O Cristo ante a crítica do mundo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Ante o momento atual da vida na Terra,
é sempre oportuno refletir sobre o que nos dizem os Espíritos amigos quanto ao
julgamento dos homens na indumentária carnal. Desse modo, escolhemos uma, para
nossa reflexão, dentre as milhares de mensagens que os bons Espíritos nos vêm
transmitindo, ao longo desses últimos 161 anos, após a compilação das 1.019
questões selecionadas por Allan Kardec sob a coordenação do Espírito Verdade:
Apontamentos
do Ancião
Em face dos aborrecimentos que lhe
fustigavam o espírito, ante a opinião pública a desvairar-se em torno de sua
memória, humilde “jornalista morto” ouviu sereno ancião, que lhe falou com
sabedoria:
— Quando Jesus transformou a água em
vinho, nas bodas de Caná, os maledicentes cochicharam, em derredor:
— Que é isto? um messias, incentivando
a embriaguez?
Mais tarde, em se reunindo aos pescadores
da Galileia, a turba anotou, inconsciente:
— É um vagabundo em busca de pessoas
tão desclassificadas quanto ele mesmo. Por que não procura os principais?
Logo às primeiras pregações, a chusma
dos ignorantes, ao invés de reconhecer os benefícios da Palavra Divina,
comentou, irreverente:
— É insubmisso. Vive sem horários, sem
disciplinas de serviço.
À vista da multiplicação dos pães e dos
peixes, a massa não se comoveu quanto seria de esperar. Muita gente perguntou,
franzindo sobrancelhas:
— Como? um orientador sustentando
ociosos?
Limpando as feridas de alguns lázaros
que o buscavam, afirmou-se, em surdina:
— Vale-se da insensatez dos tolos para
impressionar!
E quando o viram curar um paralítico,
no sábado, consideraram os inimigos gratuitos:
— Agride publicamente a Lei.
Por aceitar a consideração afetuosa de
Maria de Magdala, murmuraram os maledicentes:
— É desordeiro comum. Não consegue nem
mesmo afivelar a máscara ao próprio rosto, dando-se à companhia de vil
criatura, portadora de sete demônios.
Ao valer-se da contribuição de nobres
senhoras, qual Joana de Cusa, no desdobramento do apostolado, soavam
exclamações como estas:
— É um explorador de mulheres piedosas!
Vive do dinheiro dos ricos, embora passe por virtuoso!
Porque se demorasse alguns minutos,
junto de publicanos pecadores, a fim de ensinar-lhes a ciência de renovação
íntima, acusavam-no, sem compaixão:
— É um gozador da vida como os outros!
Se buscava paisagens silenciosas para o
reconforto na oração, gritava-se com desrespeito:
— Este é um salvador solitário,
orgulhoso demais para ombrear com o povo.
Como se aproximasse da samaritana, com
o propósito de socorrer-lhe a alma, indagou-se com malícia:
— Que faz ele em companhia de mulher
que já pertenceu a vários maridos?
Atendendo às súplicas de um centurião
cheio de fé, a leviandade intrigou:
— É um adulador de romanos desbriados.
Visitando Zaqueu, escutou apontamentos
irônicos:
— É um pregador do Céu que se garante
com os poderosos senhores da Terra…
Abraçando o cego de Jericó, registrou a
inquirição que se fazia ao redor de seus passos:
— Que motivos o prendem a tanta gente
imunda?
Penetrando Jerusalém, no dia festivo, e
impossibilitado de impedir o regozijo de quantos confiavam em seu ministério,
afrontou sentenças sarcásticas:
— Fora com o revolucionário! Morte ao
falso profeta!…
Censurando o baixo comercialismo do
grande Templo de Salomão, dele disseram abertamente:
— É criminoso perseguidor de Moisés.
Levantando Lázaro no sepulcro, gritavam
não longe:
— É Satanás em pessoa!…
Reunindo os companheiros na última
ceia, para as despedidas, e lavando-lhes os pés, observaram nas vizinhanças do
cenáculo:
— É pobre demente.
Ao se deixar prender sem resistência,
objetou a multidão:
— É covarde! comprometeu a muitos e
foge sem reação!
Recebendo o madeiro, berraram-lhe aos
ouvidos:
— Desertor! pagarás teus crimes!
No martírio supremo, era apostrofado
sem comiseração:
— Feiticeiro! de onde virão teus
defensores? Torturado, em plena agonia, ouviu de bocas inúmeras:
— Salva a ti mesmo e desce da cruz!
E antes que o cadáver viesse para os
braços maternos, trêmulos de angústia, muita gente regressou do Gólgota,
murmurando:
— Teve o fim que merecia, entre
ladrões.
O velhinho fez intervalo expressivo e
ajuntou:
— Como sabe, isto aconteceu com Jesus
Cristo, o Divino Governador Espiritual do Planeta.
Sorriu, afável, e rematou:
— Endividados como somos, que devemos
aguardar, por nossa vez, das multidões da Terra?
Foi, então, que vi o pobre escritor
desencarnado exibir uma careta de alegria, que se degenerou em cristalina e
saborosa gargalhada…
(Pelo Espírito Irmão X. Do livro Luz Acima, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.)
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