A morte e os
seus mistérios
Ernesto Bozzano
Parte 11
Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano,
conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa
expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos
chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que fatos compõem o segundo caso relatado na monografia?
B. Quem foi a protagonista dos fenômenos citados?
C. Além das impressões de fogo, o Espírito se manifestou de
outras maneiras?
Texto para
leitura
157. Caso II - Este outro caso, que extraio da monografia
do Sr. Zingaropoli, da qual fiz alusão anteriormente, refere-se a impressões de
mãos de fogo que estão guardadas ainda no convento das religiosas de Santa
Clara, de Todi, na Úmbria.
158. Escreve o Sr. Zingaropoli: "O Padre V. Jouet,
Missionário Apostólico, fundou em Roma (Lungo-Tevere Pratt 12) um museu de
coisas de além-túmulo. Apresenta aos seus visitantes preciosos objetos e
documentos relativos a diferentes manifestações de mortos. Possui centenas de
gravuras de épocas diversas, quadros e livros antigos. A parte, porém, mais
curiosa da coleção em questão consiste nas fotografias de impressões de mãos de
fogo, coleção que, diz ele, aumenta cada dia. Várias dessas figuras,
acompanhadas de artigos destinados a ilustrá-las, são reproduzidas na revista
mensal O purgatório visitado pela
caridade dos fiéis. O número de abril de 1908, pág. 114, trata das famosas
impressões de mãos de fogo que estão guardadas no convento da Santa Clara, de
Todi. A protagonista do memorável fato foi Clara Isabel Fornari, nascida em
Roma, a 25 de junho de 1637, abadessa do convento de Santa Clara, de Todi,
morta em 1744, com cheiro de santidade. O processo de beatificação se acha em
andamento; ela já é ‘venerável’.”
159. O Padre V. Jouet expôs assim as impressões de sua
visita a esse convento: "Sexta feira, 17 de julho de 1901, tivemos a
consolação de parar em Todi, província de Perúgia, no convento das irmãs
clarissas, onde se santificou, há cerca de dois séculos, a venerável Clara
Isabel Fornari, cujos numerosos milagres lhe valeram processo de beatificação e
canonização junto à Santa Congregação de Roma. Com uma carta de recomendação de
Sua Eminência, o Cardeal José Vives y Tuto, ao Monsenhor Rudolfi Bispo de Todi,
pudemos ver com nossos próprios olhos e segurar com nossas próprias mãos, entre
outras relíquias e outras lembranças preciosas, os traços ainda distintos e
intactos que deixaram, em objetos e roupas da venerável Clara Isabel Fornari,
as mãos de fogo do falecido Reverendo Padre Panzini, abade clivetano de Mântua,
alguns minutos antes de ser liberto do Purgatório. A reverenda Madre Clara
Isabel Patrizi, atual abadessa do convento, depois de ter admirado algumas
fotografias reproduzidas em nossa revista, permitiu-nos amavelmente fotografar,
pela primeira vez, depois de 170 anos de existência, esses documentos de tão
alto interesse para o nosso ‘Museu de além-túmulo’ e para nossa associação
pia.”
160. Segundo o Padre Jouet, a tábua de madeira, na qual o
defunto deixou a marca de fogo de sua mão esquerda e traçou, com o polegar da
mão direita, uma cruz de fogo, servia à venerável irmã Clara Isabel para a
preparação das imagens em cera do Menino Jesus. A folha de papel, com a
impressão de fogo da mão esquerda do morto, está encerrada entre duas placas de
cristal. O relatório escrito pelo confessor Padre Isidoro Gazale, abade do
Santíssimo Crucifixo, bem no dia do próprio acontecimento, foi transcrito das
duas páginas do registro em que são narrados os "milagres" da
venerável.
