Os
sete pecados capitais e seu antídoto conforme Machado
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Há algum tempo,
Machado não me visitava os devaneios. Ontem à noite, preocupado com a revisão
duma obra literária, que espero ver publicada nos próximos dias, adormeci muito
tarde. Tão tarde, que já era hoje, pois fechei os olhos às duas horas. Foi
então que o Bruxo do Cosme Velho apareceu-me e, após as saudações iniciais
correspondidas, disse-me que gostaria de dialogar comigo sobre os sete
pecados capitais e seu antídoto capital... Agradeci-lhe a proposta e
ele começou a falar, não segundo a importância, mas na ordem alfabética de cada
um:
— A cada um desses
vícios, contrapõe-se uma virtude. Começo pela avareza. Também chamada usura,
ela é o excessivo apego ao dinheiro. Seu antídoto é a generosidade. Mas
ninguém é avaro só por ser rico e, sim, pelo apego exagerado ao que tem. A
avareza, como disse o Papa Gregório I, é mãe de sete transgressões: dureza de
coração, fraude, inquietude, mentira, perjúrio, traição e violência. É pecado
próprio do egoísta.
— Qual é o segundo
pecado, Machado? Perguntei-lhe emocionado pela alta distinção de sua visita.
— O segundo pecado é
o da concupiscência ou luxúria, ou seja, o desejo excessivo de prazeres
sensuais e de bens materiais, corrompedores dos costumes. Opõe-se a ela a castidade.
— E o terceiro,
mestre?
— Mestre, mesmo, é
Jesus Cristo, amigo Jó. O terceiro pecado de nossa lista é a gula. Seu
antídoto é a temperança. Desejo incontido por alimento e bebida, a gula
é causa de muitos males orgânicos.
— Certo, ó guru!
Vamos, então, para o quarto pecado.
— É a inveja,
desejo exacerbado pelas posses, habilidades, status, ou seja, por tudo o
que outrem possui e o invejoso não tem. Opõe-se à caridade. Ao sentir-se
mal pelo que o outro tem e ele ou ela não tem, tal pessoa não se conforma com
isso. Por isso, recomendo-lhe discrição em relação às suas posses, mesmo que
sejam ínfimas...
— Sigamos para o
quinto pecado, a ira ou cólera, certo?
— Sim, Jó. Opõe-se à paciência.
Sentimento de raiva e vontade de vingar-se, costuma impulsionar os povos aos conflitos
bélicos.
— O sexto é o orgulho
ou soberba. Já sei que o amigo vai dizer-me que seu oposto é a humildade,
não é mesmo?
— Certo. Vejo que
você se antecipa com acerto ao que lhe falaria, querido Jó. O orgulho, pior dos
pecados capitais, é tido como a fonte de todos os vícios humanos.
— Por fim, aparece a preguiça
em nossa lista, generoso mentor.
— Se não fosse Jesus,
nosso modelo e guia, que nos afirmou que o Pai trabalha, e ele também trabalha,
não teríamos a perfeita noção de quanto nos é prejudicial esse pecado, que se
opõe à diligência, ao trabalho. A moleza tem sido empecilho a que pessoas
inteligentes não prosperem. Por isso mesmo, uma de minhas frases conhecidas é a
de que o trabalho move o mundo.
Muito feliz, agradeci
a visita de Machado. Ele sorriu, despediu-se e, ao reentrar em sua nave
piramidal para partir, sugeriu-me concluir esta crônica com o poema do espírito
Maria Dolores, verdadeiro antídoto contra quaisquer pecados:
Riqueza mais alta
Dizes-te, às vezes,
pobre e sem recursos,
Que ninguém te
sorri...
Entretanto, não vês
que trazes, ao dispor,
Um tesouro de vida
superior,
Que podes espalhar,
começando de ti.
Ergue-se de teu verbo
o ensejo santo
De transmitir o bem a
quem te escuta
Exterminando o mal...
Guardas, portanto,
A magia do Céu e o
doce encanto
Da voz que estende a
paz e extingue a luta.
Tens nos olhos e
ouvidos sentinelas,
De modo a ver em ti
e, em derredor,
Os males a vencer,
rixas e bagatelas,
Na construção do bem
pelo qual te desvelas,
Em louvor do melhor.
Tens nas mãos duas
harpas prodigiosas
Capazes de entoar a
melodia
Da beleza, do amor e
da alegria,
Criando arte e
cultura, luz e rosas
Ao sol de cada dia.
Dizes-te, às vezes,
pobre e sem recursos,
Que ninguém te
sorri...
No entanto, tens
contigo, seja em qualquer lugar,
A bênção de servir e
trabalhar,
A riqueza mais alta
que já vi...
DOLORES, Maria
(Espírito). Alma e Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São
Paulo: Cultura Espírita União, 1984.
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