amores, no
entanto, todos estão bem, mas não, presentes. Cada ser tem seu curso
necessário.
Preparei
minha refeição e olhei para fora; o mar me observava. Sentei-me à mesa na
cozinha mesmo. A mão esquerda repousava na própria mesa e a direita aproveitava
para levar a caneca com chá bem quente até a boca.
E assim
me senti com a reunião de todos os meus acontecimentos ao longo da vida, tudo o
que ainda não acertei e também o que melhor fui capaz de fazer.
Um breve
segundo a distrair-me com minha lembrança e no repouso de minha alma em paz,
quase uma hora se passou e eu sentada para a refeição. O mar estava lá com seu
curso espumante.
O céu
agora não era mais tão claro, a não ser pelas incontáveis estrelas que residem
nesse infinito.
E eu
aqui me encontro por tudo vivido, feliz… feliz… porque o tempo nos é generoso
tanto para as oportunidades quanto, em muitos casos, para o breve sofrimento.
Tudo, um dia, se finda.
Recolho,
então, a xícara vazia e sacudo a toalha com os farelos de pão acomodados. Em
minha companhia continuo.
E a vida
é a razão de todo andamento no fabuloso Universo que somente Deus poderia
criar.
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