161. Eis o teor do relatório escrito pelo Padre Gazale: “A
Irmã Clara Isabel Fornari recebera de mim, Padre Isidoro Gazale, abade do
Santíssimo Crucifixo, seu confessor ordinário, ordem de se oferecer pela alma
do falecido Padre Panzini, abade de Mântua. Tinha ela, nestes últimos dias,
suportado grandes abandonos e outros grandes sofrimentos que o Senhor lhe
enviara para aliviar e libertar essa alma que sofria atrozmente no Purgatório.
Nessa mesma manhã, quando essa mesma irmã padecia outros sofrimentos, obteve do
Senhor enviar essa alma ao Paraíso, no momento justo em que se celebrava para
ela a Santa Missa. Disse à Irmã Clara Isabel que desejaria que alguns dos meus
amigos falecidos, que ela havia visto subir para o Céu, me dessem um sinal,
assim como acontecera ao Padre Pio Crivello, seu antigo diretor de consciência.
Com efeito, o irmão desse eclesiástico deixara na Irmã Clara Isabel o sinal de
sua mão ao ir para o Paraíso. Desejava que algo de semelhante se produzisse
comigo para melhor autenticar os fatos. E Deus permitiu que a alma do meu amigo
me trouxesse o consolo almejado porque ele apareceu à Irmã Clara Isabel quando
eu celebrava a Missa e muito exortou-a a sofrer, agradecendo-lhe as promessas
generosas que ela fizera em sua intenção e a mim mesmo pela celebração dos
Santos Sacrifícios. Essa alma assegurou à Irmã Clara Isabel que lhe guardaria
eterno reconhecimento porque, graças à sua intervenção, o Senhor lhe abreviara
as penas do Purgatório. Isto dizendo, colocou a mão sobre a mesinha que a Irmã
Clara Isabel tinha diante de si, para confecção das imagens do Menino Jesus em
cera e imprimiu nessa mesinha o sinal da Cruz, assim como as almas do
Purgatório têm o costume de fazer, ao passo que as almas condenadas não o fazem
nunca. De qualquer modo, a cruz e a mão ficaram gravadas na mesinha. A aparição
segurou, em seguida, Irmã Clara Isabel pelo braço e com a outra mão uma folha
de papel. Foi assim que a verdadeira mão do Abade Panzini ficou impressa no
braço, na camisa, na túnica e numa folha de papel. A mão me parece bem a do
abade; aqueles que o conheceram como eu são da mesma opinião. Não se poderia
desejá-la mais semelhante, pois é evidente que essa impressão só poderia ter
sido produzida por ele próprio. Jamais se viu uma reprodução tão semelhante ao
original. Depois disto haver feito, deixando esses sinais, essa alma evolou-se
para enviar a essa religiosa mil bênçãos do belo Paraíso. Depois que a Irmã
Clara Isabel tudo relatou, ordenei-a destacar a manga da sua túnica, assim como
a manga da sua camisa e de mas entregar, bem como a folha de papel e a mesinha.
Isto ela fez, não guardando senão para si a ferida que lhe ficou no braço em
consequência da queimadura produzida pela mão do espírito e sua cicatriz só desapareceu
quando a religiosa terminou os padecimentos, aos quais se sujeitaria para
livrar essa alma do Purgatório. Guardei os objetos em referência como atestado
da veracidade dos fatos e das sublimes graças concedidas e agradeço cada vez
mais ao Senhor a misericórdia que teve por nós, graças a essa criatura que lhe
foi agradável. Atesto por este documento, escrito do próprio punho, que tudo
isto é verdade, do que dou fé. Todi, 1º de novembro de 1732. Assinado: Padre
Isidoro Gazale Confessor.”
162. Nota-se que este caso, cuja narração acabo de
transcrever, deve ser considerado como documento de modo satisfatório,
considerando-se que o relatório foi redigido pelo próprio padre confessor da
venerável Madre Abadessa, que foi a percipiente protagonista. Acrescentemos que
ele escreveu seu relatório no próprio dia em que se produziram os fenômenos.
