Revista Espírita de 1863
Allan Kardec
Parte 16 e final
Concluímos hoje o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1863, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1863 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que foi apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Se Elias e João
Batista são o mesmo Espírito, com qual dos corpos ele ficará no dia do juízo
final?
B. Por que Kardec,
que rejeitava o fenômeno da possessão, mudou de opinião?
C. Que fazer diante
dos ataques dos adversários desencarnados?
Texto para leitura
152. Falando ainda a
respeito da Carta Pastoral publicada pelo Bispo de Argel, Kardec faz as
seguintes considerações:
I) O Espiritismo deve
ser aceito livremente, atraindo as pessoas para si pela força de seu
raciocínio, sem jamais violentar consciências.
II) Em todas as suas
refutações, ele nunca visou os indivíduos, porque as questões pessoais morrem
com as pessoas.
III) O Espiritismo vê
as coisas mais do alto; liga-se às questões de princípios, que sobrevivem aos
indivíduos.
IV) O clero não é
unânime na reprovação ao Espiritismo. A propósito da posição do clero, Kardec
relata dois fatos bastante curiosos envolvendo dois padres favoráveis às ideias
espíritas. (PP. 360 a 363)
153. Reafirmando que
a pastoral do Bispo de Argel não conseguira deter o impulso do Espiritismo
naquela região, Kardec transcreve na Revista duas cartas que comprovam sua
informação de que os sermões virulentos concorrem mais do que se pensa para a
expansão do movimento espírita e do número de seus adeptos. (PP. 364 a 366)
154. Se Elias e João
Batista são o mesmo Espírito, com qual dos corpos ele ficará no dia do juízo
final, para se apresentar, segundo a Igreja, ante Jesus Cristo? Kardec responde
a esta questão, que fora proposta a um confrade pelo pároco de determinada
cidade. Depois de transcrever e comentar a passagem evangélica em que os
Saduceus fizeram curiosa pergunta a Jesus, a respeito da mulher que tivera sete
esposos, o Codificador esclarece que o corpo utilizado pelos Espíritos, após
sua desencarnação, é o corpo espiritual, a que Paulo se refere em sua 1ª Epístola
aos Coríntios, e não o corpo carnal, sujeito à decomposição e ao
desaparecimento. (PP. 366 a 369)
155. Paulo de Tarso –
o São Paulo dos cristãos católicos – é considerado por François-Nicolas
Madeleine precursor do Espiritismo. “Como os espíritas, e antes dos espíritas –
assevera Madeleine –, foi ele o primeiro a proclamar esta máxima que vos
constitui uma glória: Fora da caridade não há salvação!” Além disso, Paulo
descreve na carta dirigida aos Coríntios as principais faculdades mediúnicas,
que ele chama de dons abençoados do Espírito Santo. Kardec acrescenta à
comunicação os ensinamentos dados pelo Apóstolo dos gentios a respeito do corpo
espiritual – o corpo fluídico, ou perispírito, que reveste a alma, segundo nos
ensina o Espiritismo. (PP. 370 a 372)
156. Um caso de
possessão – o da senhorita Júlia – é examinado por Kardec, que aproveita o
ensejo para retificar assertiva sua, relativa à possessão, constante de suas
primeiras obras. “Temos dito – assevera o Codificador – que não havia
possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta
asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira
possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um
encarnado.” (P. 373)
157. Kardec divide as
fases de desenvolvimento do Espiritismo em seis períodos, a saber: 1º) - o da
curiosidade, caracterizado pelas mesas girantes; 2º) - o filosófico, marcado
pelo aparecimento d’ O Livro dos Espíritos; 3º) - o da luta, do qual o
auto-de-fé de Barcelona foi, de certo modo, o sinal; 4º) - o religioso; 5º) - o
intermediário, consequência natural do precedente e que receberá, mais tarde,
sua denominação característica; e 6º) - o da regeneração social, que abrirá a
era do século vinte. (PP. 377 a 379)
158. Na seção
“Instruções dos Espíritos”, Erasto, que foi na Terra discípulo de Paulo de
Tarso, adverte os espíritas a respeito das dificuldades que deveriam enfrentar –
ciladas, embustes, torturas, calúnias, na defesa dos ideais espíritas. “A hora
é grave e solene – afirma Erasto –; para trás, então, todas as mesquinhas
discussões, todas as perguntas ociosas e todas as vãs pretensões de
