domingo, 13 de agosto de 2023

 



Ao nosso saudoso pai o nosso abraço, o nosso carinho, a nossa gratidão

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Quando nosso pai faleceu, em setembro de 1975, contávamos apenas 31 anos e fazia mais de 12 anos que havíamos saído de casa.

Residindo em Minas Gerais, viemos para o Paraná com o objetivo de cursar uma faculdade e ainda não tínhamos completado 19 anos de idade. No Paraná nos casamos e jamais voltamos a morar em terras mineiras.

Dizemos isso para mostrar que, em face das contingências da vida, não tivemos o privilégio de conviver um tempo maior com nossos pais. Como as pessoas próximas sabem, Anita, nossa mãe, faleceu antes que fizéssemos 6 anos. (Veja a foto abaixo.)

Recorremos, então, a trechos de um texto que uma pessoa amiga escreveu sobre ele. Intitulado Um homem obstinado, o texto fornece-nos um ligeiro perfil daquele que nos orientou e continua a orientar-nos com todo o amor e interesse ao longo de nossa atual existência.

O texto refere-se a ele como todos nós costumávamos chamá-lo: A.O., uma forma carinhosa com que designávamos nosso pai (Astolfo Olegário de Oliveira):

“A vida se encarrega de nos dar lições que nos elevam ao encontro do Pai. A.O. precisou, por longo período de sofrimentos íntimos, provar na dor a sua fé. Era um homem obstinado, que não viveu apenas pelas causas da doutrina, mas pelas causas cristãs. Poderíamos dizer que dentro e fora do Centro Espírita ou do círculo de companheiros de luta era sempre o mesmo. Severo, amigo, direto e objetivo, ríspido até, quando necessário. Sua franqueza doía nas almas sensíveis. Seu natural bom humor se alterava ao deparar com injustiças de qualquer natureza. Era politicamente correto, lutou bravamente pelo progresso e tinha liderança na alma. Sua cultura era inegável e sua sabedoria, incalculável. Não tinha a docilidade de Anita e Abel, mas boa vontade e disciplina. Sua integridade moral foi responsável pela credibilidade do seu trabalho. Orador de renome, quando falava fazia almas desencarnadas iluminar-se através de sua lógica. Fez da Fundação Espírita Abel Gomes sua segunda morada e, respeitando sempre os preceitos do antigo mestre, procurava tornar-se melhor hoje do que fora ontem. Sua trajetória é recheada por belos casos, alguns até cômicos, mas sempre de grande lição.” 

(...)

“A.O. era figura divertida demais. Com os fanáticos e apegados à prática excessiva tinha uma argumentação sempre pronta, que destruía qualquer excesso. Grande vulto, grande figura. Sempre quis conviver com ele, mas a distância entre nossas cidades era enorme. Nessa época eu já vivia em Aparecida e nem em sonho A.O. sabia de minha existência.”

(...)

“O trabalho no Porto de Santo Antônio seguia seu ritmo normal. A.O. adquiria a cada dia o tom melhor nas suas explanações. Assíduo leitor e investigador tenaz, iluminava os corações aflitos. Na Fundação Espírita Abel Gomes as meninas eram criadas e saíam somente para o casamento, tornando-se boas e prendadas donas-de-casa. Os problemas financeiros eram contornados, mas o que mais aborrecia A.O. eram as crises no meio espírita. O favoritismo, a fofoca, a indisciplina, tudo isso o preocupava. 

“No esforço de cada dia pela causa espírita, A.O. encontrou muitas amarguras. Ora um comentário malicioso, uma falsidade no próprio círculo de companheiros, ora uma cobrança de atitudes. Certos momentos foram desestimuladores para ele, um homem que gostava do desafio, mas abominava a hipocrisia. A.O., poderíamos definir como aquele de quem se tiravam até as calças, quando a causa era nobre, mas que fechava completamente o semblante para aquele que se apresentava com falsidade. Jamais admitiu o uso do Espiritismo em favor próprio e, mesmo se esforçando, custava a sorrir para aqueles que o feriam profundamente. Muitas vezes bem que tentou, mas não se muda da noite para o dia, embora controlasse bem suas emoções. Hoje, na espiritualidade, ele reconhece que deveria ter sido mais tolerante, menos exigente, pois só depois do desligamento do corpo físico compreendeu que não se pode cobrar daqueles que não se conscientizam da dívida, que valores nobres não se impõem a ninguém, que a boca professa, mas o coração nem sempre sente.”

(...)

“Hoje, na espiritualidade, conta esse episódio para ilustrar a companheiros de jornada que nós temos o péssimo hábito de julgar, de exigir. Ele mesmo reconhece que, embora em seu lar todos tenham comido do mesmo pão e sorvido os mesmos ensinamentos, muitos de seus descendentes pouco sabem da Doutrina iniciada por ele e Anita. Muitos tiveram e têm deslizes com valores e comportamentos, mas só hoje pode compreender que nada é hereditário, a individualidade escolhe o que quer ser e fazer de sua jornada. Que os preceitos são passados pelos pais, mas os valores são escolhidos pelos filhos. Não se pode exigir de um filho, um neto, o mesmo pensamento, o mesmo gosto, e, embora leiamos os mesmos livros, a interpretação é individual, o sentimento é pessoal e a maneira de ver a vida terrena e espiritual é particular. Podemos apenas dar conselhos, controlar por algum tempo, mas viver a vida do outro jamais, impor religião nunca. Exemplificar apenas.” (Do livro Memórias de Padre Vítor, primeira parte, cap. 9, obra psicografada por Ana Paula Cazetta, de autoria do Espírito de Padre Vítor Coelho.)

 

*

 

Eis aí uma pequena amostra do que foi nosso pai, que todos que o conheceram, dentro e fora do meio espírita, definiriam como um grande homem, um orador extraordinário, uma pessoa devotada aos seus ideais como maçom e espírita e que – como pudemos comprovar de perto – era extremamente generoso, adorava uma boa pescaria e exultava com as vitórias do Botafogo, seu clube de coração. Aliás, se ainda curte futebol, deve estar felicíssimo com a campanha que o time da Estrela Solitária realiza este ano.

A você, querido pai e amigo, o nosso abraço, o nosso carinho e a nossa eterna gratidão neste dia abençoado em que aqui, na crosta da Terra, festejamos o Dia dos Pais.

 

 

 

 


  

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