Outra circunstância que se faz mister considerar: as personalidades da
percipiente e do narrador são, moralmente, insuspeitáveis, o que leva
racionalmente a admitir sua boa fé absoluta. Enfim, a existência das
impressões, ainda guardadas no convento onde foram obtidas, atesta, de modo
decisivo, que não se trata de um caso de alucinação coletiva.
163. Nesse relatório encontram-se frases que demonstram que
a venerável Clara Isabel Fornari era realmente dotada de faculdades mediúnicas.
O redator escreve, com efeito, que a Madre Abadessa "tinha nestes últimos
dias padecido grandes abandonos e outros grandes sofrimentos que o Senhor lhe
ordenara suportar para aliviar e livrar essa alma que sofria atrozmente no
Purgatório”.
164. Pouco mais adiante, ele ajunta que "submetendo-se
a outros sofrimentos, ela obteve do Senhor enviar a alma ao Paraíso". Ora,
compreende-se facilmente que os abandonos que o narrador menciona correspondem
a uma sucessão de estado de "transe" e que os grandes sofrimentos
eram crises de gemidos, esses acessos convulsivos que precedem e seguem de
ordinário o sono mediúnico. Todas estas circunstâncias servem para confirmar a
autenticidade supranormal dos fatos.
165. Quanto às impressões de fogo que se obtiveram, foram,
nesse caso, excepcionalmente numerosas. Registraram-se, com efeito, as
impressões de uma mão esquerda e uma cruz numa mesinha de madeira, a impressão
de uma outra mão esquerda numa folha de papel, a impressão de uma mão direita
numa das mangas da túnica e da camisa da venerável Madre Abadessa, enfim, a
impressão ou mais precisamente a bolha que ficou gravada no braço da religiosa,
em consequência do contato da mão do fantasma.
166. Este último incidente é inteiramente análogo ao de que
tratei no caso anterior, no qual o Espírito do defunto, tendo tocado com o dedo
o braço da percipiente, uma bolha aí apareceu logo, como se fosse uma
queimadura, e a percipiente sentiu-lhe a dor, uma espécie de cozedura de carne,
como se se tratasse realmente de um contato de coisa ardente.
Respostas às
questões preliminares
A. Que fatos
compõem o segundo caso relatado na monografia?
O caso foi extraído de uma monografia escrita pelo Sr.
Zingaropoli, mencionado anteriormente por Bozzano, e refere-se a impressões de
mãos de fogo que estão guardadas até hoje no convento das religiosas de Santa
Clara, de Todi, na Úmbria. (A morte e os
seus mistérios, 2ª Monografia – Marcas e impressões supranormais de mãos de
fogo, Caso II.)
B. Quem foi a
protagonista dos fenômenos citados?
A protagonista dos fenômenos foi Clara Isabel Fornari,
abadessa do convento de Santa Clara, de Todi, morta em 1744, cujo processo de
beatificação se achava, segundo Bozzano, em andamento. Quem atestou a realidade
dos fatos foi o Padre Isidoro Gazale, confessor de Irmã Clara, cujo relatório é
transcrito neste livro. (Obra citada, 2ª Monografia – Caso II.)
C. Além das
impressões de fogo, o Espírito se manifestou de outras maneiras?
Sim. De acordo com o relatório escrito pelo Padre Isidoro
Gazale, o falecido Padre Panzini, abade de Mântua, além de deixar na médium o
sinal de sua mão, apareceu à Irmã Clara Isabel quando se celebrava a Missa e
exortou-a a sofrer, agradecendo-lhe as promessas generosas que ela fizera em
sua intenção assegurando-lhe que lhe guardaria eterno reconhecimento porque,
graças à sua intervenção, o Senhor lhe abreviara as penas do Purgatório. A
aparição segurou, em seguida, Irmã Clara Isabel pelo braço e com a outra mão
uma folha de papel. Foi assim que a verdadeira mão do Abade Panzini ficou
impressa no braço, na camisa, na túnica e numa folha de papel. (Obra citada, 2ª
Monografia – Caso II.)
Observação:
Para acessar a Parte 10 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/12/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto.html
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