preeminência e de amor-próprio; ocupai-vos dos grandes interesses que estão em
vossas mãos e cujas contas o Senhor vos pedirá.” (PP. 379 e 380)
159. Erasto assina
também uma mensagem denominada “Os Conflitos”, em que afirma haver naquele
momento uma recrudescência de fenômenos obsessivos, resultado da luta que,
inevitavelmente, devem sustentar as ideias novas. “De todos os lados – diz
Erasto – surgem médiuns com supostas missões, chamados, ao que dizem, a tomar
em mãos a bandeira do Espiritismo e plantá-la sobre as ruínas do velho mundo,
como se nós viéssemos destruir, nós que viemos para construir.” “Quase todos os médiuns, em seu início, são
submetidos a essa perigosa tentação”, assevera Erasto. (PP. 381 a 383)
160. Diante da
situação por ele descrita, Erasto esclarece que todo edifício que não se
assenta sobre a base sólida da verdade cairá, porque só a verdade pode desafiar
o tempo e triunfar de todas as utopias. Os espíritas deveriam estar atentos,
portanto, não só aos ataques dos adversários vivos, mas também às manobras,
ainda mais perigosas, dos adversários desencarnados. “Fortificai-vos, pois, em
estudos sadios e, sobretudo, pela prática do amor e da caridade, e
retemperai-vos na prece. Deus sempre ilumina os que se consagram à propagação
da verdade, quando estão de boa-fé e desprovidos de toda ambição pessoal”,
disse o iluminado Instrutor espiritual, aduzindo: “Jamais julgueis uma
comunicação mediúnica pelo nome que a assina, mas apenas por seu conteúdo
intrínseco”. (PP. 383 e 386)
161. Encerrando o
número de dezembro e o volume do ano de 1863, a Revista transcreve duas
comunicações. Na primeira, Lázaro fala sobre o dever, lembrando que, se o dever
é penoso nos seus sacrifícios, o mal é amargo nos seus resultados. Essas dores,
quase iguais, têm, no entanto, conclusões muito diferentes: uma é salutar, como
os venenos que restauram a saúde; a outra é nociva, como os festins que
arruínam o corpo. Na segunda comunicação, Lamennais, reportando-se à
alimentação do homem, diz que pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a
gosto, desde que seja razoável. Os grandes sábios alimentavam-se só de frutos e
raízes. Os temperamentos naturalmente muito fortes para viver como os
anacoretas fazem bem em adotar esse regime, porque o esquecimento da carne leva
mais facilmente à meditação e à prece; mas, para viver assim, é necessário
normalmente uma natureza mais espiritualizada, o que é impossível com as
condições terrestres. (PP. 386 a 388)
Respostas às questões propostas
A. Se Elias e João Batista são o mesmo Espírito, com qual dos
corpos ele ficará no dia do juízo final?
Kardec respondeu a esta questão, proposta a um confrade
pelo pároco de determinada cidade, dizendo que o corpo utilizado pelos
Espíritos, após sua desencarnação, é o corpo espiritual, a que Paulo se refere
em sua 1ª Epístola aos Coríntios, e não o corpo carnal, sujeito à decomposição
e ao desaparecimento. (Revista Espírita de 1863, pp. 366 a 369.)
B. Por que Kardec,
que rejeitava o fenômeno da possessão, mudou de opinião?
O que o levou à
mudança de pensamento a respeito do assunto foi o caso de possessão da
senhorita Júlia, por ele examinado na Revista. “Temos dito – assevera o
Codificador – que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas
subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado
que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial,
de um Espírito errante a um encarnado.” (Obra citada, pág. 373.)
C. Que fazer diante
dos ataques dos adversários desencarnados?
Segundo Erasto, os
espíritas devem estar atentos não só aos ataques dos adversários vivos, mas
também às manobras, ainda mais perigosas, dos adversários desencarnados.
“Fortificai-vos, pois, em estudos sadios e, sobretudo, pela prática do amor e
da caridade, e retemperai-vos na prece. Deus sempre ilumina os que se consagram
à propagação da verdade, quando estão de boa-fé e desprovidos de toda ambição
pessoal”, recomendou o iluminado Instrutor. “Jamais julgueis uma comunicação
mediúnica pelo nome que a assina, mas apenas por seu conteúdo intrínseco.”
(Obra citada, págs. 383 a 386.)
Observação:
Para
acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/08/revista-espirita-de-1863-allan-kardec_01883689544.html
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