sábado, 14 de dezembro de 2019





Não basta ser honesto...

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Outro dia, li interessante texto de um articulista filosófico que me fez refletir na diferença entre honestidade e integridade. A primeira, segundo ele, está relacionada àquilo que fazemos quando somos observados ou seremos avaliados. A segunda é a que se manifesta intimamente, quanto nossa opção decorre da observância criteriosa daquilo que consideramos ético. Isso passa pela coerência entre pensar e fazer, mesmo quando estamos sós.
A honestidade decorre de nossa escolha pelo que socialmente é considerado correto, mas com vistas a não sermos criticados ou penalizados por terceiros. Está ligada à personalidade, proveniente do latim “persona”: máscara. A integridade manifesta-se na coerência de nossos atos éticos, mesmo na ausência do julgamento alheio, sem qualquer expectativa de recompensa pelo que fazemos. É um acordo entre nós e Deus, atributo do espírito, cuja Lei está “escrita em nossa consciência”(1). Para o Cristão, é a fidelidade à proposta do Cristo: “Sede perfeitos, como é Perfeito vosso Pai que está nos céus” (Mateus, 5:48. Destaquei). Relaciona-se à nossa individualidade.
Para ser mais claro, nessa distinção, vou citar um caso contado por advogado amigo meu, com destacada atuação jurídica e política. Conversamos durante duas ou três horas, e uma das coisas que ele me narrou serve como motivo de reflexão ao presidente de uma gigantesca empresa pública chamada Santa Cruz, no Espírito Santo, cujo lema é: “Santa Cruz, acima de tudo; Espírito Santo, acima de todos”.
Antes de assumir a direção da empresa, seu atual presidente, ora tratado por MB, era quase desconhecido agente público federal. Trabalhava num modesto gabinete de subsidiária de Santa Cruz e pouco produzia, pois não gozava de prestígio entre seus pares. Pessoa influente na empresa citada por meu preclaro amigo, que tratarei por H, propôs-lhe conversar com MB, para que este assumisse a direção da instituição, pois MB tinha pleno conhecimento de tudo o que nela ocorria, embora sem poderes para atuar legalmente contra seus dirigentes corruptos.
Em síntese, moveu-se o mundo, para que MB saísse do anonimato e fosse eleito presidente da empresa, cuja produção de minério bruto está sendo dilapidada ao longo de décadas. Sua eleição foi um sucesso, pois milhares de famílias da empresa renovaram sua esperança em tempos melhores, com justiça social e próspera economia, além de expurgo dos maus dirigentes subalternos e funcionários corruptos.
Depois disso, meu amigo H., cuja esposa e filho são também da área jurídica, sabendo que dezenas de toneladas de NIÓBIO, minério MAIS VALIOSO DO QUE O OURO, há anos, são vendidas pela empresa a outros países ao preço de UM DÓLAR a TONELADA, foi ao gabinete do agora chefe da Santa Cruz para denunciar-lhe a monstruosa fraude e propor-lhe medida saneadora em benefício de sua empresa, cuja imensa reserva mineral vem sendo lesada por empresários inescrupulosos, que se tornaram bilionários, com base em lacuna de lei que permite classificar toda a sua rica produção simplesmente como minério.
Sua ideia, brilhante como sempre, era classificar e industrializar todos os minérios, antes que saíssem da empresa, o que multiplicaria enormemente seu preço, criaria milhares de empregos e evitaria a quebra futura da Santa Cruz. Para isso, medidas administrativas rígidas precisariam ser tomadas, além de proposta de correção das falhas da lei, com sua substituição por lei mais rigorosa.
Qual não foi a surpresa de H., quando MB lhe respondeu, quase gritando: “Você não é meu amigo. Quer que me matem?”   
Humilhado, H. e sua família afastaram-se do pusilânime defensor da grande empresa, para nunca mais ali voltar. Agora, daqui a três anos, está pensando em apoiar alguém mais preparado para lidar com os corruptos da Santa Cruz.
Conclusão, para administrar grandes empresas, não basta a máscara da honestidade, é preciso integridade moral, que também requer inteligência, coragem e coerência, além de fé verdadeira.
   
[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 621.






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