domingo, 30 de julho de 2023

 



É lícita a cremação do corpo?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Alguém nos pergunta sobre o que o Espiritismo nos diz sobre a cremação dos mortos. 

É lícita a cremação do corpo? Devemos ter algum cuidado, observar algum detalhe?

O tema cremação – que significa incineração – não foi examinado nas obras de Kardec, um fato estranhável, visto que a incineração de cadáveres humanos remonta à antiguidade e constituiu regra comum na Grécia primitiva e entre os romanos, sendo ainda hoje um costume em várias regiões do globo, como a Índia.

Não examinada por Kardec, a cremação suscitou no meio espírita posições que se contradizem.

Léon Denis, por exemplo, aponta nela uma desvantagem, pois que, extinguindo o corpo físico pela ação do fogo, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento do Espírito, sendo mesmo doloroso para as almas apegadas à Terra.

Com efeito, determinados Espíritos permanecem algum tempo imantados ao corpo material após o transe da morte, como ocorre em muitos casos de suicídio. Como o rompimento do cordão fluídico nem sempre se consuma num curto espaço de tempo, o desencarnado se assemelha a um morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continua presente e atuante. A cremação viria, assim, causar-lhe um angustiante trauma, o que equivaleria a aumentar a aflição a quem já se encontra aflito.

Ao se manifestar sobre o tema, Richard Simonetti disse que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito desencarnante, este poderá experimentar "impressões extremamente desagradáveis" se no ato crematório estiver ainda ligado ao corpo.

No mesmo sentido era a opinião de Paul Bodier, médico e escritor francês que foi também presidente da Sociedade Francesa de Estudos Psíquicos e autor de obras como “A Vida e a Morte” e “A Granja do Silêncio”. Segundo Bodier, "a incineração, tal como se pratica entre nós, é, com efeito, prematura demais". Talvez, por isso, entendia ele que a inumação – enterro, sepultamento – devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.

Dentre as manifestações sobre o tema oriundas do plano espiritual, lembremos que Emmanuel se referiu à cremação durante a exibição do programa Pinga-Fogo na TV Tupi-SP, realizado em 1971, quando – segundo depoimento de Chico Xavier – afirmou que "a cremação é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório".

Vê-se, pois, segundo o entendimento de Emmanuel, que a cremação do corpo é lícita e não fere nenhum princípio de ordem moral ou religiosa, mas dois aspectos devem ser ressaltados na manifestação a ele atribuída.

O primeiro: é preciso que o indivíduo manifeste seu desejo de ter o corpo cremado, evitando-se assim que seja essa uma decisão apenas de seus familiares, à revelia do principal interessado, que é o falecido.

O segundo: que exista um prazo mínimo de espera entre a morte do corpo e o ato da cremação, que Emmanuel fixou em 72 horas, que é um tempo razoável capaz de evitar, em grande número de casos, o trauma mencionado por Léon Denis.

 

 


 

 

 

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2 comentários:

  1. O problema não é meio que se dá ao corpo sem vida. Enterrar ou cremar é problemático quando se vive apegando-se aos valores materiais o que dificulta a desvinculação do Espírito, seja por que meio for.

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  2. Astolfo, como sempre seus estudos nos beneficiam demais, nos favorece uma escolha com segurança. Obrigada meu amigo.

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