CINCO-MARIAS
Educar pelo viés
afirmativo
EUGÊNIA PICKINA
Não há, basicamente,
em nenhum nível, uma outra educação que não seja a autoeducação. [...] Devemos
criar o mais propício ambiente para que a criança se eduque junto a nós, da
maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior. Rudolf Steiner
Não educamos a
criança somente quando lhe explicamos como escovar os dentes, comer com talher,
dizer “por favor”, pedir desculpas, arrumar a cama. Educamos também, e
ensinando o que é amor, o que é respeito, quando, na infância de nossos filhos,
deixamos de repetir frases ou sentenças antieducativas que ouvimos desde sempre
– e até mesmo de nossos pais – e que exercem sobre o ser humano um impacto
negativo.
Listei cinco frases
negativas para que evitemos despejá-las nas crianças:
“Você não faz nada direito.”
Frases negativas
bloqueiam o aprendizado do cérebro, alerta a neurociência. Em relação às
crianças, cujo cérebro está em formação, podemos/precisamos usar palavras
estimulantes para cooperar com o aprendizado, evitando usar rótulos ou palavras
que as desencorajam ou as diminuam.
“Tirou 9, mas
poderia ser 10.”
Educar aspirando a
resultados transmite à criança que ela apenas será reconhecida se for “mais”,
se ganhar prêmios e troféus. Isso alimenta pessoas ansiosas, insatisfeitas e
competitivas. Palavras positivas, que agregam e reconhecem o valor do esforço diário,
costumam levar as crianças naturalmente a alcançarem boas notas na escola.
“Você é egoísta.”
Tenho uma amiga que
me contou que desde meninazinha foi convencida a abrir mão do que queria na
infância. Ela, por isso, tem bastante dificuldade em ser firme, pois foi
ensinada a sempre ceder e fugir de conflitos. Muitos pais passam por cima da
individualidade da criança porque esperam que as pessoas vejam seu filho ou sua
filha como um exemplo de bondade. No entanto, rotular o filho de “egoísta”,
obrigando-a a ceder sempre os brinquedos – em casa, no parquinho etc. –, pode
fazer com que ele pense que sua vontade não tem importância.
“Limpe seu prato. Tem
gente que não tem o que comer.”
Quando os adultos
usam a comida como recompensa, chantagem ou punição, passam à criança uma
mensagem equivocada sobre alimentação e o momento das refeições.
Qual é a tarefa dos
pais? Oferecer alimentos variados e de qualidade, mas a quantidade a ser
consumida depende do querer da criança. Muitas crianças que foram obrigadas a
rasparem o prato na infância mais tarde enfrentaram obesidade e/ou transtornos
alimentares.
“Esta injeção não vai
doer.”
Ao mentir, ensinamos
à criança a olhar os adultos com desconfiança. Falar a verdade ajuda a criança
a treinar habilidades e a colocar em ação a coragem, apesar do medo gerado pela
situação. Injeções doem e há remédios que são amargos. De outra parte, a
confiança é algo caro na relação entre pais e filhos.
Educar uma criança é
permeado por incertezas e, por isso, é um caminho que se renova todos os dias.
Não há crianças iguais, cada uma é única. Então, o caminho da educação que
evita rótulos e sentenças negativas pode preparar melhor as crianças de hoje
para serem adultos amanhã mais estáveis e seguros, capazes de gerir as suas
emoções e investirem na autonomia sem abrir mão da cooperação.
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência
ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São
Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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