Guerra e Paz...
JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Disse
o Cristo: “Não pensem que vim trazer paz à Terra. Não vim trazer paz, mas
espada. Com efeito, vim causar divisão entre o filho e seu pai, entre a filha e
sua mãe e entre a nora e sua sogra. Então, os inimigos do homem serão os da sua
própria casa” (Mateus 10: 34-36).
Como
é sabido, os primeiros cristãos, por vezes, como ainda hoje ocorre, precisaram
despojar-se das coisas materiais, até mesmo dos próprios familiares que não
aceitavam a Boa-Nova. Também seriam perseguidos pelos romanos e judeus,
representados pelos fariseus. Os primeiros, por não aceitarem que seus deuses,
símbolos do poder e da glória, habitantes do Olimpo, fossem substituídos pela
ideia de um Deus único, mais poderoso do que todas as suas divindades. Os
segundos, por rejeitarem a concepção de que seu Deus da guerra, poderoso
exterminador dos pagãos, fosse substituída
pela noção de um Senhor que combatesse o ódio com o amor e a guerra com a paz...
Os
judeus acreditavam que o Deus anunciado pelos profetas, há milênios, era
exclusivo de seu povo. Um Deus guerreiro, a quem deveriam adorar e temer. Por
estar à frente de todas as batalhas, derrotaria todos os seus inimigos, desde
que lhe fosse prestada obediência total.
Desse
modo, imaginavam que seu Deus lhes enviaria um poderoso Messias, exterminador
de todos os povos pagãos, por não serem de sua raça nem crença. Embora o Decálogo
recomendasse não matar, eles estavam sempre em guerra contra os pagãos e ainda
eram fratricidas, pois havia mortes por dissensões nas interpretações
religiosas entre seu próprio povo. Quando aparece Jesus, pregando o amor e o
perdão, recomendando não resistir ao mal e amar os próprios inimigos,
consideram sua doutrina abominável, típica dos fracos e covardes.
E
os que adotassem o novo entendimento sobre as leis de um Deus que é amor e não
ódio, paz e não guerra seriam perseguidos e entregues à sanha assassina dos
romanos imperialistas. Foi o que ocorreu com os primeiros cristãos,
transformados em tochas vivas, amarradas aos postes de suplício, atirados às
masmorras infectas das prisões, degolados e devorados por feras, no circo
romano, para gáudio desse povo cruel.
O
tempo correu, o Cristianismo, após Constantino tê-lo legalizado, passou a ser
considerado a religião do Estado por Teodósio, no século IV, e as Sagradas Escrituras
tornaram-se lei para todos os povos do Ocidente e do Oriente. Sua leitura e hermenêutica,
entretanto, era prerrogativa dos sacerdotes católicos. Os que ousassem
interpretá-las eram considerados hereges e inimigos a serem neutralizados, após
processos nefandos e torturas inomináveis, tão cruéis quanto as sofridas pelos
primeiros cristãos. Estava instituída a Igreja Católica Apostólica Romana.
Daí
surgir a “Santa Inquisição”, que também condenaria os hereges às masmorras
infectas e à morte nas fogueiras. Muitos mártires, como João Huss e Joana d’Arc,
foram considerados endemoniados, e seus corpos arderam no fogo cruel da nova
Igreja, que, desse modo, julgava estar preservando de ataques demoníacos o
Evangelho do Cristo, repleto de parábolas e de sentido simbólico, que não
souberam interpretar.
No
século XVI, as cobranças abusivas de dízimos pelos pais da Igreja, além da
proibição do povo leigo de ler e interpretar a Bíblia, despertou, no sacerdote
Martinho Lutero, a revolta e a criação de uma nova igreja, a Luterana, que deu
origem a diversas outras igrejas protestantes. Cada uma interpretava a seu modo
as palavras do Cristo...
A
ele, seguiu-se Calvino, que, em seu zelo e radicalização de hermenêutica
exclusiva das escrituras, foi responsável pela condenação e morte de quantos
divergissem de certos dogmas. Um deles, até hoje tido como certo por alguns
evangélicos, é o da salvação pela fé somente. Quem se arrepender e confessar
seus pecados terá a vida eterna. Outro é o de que todos somos frutos do pecado
original e nele morreremos. Porém, muitos cristãos sinceros e cheios de fé
foram torrados nas fogueiras apenas por discordarem de certos princípios
bíblicos.
A
Igreja Católica, por sua vez, instituíra seus dogmas, e ai de quem se opusesse
a eles. Criara-se a trindade universal, no século IV, sem fundamento na Bíblia;
o papa e seus antecessores foram considerados infalíveis, em 1870, ainda que
desmentidos pela ciência... Com tanta contradição, não é de admirar que a crença em Deus e na
imortalidade da alma tenha esfriado no mundo desde o século XVIII.
A
profecia crística realizava-se, ao longo de séculos de guerras religiosas, mais
exterminadoras do que diversas lutas políticas. As famílias se dividiam por
questões de interpretações religiosas ou por não crerem em mais nada que
dissesse respeito à vida espiritual. Desse modo, pais se opunham a filhos, filhas
a suas mães... Entretanto, a divisão começava na casa religiosa. Era a da
intolerância às ideias hereges e o prosseguimento das lutas religiosas,
que tantas mortes provocaram em nome de um Cristo e de um Deus, cuja Lei Maior
sempre fora a do Amor.
Muitos
desses seres humanos, perseguidos em nome de um profeta que passou sua
existência entre nós pregando a tolerância, o perdão e o amor, ao
desencarnarem, formaram verdadeiras legiões do mal. Ali, prega-se o ódio, a
vingança, combate-se Deus e Jesus, que consideram seus inimigos eternos, por não
os terem defendido contra aqueles que se diziam seus representantes na Terra.
Esses
espíritos revoltados, cujos martírios tiveram sua razão de ser, não no fato de
interpretarem de modo diverso as Escrituras Sagradas, mas por serem trânsfugas
da Lei de Deus, em passado remoto, anterior às suas últimas existências
físicas, estão tendo oportunidade de abandonarem o mal. Isso ocorre tanto pelo
seu socorro e esclarecimento nas reuniões mediúnicas, como também pelo apelo do
mundo espiritual, que jamais violenta nosso livre-arbítrio, no seu despertar para
o bem.
Cumpre-se,
assim, o alerta do Cristo, cujo tempo é diverso do nosso, como o é o tempo de
Deus, nosso Pai eterno, que apenas nos exige, para vivermos em paz e sermos
perfeitos, a guerra contra nosso orgulho, nosso egoísmo e nossa ambição pelo
poder, que residem dentro de nós, assim como o seu Reino: “Embainhe sua espada,
pois quem matar pela espada, pela espada morrerá” (Mateus, 26:52).
Como consultar
as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique
neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como
utilizá-lo.
|
É isso, até Pedro confundiu-se com as palavras simbólicas de Jesus, do início desta crônica, por entender que Jesus teria vindo combater a violência com a violência, mas após a cena do horto, em que o Mestre cura a orelha de Malco, que Pedro havia cortado, e lhe recomenda guardar a espada, pois quem com ela fere, por ela será ferido, Pedro começou a entender que Jesus viera consolidar a Lei do Amor divino e não a violência, fruto da ignorância, que traz para o violento duras consequências.
ResponderExcluir